Camille KReprodução/David Pacheco

Rio - A atriz Camille K, uma das precursoras da cena LGBTQIAPN+ carioca, morreu nesta segunda, aos 82 anos. A informação foi divulgada através do Instagram da casa noturna "Turma Ok", local onde a artista costumava se apresentar. O velório de Camille será realizado terça-feira (13), no Crematório São Francisco Xavier, localizado no Caju, às 13h. 
"É com grande pesar que comunicamos o falecimento da estrela Camille K. Nossos sentimentos aos parentes e amigos! Camille K foi um ícone da comunidade LGBTQIAPN+ no cenário carioca e nacional. Uma grande estrela. Que ela continue brilhando em outra constelação junto das estrelas Rogéria, Jane de Castro, Marquesa, Brigitte de Búzios, Fugika de Holiday e outras", dizia o comunicado, sem divulgar a causa da morte.
Além do grupo, o historiador Rodrigo Faour também lamentou a morte da artista e aproveitou para compartilhar detalhes sobre o velório de Camille. "Hoje, aos 82, nos deixou Camille K, uma lenda do mundo LGBT carioca. Nos anos 1960, era uma figura andrógina fissurada na cantora Marlene, em quem se inspirou, e que desde muito cedo tornou-se um cabeleireiro famosíssimo, a ponto de aparecer na capa da 'Revista do Rádio' fazendo as madeixas de sua diva", iniciou ele a respeito da trajetória da atriz.
"É impossível estudar a vida LGBTI+ do Rio de Janeiro sem esbarrar no nome de Carlinhos/Camille. Hoje, qualquer 'biba' anda na rua, nos grandes centros do país, com as roupas, acessórios e a maquiagem que quiser. Camille ousava andar com roupas cheias de babados 65 anos atrás e, às vezes, tinha que se meter num táxi para ir a seu salão para não apanhar dos 'bofes' na rua – certa vez precisou ir mesmo escondida no porta-malas. Mas sempre tirou tudo de letra. Nunca abriu mão de ser e viver como se sentia bem. Nos últimos anos, vinha enfrentando problemas de saúde, mas foi uma guerreira, uma figura querida por todo mundo na comunidade. Viva Camille K e sua coragem!", finalizou Rodrigo.
Problemas de saúde e dificuldade financeira
No ano de 2023, Camille K disse, em entrevista ao DIA, que estava enfrentando alguns problemas de saúde e dificuldades financeiras. Na ocasião, a artista alegou ter parado de trabalhar após o início da pandemia de Covid-19, em 2020, e contou que logo depois foi impedida de voltar aos palcos em decorrência de uma queda, responsável por fraturar seu ombro direito. 
Em outubro do mesmo ano, a atriz ainda havia contraído uma inflamação nos pulmões após realizar um espetáculo na Tijuca, o que desencadeou alterações em sua tireoide.
Trajetória
Camille K conquistou a sociedade carioca quando ainda trabalhava em seu salão de beleza, o Carlinhos I Coiffeur, em Copacabana, na Zona Sul. Na década de 70, iniciou a carreira de atriz e ficou ainda mais popular ao se apresentar no Teatro Rival, com um espetáculo em que interpretava canções de Marlene (1922-2014), de quem Camille foi amiga e cabeleireira.
Entre os anos 1970 e 1990, atuou em diversas produções teatrais, chegando a ser dirigida por Miguel Falabella em "O Coração do Brasil", de 1992, e "A Pequena Mártir de Cristo Rei", de 1995. 
Em 2004, participou do show "Divinas Divas", ao lado de Jane Di Castro, Rogéria, Divina Valéria, Marquesa, Brigitte de Búzios, Fugika de Holiday e Eloyna dos Leopardos. O título do espetáculo também deu nome ao documentário dirigido por Leandra Leal que estreou em 2016, contando as histórias brilhantes das oito artistas pioneiras da cena LGBTQIAPN+.