Escola Municipal Roma, na Avenida Nossa Senhora de CopacabanaReprodução / Google Street View

Rio - "Saímos de casa muito bem, às 6h30. A gente estava muito feliz porque tinha jogo do Fluminense. Comprei uma caixa de bombom, queria ver a alegria dele", contou a auxiliar de serviços gerais Luciana de Sousa Teixeira, de 47 anos, sobre a manhã do último dia 29. Horas depois, ela ficou em estado de choque ao receber a notícia de que seu filho Daniel Teixeira da Silva, de 13 anos, havia sido agredido por um grupo de cerca de 10 adolescentes dentro da Escola Municipal Roma, em Copacabana, na Zona Sul do Rio.
"Foi um choque muito grande, um trauma. Tanto é que eu não tive reação nenhuma, a diretora até estranhou meu comportamento. Só queria ouvir o que ela tinha para falar. Cruzei os braços e fiquei olhando para ela. Ela disse que, infelizmente, as crianças estão levando violência do morro para escola. Isso não tem nada a ver. Eu moro no morro há quase 30 anos, tenho uma filha quase formada em psicologia, a outra já trabalha… Não existe violência dessa forma. Aqui, uma criança cai e a outra ajuda a levantar. Foi um caso muito abusivo. Não quero deixar isso impune", desabafou Luciana.
A ocorrência foi registrado na 12ª DP (Copacabana), na noite do dia 29. Em depoimento, Daniel contou que alunos entre 13 e 15 anos de diferentes turmas foram até a sala dele e começaram a empurrá-lo, tentando forçar que ele brigasse com um outro colega. Caso contrário, os dois seriam agredidos. O jovem relata que, em certo momento, os agressores fecharam a porta, deram chutes em seu pescoço e tapas na nuca e nas costas, além de pegarem uma vassoura para golpear seus braços. Por fim, os estudantes abaixaram sua bermuda como forma de humilhação.
"Ainda estou meio nervoso, com medo. Quero que tomem providências para isso não acontecer com mais ninguém", desejou Daniel, que, de acordo com o Código Internacional de Doença (CID), possui retardo mental leve.
O estudante contou que uma colega tentou alertar a diretoria da escola, mas ela não teria entendido o que estava acontecendo. "A diretora disse que ela não explicou muito bem. Eu e o menino que apanhou junto comigo fomos falar com ela depois. Ela disse que ligaria para ambulância, mas não ligaram e me liberaram. Eu estava com o pescoço doendo, não conseguia botar para trás, só para os lados", relatou o rapaz.
Daniel afirmou que nunca tinha sofrido agressões na escola anteriormente e, após o caso, a família solicitou transferência para outra unidade. No entanto, o menino segue preocupado. "Estou com medo mesmo de quando eu for para a escola nova, se os meninos que me bateram estiverem lá", disse assustado. Nesta segunda-feira (11), ele passará por uma sessão com um psiquiatra, que determinará se ele já está apto para voltar a frequentar as salas de aula.
Consternada com o caso, Luciana conta que não se conforma com o fato de nenhum profissional da escola ter percebido o que estava acontecendo. "Criança faz muito barulho, uma bagunça dessa com situação de briga e ninguém viu isso? Ele disse que algumas crianças saíram de outras salas para bater nele. A direção não deu nenhuma assistência para ele, tentaram falar comigo, mas não conseguiram. Ligaram para a mãe do vizinho, que se ofereceu para buscar o Daniel, mas ela deixou o menino voltar sozinho para casa com um outro adolescente", criticou.
Primeiramente, Daniel recebeu atendimento médico em uma clínica da família na comunidade Cantagalo, em Copacabana, onde mora. Já nesta sexta-feira (8), ele foi à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do bairro porque seguia com dores de cabeça. No entanto, as principais feridas não são físicas.
"Ele ainda está sem comer direito, acho que o emocional está muito abalado. Ele está muito agitado, falando alto, ficando nervoso. Ele não era assim, sempre foi muito calmo e tranquilo", lamentou.
Procurada, a Polícia Civil informou as investigações estão em andamento na 12ª DP (Copacabana). "Agentes realizam diligências para apurar a autoria do crime e esclarecer os fatos", indicou a instituição. De acordo com Luciana, a delegada que a atendeu ficou comovida com a situação do menino e o presenteou com uma garrafa do Fluminense na tentativa de alegrá-lo. 
Em nota, a Secretaria Municipal de Educação afirmou que promove, regularmente, um "trabalho de conscientização com os alunos através do Núcleo Interdisciplinar de Apoio às Escolas (NIAP), que conta com psicólogos e assistentes sociais, e do Escola Segura, ferramenta que permite monitorar casos de violência, bullying e racismo nas escolas, de modo a enfrentá-los com ações estratégicas".
"A responsável e o aluno foram acolhidos pela direção da unidade e optaram por pedir a transferência dele para outra escola, sendo prontamente atendidos", comunicou a pasta.