Larissa Santos não fazia as unhas há cinco anosCleber Mendes / Agência O Dia

Rio – Larissa dos Santos, de 36 anos, não fazia as unhas há cinco. Moradora do Morro do Pinto, em Santo Cristo, região Central, a captadora de recursos colocou os cuidados com as mãos em dia em um evento do Instituto Ayó, neste sábado (9), na quadra da Associação Recreativista Escola de Samba Vizinha Faladeira, em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, que promoveu serviços de beleza como manicure, pedicure e designer de cílios e sobrancelhas, de graça, para mulheres. Além disso, premiou com uma placa 10 mulheres com atuações importantes no Morro da Providência, onde fica a sede do instituto.
"Parece coisa pequena e fútil, mas se cuidar, dar uma atenção ao visual, faz diferença para eu me sentir mais bonita e forte. Eu saí do evento me sentindo maravilhosa, foi uma oportunidade para eu me sentir mais valorizada. Com o que eu ganho, tenho que sustentar casa, filho e não tenho dinheiro para fazer as unhas”, afirmou Larissa.
O intuito da ação era justamente elevar a imagem das mulheres. Fundada em 2021 pela líder social Adriana Siqueira, o Instituto Ayó trabalha na promoção da independência financeira das mulheres em conjunto com o resgate da autoestima.
A organização não governamental (ONG) ministra cursos gratuitos de trança, designer de sobrancelha, cílios, unhas, laboratório de negócios e depilação em sua sede, no Morro da Providência, no bairro da Gamboa, região central. No evento deste sábado, além dos serviços de beleza e homenagens, ofereceu assessoria jurídica e psicológica, com rodas de conversa sobre amor próprio. Uma advogada também levou dados do crime de feminicídio no Brasil e alertou as mulheres sobre os perigos de relacionamentos abusivos. Já a secretária Joyce Trindade, da Secretaria da Mulher, falou sobre empregabilidade, no momento da premiação.
"O objetivo do evento era prestigiar as mulheres neste mês importante, que traz visibilidade para o sexo feminino. Com a premiação, trazemos os olhares para mulheres do lar, mas com importantes atuações na área social no Morro da Providência. Queremos potencializar as mulheres da favela", disse Adriana.
Ednalda Oliveira, de 63 anos, foi ao evento receber uma das placas de premiação. Ela participa do projeto social Galeria Providência, um dos parceiros do Instituto Ayó. Ela retornou para casa com o prêmio e cílios postiços:
"Ganhar este prêmio foi muito importante, é um sinal de que a Galeria está somando forças para construir outras diretrizes para as mulheres”, comentou.
Adriana foi criada na Praça da Cruz Vermelha, no Centro, em um cortiço, de onde conseguiu sair com 28 anos. Ela e a família composta por sete pessoas dividiam o banheiro com 21, em uma ocupação de um imóvel. Ela lembra que o seu maior sonho, na infância, era morar no Morro da Mineira, no bairro do Catumbi, também no Centro, pois as suas amigas da escola que moravam naquela comunidade tinham um banheiro em casa. Quando ela casou, se mudou para o Morro da Providência e, hoje, trabalha em prol de melhorias no local, com o Instituto Ayó e o Coletivo de Ação e Cidadania Machado de Assis, único coletivo preto no Morro da Providência, criado para levar aos moradores noções de direito, políticas sociais e públicas e transformar o território.