Delegado Rivaldo Barbosa foi preso na manhã deste domingo Fernando Frazão / Agência Brasil

Rio - Preso neste domingo (24) pela Polícia Federal (PF) por suspeita de obstruir as investigações do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, o delegado Rivaldo Barbosa foi nomeado chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro no dia 8 de março de 2018, e tomou posse cinco dias depois, em 13 de março, na véspera do crime. O decreto de nomeação foi assinado pelo então comandante da intervenção federal na segurança pública no estado, general Walter Braga Netto, que quatro anos mais tarde viria a ser candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro (PL).
Em seu discurso de posse, conforme noticiado por O DIA, Barbosa ressaltou que o "crime não compensa" e que seu maior desafio seria combater a corrupção dentro da Polícia Civil. A declaração visava credibilizar a corporação uma vez que, naquela mesma data, o então diretor do Departamento Geral de Polícia Especializada (DPGE), delegado Marcelo Martins, foi preso em operação da Lava Jato sob suspeita de corrupção e lavagem de dinheiro.
"Vivemos um momento difícil e de mudanças que trazem mais responsabilidade. Tenho o compromisso com a lisura e a transparência diante desse meu novo desafio. [...] É fundamental o cerco e o combate à corrupção. O crime não compensa, e uma investigação bem feita pela Polícia Civil pode ajudar muito nisso. Temos que ter uma excelência na elucidação de crimes. Qualidade deve ser a palavra de ordem da Polícia Civil", discursou na época.

A área de inteligência da Polícia Civil, na época da nomeação de Barbosa para comandar a instituição, havia contraindicado o nome dele. Mas, segundo informações dos investigadores da operação da PF, o general Braga Netto manteve posicionamento garantindo que ele assumisse a chefia da Polícia Civil fluminense.
No dia seguinte ao assassinato de Marielle e Anderson, o então chefe da Polícia Civil reuniu-se com a família da vítima e prometeu elucidar o caso. Em entrevista à imprensa, em 15 de março de 2018, ele garantiu que a polícia adotaria todas as medidas "possíveis e impossíveis" para dar uma resposta: "Estamos diante de um caso extremamente grave e que atenta contra a dignidade da pessoa humana e contra a democracia”, dissera.
Em publicação na rede social X, o ex-deputado federal Marcelo Freixo, hoje presidente da Embratur, lembrou que entrou em contato com Barbosa assim que soube da execução da amiga e correligionária - ambos eram do PSOL em 2018.
"Agora Rivaldo está preso por ter atuado para proteger os mandantes do crime, impedindo que as investigações avançassem. Isso diz muito sobre o Rio de Janeiro”, afirmou.
A mãe de Marielle, Marinete da Silva, também reforçou que a filha confiava no delegado: "A maior surpresa nisso tudo é o nome do Rivaldo, pois minha filha confiava nele e no trabalho dele", disse em entrevista à GloboNews.

Informações sobre as investigações no Rio de Janeiro e em Brasília indicam que, antes mesmo de assumir o cargo, o delegado teria feito uma combinação com o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio, Domingos Brazão, também preso na operação desta domingo ao lado do irmão e deputado federal Chiquinho Brazão (União-RJ), para garantir a não identificação dos mandantes do assassinato de Marielle Franco.

Barbosa também é suspeito de receber propina para obstruir as investigações sobre o crime. Segundo a PF, o delegado teria recebido aproximadamente R$ 400 mil para evitar que as apurações sobre os mandantes avançassem. Tal informação consta em relatório de 2019.
Em delação, o ex-policial militar Ronnie Lessa, apontado como o atirador, disse à PF que Barbosa tinha conhecimento do crime e garantiu impunidade aos envolvidos. Barbosa nega ter desenvolvido ações para obstruir as investigações e recebido o dinheiro.

Despistar
Ações do ex-chefe da Polícia Civil do Rio teriam plantado informações falsas durante a investigação do assassinato. Uma delas levou ao titular da Delegacia de Homicídios, Giniton Lages, então encarregado do caso, a falsa informação de que delegados da PF haviam encontrado uma suposta testemunha da execução.

Em 2018, foi ele que determinou que o policial militar Rodrigo Ferreira, conhecido como Ferreirinha, fosse interrogado. Ferreirinha fora apresentado como testemunha de conversa entre Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando Curicica, e o vereador Marcelo Siciliano, que supostamente teriam falado sobre o planejamento da morte de Marielle. Ambos foram apontados como mandantes do crime. Cerca de nove meses depois, tal informação foi dada como falsa pela própria PF.

Barbosa é bacharel em Direito, curso concluído em 1998. Em suas redes sociais ele se apresenta como professor de direito em uma instituição de ensino superior privada.
Braga Netto
Nomeado interventor na área de segurança do Rio pelo então presidente Michel Temer, Braga Netto, general da reserva, se transformou em político. Dois anos depois de sua passagem como interventor no Rio, foi nomeado ministro chefe da Casa Civil no governo de Jair Bolsonaro de 2020 a 2021. Depois, de 2021 a 2022, comandou foi ministro da Defesa. Filiou-se ao PL e concorreu à Vice-Presidência na chapa liderada pelo então presidente em 2022.

Braga Netto é investigado por suposto envolvimento no planejamento de golpe de Estado para impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva e nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023.
*Com Agência Brasil