Alunos do campus Maracanã do Cefet reclamam sobre falta de segurança na regiãoGoogle Street View

Rio - A morte do estudante Matheus Cardoso Martins Passos, que foi baleado próximo ao campus Maracanã do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet), reacendeu o alerta de estudantes sobre a segurança da área onde fica a instituição, na Zona Norte do Rio. Ao DIA, alunos do campus reclamaram sobre a falta de policiamento.

Marcus Oliveira, de 23 anos, estudante do curso de Ciência da Computação e membro da coordenação do Diretório Central dos Estudantes (DCE) do Cefet, destacou que a região do campus, localizado na Rua General Canabarro, no Maracanã, sempre foi insegura. Segundo ele, poucas viaturas da Polícia Militar são vistas na área, deixando os alunos e professores com receio de andar por algumas ruas.

“Quando a gente não sofre uma tentativa de assalto, de arrastão, de sequestro relâmpago, como já houve na rua da minha casa - eu moro do lado do Cefet -, a gente ouve falar das pessoas que sofreram. A região é muito insegura e a avaliação que a gente faz é que o policiamento nunca foi suficiente”, disse.

O jovem relatou que o DCE realizou, no ano passado, um abaixo-assinado com 600 assinaturas pedindo uma melhoria do patrulhamento na região. Contudo, eles teriam sido avisados pelo batalhão de Polícia Militar que a mancha criminal não seria alta suficiente para ter uma demanda de policiamento mais ativo. Marcus

“Sinceramente, todo mundo sabe como é a região. Eles não podem falar que a região é segura, pois eles sabem que não. Acabaram de fazer um confronto com bandidos. Onde mais a gente precisa dizer que a região é insegura e que a gente precisa de policiamento ativo e que seja 24h por dia? É revoltante que nos horários de pico das nossas universidades, principalmente nos horários de saída noturnos, nesses momentos, a polícia nem sequer dá as caras aqui. É exatamente os momentos que tem mais arrastão, mais assalto. A gente fica à deriva em um sistema que foi feito pra gente não estudar. É só colocar policiais na região que fiquem pelo menos nos momentos que tem maior índice de criminalidade. Não é possível que a polícia não tenha a inteligência de fazer algo nesse sentido”, completou.

Karen Oliveira, de 21 anos, também aluna do curso de Ciência da Computação, disse que a segurança ao redor do campus é precária e de amplo conhecimento há anos. Ela relatou que pediu à direção-geral da instituição para que liberem os alunos mais cedo, principalmente em dia de jogo no Maracanã, para a própria segurança.

“Tive amigos que foram assaltados na porta da faculdade, minha amiga correu de assalto com faca. Eu oriento os calouros a nunca andarem sozinhos. A verdade é que não temos a certeza de que ao irmos estudar conseguiremos voltar para casa. É muito triste que a insegurança do local e o despreparo da polícia tenham causado a morte do Matheus. Como mulher, eu me sinto mais insegura ainda. Sinceramente, as aulas acabam às 21:30h. Se os meliantes fazem o que querem durante o dia, quem dirá à noite. Assalto é a menor das minhas preocupações. Eu sempre evito sair da faculdade sozinha, inclusive, saio mais cedo da aula pra conseguir voltar com alguém. A gente não sabe o que mais é necessário para dar um fim nisso. Tivemos diversos assaltos, ameaças de morte e agora o assassinato de um aluno. Fica o questionamento do que mais seria necessário”, declarou.
Estela Figueiredo, de 22 anos, estudante do curso de Engenharia de Controle e Automação, expôs a mesma opinião dos outros alunos e acrescentou a falta de iluminação na região. 
"Estudo no Cefet há anos e sempre tive experiências ruins no trajeto para ir e vir do campus. Sempre houveram muitos assaltos nas passarelas de acesso ao metrô e ao trem, as ruas são escuras e as viaturas não ficam tão presentes quanto poderiam, normalmente elas aparecem após algum ocorrido e não preventivamente. A Rua General Canabarro não costuma ter policiamento algum na altura do Cefet e, quando há algum, é somente uma viatura no acesso ao trem de São Cristóvão. Não há horário em que eu me sinta segura ali e maioria dos assaltos que presenciei, na verdade, ocorriam ao redor do horário da saída escolar dos alunos do ensino médio técnico (horário de almoço)", explicou.
A jovem estava no bar no momento em que o estudante Matheus Passos foi baleado. Ela comemorava com alguns amigos o início do semestre, seu último na unidade, quando o tiroteio começou. Dias depois do ocorrido, Estela revelou que ainda tem pouca proteção policial na região.
"É de uma tristeza enorme que um estudante como eu tenha perdido a vida enquanto tentava dar prosseguimento aos estudos e cada dia que tenho passado ali, ainda notando pouca proteção policial, não consigo deixar de pensar que todos nós seguimos em extremo perigo enquanto só buscamos realizar os nossos sonhos", finalizou.
O que diz a PM?

Questionada sobre o assunto, a Polícia Militar informou que o comando do 6° BPM (Tijuca) tem realizado reuniões frequentes com os moradores do bairro do Maracanã para debater as demandas da região. Além disso, a corporação informou que foi reforçado o policiamento com viaturas e motopatrulhas, que atuam junto às unidades do programa Segurança Presente em pontos estratégicos. A região conta ainda com o reforço de equipes do Regime Adicional de Serviço (RAS).
Segundo dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), houve registro de 205 roubos de rua na área do 6º BPM em janeiro deste ano, um aumento de 31% comparado ao mesmo período do ano passado, que teve 156 casos. Em 2023, foram 2.560 registros do crime no ano todo.
Em relação especificamente ao número de roubos a pedestres, foram 108 casos em janeiro deste ano contra 98 sobre o mesmo período do ano passado, um aumento de 10%. Em 2023, foram 1.354 casos ao todo.
A PM destacou que o número total dos roubos de rua na região caiu 18,9% num comparativo entre os anos de 2023 com 2022. No mesmo comparativo, os roubos de veículos caíram 30,3%, e os roubos a transeuntes apresentaram queda de 23,5%.

A corporação ainda informou que mais de 770 prisões foram realizadas pelo 6° BPM em 2023. "Dentro desse cenário, a unidade segue trabalhando também junto às delegacias de sua área de atuação para identificar e prender os demais envolvidos em tais crimes", disse em nota.

A secretaria ressaltou a importância do acionamento das equipes policiais para casos imediatos através da Central 190 e do App RJ 190, assim como a importância dos registros dos crimes nas delegacias, o que proporciona um direcionamento das análises das manchas criminais locais mais preciso e efetivo.