Mais uma vítima relatou ter sido estuprada em boate na LapaRenan Areias / Agência O Dia

Rio - Após uma universitária estrangeira denunciar que foi vítima de um estupro coletivo na boate Portal Club, na Lapa, Centro do Rio, mais uma mulher procurou a Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). Ela afirma que também foi estuprada no "dark room" do local e que os abusos teriam acontecido em novembro do ano passado.
A mulher relatou que estava na casa para assistir a um grupo de pagode e que a festa tinha bebida liberada, como no caso da estrangeira. Ela disse ainda que quando foi ao banheiro se sentiu tonta e não lembra mais o que aconteceu. Ao acordar, percebeu que estava em um quarto preto com dois homens. Na época do crime, a jovem registrou um boletim de ocorrência e procurou a boate, mas não teve retorno.
A vítima procurou a Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Alerj após a repercussão do caso da estrangeira que também alega ter sido vítima de um abuso na boate.
"Não me surpreende que novos casos continuem a aparecer. As circunstâncias em que a jovem estrangeira relata a negligência, o descaso, a falta de acolhida e até a tentativa de dissuadi-la do registro na delegacia depõe contra contra a cultura dessa boate, que desse modo se mostra como um lugar de risco, perigoso para mulheres. É fundamental que as investigações identifique e responsabilize com rigor os autores do crime e aqueles que foram negligentes diante do fato", disse a deputada Renata Souza, presidente da comissão.
O caso da segunda vítima foi parecido com o relato da universitária estrangeira. A jovem disse que, após conhecer um rapaz na casa noturna, aceitou ir com ele ao "dark room". No local, ela denuncia ter sido estuprada sem chance de defesa por um número de homens que não consegue precisar. A estudante contou que chegou a perder a consciência e que não sabe se algo foi adicionado a sua bebida. A jovem afirma que ao recuperar a consciência, procurou a amiga e quis chamar a polícia, mas não foi devidamente atendida.
A estrangeira pretendia permanecer por pelo menos um ano no Brasil para aprender português, mas retornou ao país de origem e escreveu uma carta. Ela relatou que está em casa e só quer descansar e esquecer o que aconteceu. "Quero acordar e pensar que toda minha viagem pelo Brasil foi um pesadelo, que isso não aconteceu e voltar à minha vida normal, não sei se haverá justiça ou não, mas já disse tudo o que tinha a dizer e fiz tudo o que tinha que fazer. Espero que a minha história ajude outras mulheres que passaram pela mesma coisa a serem encorajadas a falar, que saibam que não estão sozinhas", escreveu.
Na carta, a estrangeira contou sobre os momentos desesperadores que vivenciou na casa de show. "Fiquei muito chocada, eu estava gritando e chorava tanto que nem conseguia respirar. Pedi que me mostrassem as câmeras para entender o que havia acontecido e o segurança disse que só poderiam fazer isso com autorização da polícia, comecei a entrar em pânico novamente porque eles realmente não estavam me dando nenhuma solução", disse.
Procurada pelo DIA, a prefeitura disse que o estabelecimento está com o alvará ativo e documentação cadastral em dia. Já o Corpo de Bombeiros informou que a boate funciona irregularmente por não possuir o Certificado de Vistoria Anual (CVA), que diz respeito sobre a segurança contra incêndio e pânico.
A boate Portal Club passou por perícia na noite desta quarta-feira (3) após a denúncia. Agentes da Delegacia de Atendimento à Mulher do Centro do Rio, responsáveis pela investigação, estiveram também no espaço reservado do local, conhecido como "dark room", onde teria acontecido os abusos. Em nota, a assessoria do local disse repudiar os casos.
Veja a íntegra:
"Diante dos graves acontecimentos relatados, a casa deseja deixar claro publicamente que repudia veementemente e nunca irá apoiar qualquer forma de intolerância, opressão ou violência contra as mulheres.

Assim que tomamos conhecimento do incidente, a casa prontamente acolheu a vítima e se colocou à disposição das autoridades para que os fatos sejam imediatamente investigados e esclarecidos. Além disso, fornecemos as imagens e áudio do circuito de segurança aos responsáveis pela investigação, onde será provado todo o apoio que prestamos à vítima, juntamente com os dados dos clientes presentes no dia, que tenham colocado o nome na lista ou comprado ingresso antecipadamente.

Estamos comprometidos com a busca pela verdade e desejamos que os responsáveis sejam devidamente punidos.

Como uma casa LGBTQIA+, estamos e estaremos sempre empenhados em lutar pelos direitos das minorias e das mulheres. Estamos e sempre estaremos aqui para oferecer todo o apoio e colaboração possível".
A Polícia Civil informou que as imagens de câmeras de segurança já estão sendo analisadas. Segundo a instituição, testemunhas estão sendo ouvidas e demais diligências estão em andamento para esclarecer o caso.