96ª DP (Miguel Pereira) investiga uma denúncia de agressão cometida por um médicoDivulgação

Rio - O médico Leonardo Zacharias Mota é investigado pela Polícia Civil por agredir fisicamente a namorada durante uma briga, na madrugada de segunda-feira (4), em Miguel Pereira, no Centro-Sul Fluminense. A vítima, uma advogada da Vara da Família que preferiu não ser identificada, disse que foi arremessada com força em cima de um frigobar durante uma discussão. A mulher realizou exame de corpo de delito, onde ficou comprovada uma lesão na barriga e outra no braço, além de um ferimento na pele, na altura da costela. O caso foi registrado na 96ª DP (Miguel Pereira), que investiga.
Mulher foi agredida por companheiro durante discussão  - Divulgação
Mulher foi agredida por companheiro durante discussão Divulgação
O casal, que reside na cidade do Rio de Janeiro, namorava há dez meses e estava passando o fim de semana na casa do pai da advogada, que mora em Miguel Pereira, para comemorar o aniversário de 78 anos do idoso. Segundo a vítima, as discussões eram constantes e quase sempre motivadas por ciúme de ambas as partes. No domingo (3), após a festa de aniversário, a mulher descobriu que estava sendo traída pela terceira vez por Leonardo. Ao confrontar o companheiro, houve uma intensa discussão e Leonardo a puxou com força pelo braço e a arremessou na direção de um frigobar do quarto onde eles estavam. Assustada, ela correu para fora da casa e gritou por socorro.
O pai precisou intervir na briga e pediu para que Leonardo saísse da casa, mas ele permaneceu com a justificativa de que estava procurando uma mochila. A advogada, então, se trancou no quarto e tomou diversos comprimidos na tentativa de se acalmar. Ela passou mal e precisou ser socorrida e levada para um hospital da região. Segundo o advogado da vítima, Ricardo da Silva Fernandes, o pai da vítima tentou pedir ajuda ao agressor , já que ele é médico, e pelo fato de não ter condições de carregá-la. Leonardo teria se recusado a fazer os primeiros atendimentos. Ainda de acordo com Ricardo Fernandes, o agressor é levantador profissional de peso, e por isso conseguiu arremessar a vítima com muita força em cima do eletrodoméstico.
Procurada pelo DIA nesta sexta-feira (8), Dia Internacional da Mulher, a advogada disse estar destroçada, humilhada e frustrada com o relacionamento que nutriu por dez meses com Leonardo. "Meu pai me viu passar por tudo isso, são sentimentos de derrota, humilhação e frustração. Hoje estou em tratamento psicológico e psiquiátrico por tudo o que eu vivi com ele ao longo desses dez meses. Estou destroçada e envergonhada. Mas não devia, já que eu não fiz nada de errado", disse a mulher. 
Ela reflete ainda que o seu trabalho atende justamente a mulheres que passam pelas mesmas situações que ela passou, mas não conseguiu dar um basta no primeiro episódio de agressão sofrido. Ainda segundo a vítima, durante o relacionamento ela foi agredida pelo menos três vezes psicologicamente e verbalmente, mas acreditava que havia sido situações isoladas. 
"Já atendi muitas mulheres na mesma situação que eu, e já ouvi de muitas clientes: "não vou fazer isso com ele' ou "a mãe dele não merece". Está sendo muito difícil para mim fazer o que eu estou fazendo, mas faço para que outras mulheres se encorajam a fazer o mesmo. Quando ele era bom, ele era muito bom, mas quando era ruim, era melhor ainda. Que ele não faça mais isso com nenhuma mulher", desabafa a advogada. 
Com medo da reação de Leonardo após a denúncia, a vítima solicitou uma medida protetiva contra o médico, mas o pedido ainda está em análise e não foi deferido até o momento. Em nota, a 96ª DP afirmou que os envolvidos vão ser ouvidos, assim como testemunhas. 
A cada três horas uma mulher é vítima de violência
Um estudo divulgado nesta quinta-feira (07) pela Rede de Observatórios da Segurança mostra que foram registradas 3.181 ocorrências de gênero na Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro e São Paulo no ano passado. O número representa um aumento de 22% na comparação com 2022, quando o Pará ainda não fazia parte do monitoramento. Segundo a pesquisa, uma mulher é vítima de violência a cada três horas, considerando o universo de apenas oito dos estados brasileiros.
Só em janeiro deste ano, mais de 3 mil medidas protetivas foram decretadas pelo Tribunal de Justiça do Rio (TJRJ). Dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) mostram que houve um aumento de 33% em casos de feminicídio registrados em comparação com o mesmo período de 2023.
Dados de feminicídio
Em relação às tentativas de feminicídio, os números cresceram 20%. De acordo com levantamento, apenas no primeiro mês deste ano houve registro de 12 mulheres assassinadas e de 35 vítimas de tentativas de feminicídio. Em janeiro do ano passado, foram nove mortes e 29 tentativas.
Em 2022, 111 mulheres foram vítimas de feminicídio no estado do Rio de Janeiro. Destas, 57,8% já haviam sofrido alguma forma de violência antes. Em 2021, foram 85 mulheres mortas, enquanto em 2020, foram 78, de acordo com os Dossiê Mulher 2023, 2022 e 2021, respectivamente, levantados pelo Instituto de Segurança Pública (ISP-RJ). Os dados de 2023 serão divulgados em outubro.
Falando de todo o Brasil, o último anuário do ISP retratou um aumento de quase 6% no número de feminicídio, o que significa uma mulher morta a cada seis horas.