Os ativistas Game Over e Sininho estão entre os absolvidos no processo Estefan Radovicz/Arquivo/Agência O Dia

Rio - A Justiça do Rio absolveu, nesta terça-feira (19), os 23 réus acusados de formação de quadrilha e corrupção de menores em atos e protestos políticos que aconteceram na cidade ao longo de 2013 e 2014 no Rio de Janeiro. Na ocasião, o grupo foi acusado de usar nos protestos táticas de guerrilha urbana conhecidas como "black blocs", e de promoverem manifestações mais violentas.

A denúncia contra eles foi apresentada em 2014 pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), que afirmava que o grupo planejava os protestos violentos durante o período da Copa do Mundo, inclusive o de incendiar a Câmara Municipal da capital fluminense.

Em 2018, a Justiça do Rio determinou a prisão dos 23 ativistas. Eles foram acusados de formação de quadrilha, corrupção de menores, dano qualificado, resistência, lesões corporais e posse de artefatos explosivos. As penas variaram entre 5 anos e 10 meses e 7 anos de prisão, mas eles puderam recorrer em liberdade.

Entre os absolvidos, está a ativista Elisa Quadros Pinto Sanzi, a Sininho. Seu marido, Luiz Carlos Rendeiro Júnior, conhecido como Game Over, que também participava das manifestações, morreu em março do ano passado. Na ocasião, uma foto do momento em que Sininho foi presa e estava sendo levada em um ônibus da Polícia Militar gerou grande repercussão. Na imagem, o casal aparece se abraçando.

Nas redes sociais, Elisa comemorou a liberdade. “Depois de mais de 10 anos finalmente fomos absolvidos! Pra quem não lembra, o processo dos 23 condenou ativistas de 2013 por terrorismo e outros crimes. Sem provas e baseado em mentiras midiáticas. Este processo prejudicou não só a vida jurídica de cada um de nós como acabou com a saúde mental de muitos de nós”, disse.

Elisa ainda lamentou o fato do marido não poder comemorar a decisão. “Eu e Luiz fomos um desses ativistas. E por 10 anos fomos perseguidos por este processo que tanto prejudicou nossa vida pessoal É com muita alegria que grito: Liberdade! Choro também por não poder abraçar meu amor que onde quer que ele esteja, está gritando e vibrando”, finalizou.

Cinegrafista morto em manifestação
Dentre os absolvidos neste processo também estão os envolvidos na morte de Santiago Andrade, 49 anos, cinegrafista da TV Bandeirantes morto por um disparo de rojão na cabeça enquanto cobria uma manifestação no Centro do Rio, em fevereiro de 2014.

O artesão Caio Silva de Souza e o tatuador Fábio Raposo foram acusados de soltar o explosivo e denunciados pelo Ministério Público do Rio (MPRJ) por homicídio doloso triplamente qualificado, por motivo torpe, impossibilidade de defesa da vítima e uso de explosivo. Segundo a denúncia, Fábio teria entregado o rojão para Caio "com a finalidade, previamente, de direcioná-lo ao local onde havia uma multidão, inclusive composta por policiais militares". Na época, os dois afirmaram que já se conheciam de outras manifestações e agiam juntos.

Em dezembro de 2023, os dois foram julgados, no entanto, o júri popular - formado por cinco homens e duas mulheres -, concluiu que não houve dolo eventual em matar a vítima, o que levou à desclassificação do crime.

Dessa forma, a competência para julgar Caio, que acendeu o rojão, passou a ser da juíza Tula Corrêa de Mello, que o condenou a 12 anos de prisão em regime inicialmente fechado, por lesão corporal seguida de morte. No entanto, ele pôde recorrer em liberdade. Já Fábio foi absolvido também nesse processo.
Os demais absolvidos são: Gabriel da Silva Marinho; Karlayne Moraes da Silva Pinheiro; Eloisa Samy Santiago; Igor Mendes da Silva; Camila Aparecida Rodrigues Jordan; Igor Pereira D'Icarahy; Drean Moraes de Moura; Shirlene Feitoza da Fonseca; Leonardo Fortini Baroni; Emerson Raphael Oliveira da Fonseca; Rafael Rêgo Barros Caruso; Filipe Proença de Carvalho Moraes; Pedro Guilherme Mascarenhas Freire; Felipe; Frieb de Carvalho; Pedro Brandão Maia; Bruno de Sousa Vieira Machado; André de Castro Sanchez Basseres; Joseane Maria Araújo de Freitas; e Rebeca Martins de Souza.