Avenida Martin Luther King, próximo a estação de metro de Irajá, Zona NorteCleber Mendes/Agência O Dia
Avenida do Medo: Arrastões e assaltos assustam motoristas e moradores
Av. Pastor Martin Luther King Júnior, que tem em seu nome uma homenagem a um pacifista, reflete o medo e a insegurança
Uma das principais vias da Zona Norte, a Avenida Pastor Martin Luther King Jr., antiga avenida Automóvel Club, tem se tornado a "via do medo" devido aos assaltos e arrastões frequentes. Apenas nos últimos quatro dias, ocorreram cinco arrastões na avenida. Motoristas e moradores da região afirmam que os crimes são frequentes.
Na última segunda-feira (1), no Engenho da Rainha, na Zona Norte do Rio, criminosos realizaram mais um arrastão na Avenida, fazendo com que diversos carros tivessem que voltar pela contramão da via, alguns com os faróis piscando para alertar outros motoristas, conforme relatos de moradores nas redes sociais. Já na quinta-feira (28), criminosos realizaram dois arrastões, sendo um deles na frente da 44ª DP (Inhaúma). No sábado (30), o mesmo crime aconteceu em dois horários diferentes.
"Eu passo frequentemente pela Martin Luther King. Em uma das vezes, eu tinha passado de carro pela 44ª DP, em Inhaúma, depois que cheguei próximo à garagem de ônibus ali em Inhaúma, presenciei o arrastão. Tive que dar ré com o carro e voltei na contramão até conseguir sair pela praça de Inhaúma. Foi horrível! Sem contar o medo de sofrer um acidente", contou o vigilante Santos.
O motorista de aplicativo Robson, de 54 anos, passa pelo menos duas vezes por semana na Avenida Martin Luther King Jr. e sempre fica atento aos avisos que recebe dos colegas de profissão em grupos de troca de mensagens para evitar passar por determinados lugares. "A partir de 20h, não passo pela região porque o policiamento já diminui, então a gente fica mais vulnerável. A possibilidade de ter uma blitz falsa de marginais e ser abordado pelos criminosos passa a ser maior”, disse.
A avenida atravessa os bairros de Del Castilho, Inhaúma, Engenho da Rainha, Tomás Coelho, Vila Kosmos, Vicente de Carvalho, Irajá, Colégio, Coelho Neto, Acari, Parque Colúmbia e Pavuna e duas das principais vias da cidade, a Linha Amarela e a Avenida Brasil, possui 25 km de extensão, e expõe a violência milhares de pessoas que passam pela via frequentemente.
De acordo com o Instituto de Segurança Pública (ISP), de janeiro a fevereiro deste ano em comparação com o ano anterior, houve um aumento de 73% nos roubos de rua na região que abriga os bairros de Del Castilho, Engenho da Rainha, Inhaúma, Maria da Graça e Tomás Coelho. Já as estatísticas de roubo de veículos revelam um aumento de 3,9%.
Segundo a especialista e professora de segurança pública da UFF, Jacqueline Muniz, a via é fundamental para a cidade. "Ela é uma artéria principal da cidade, de conexão do centro com o subúrbio, periferia e bairros. Portanto, é uma avenida conhecida, seja pelo nome oficial ou informal carioca. Quando há problemas e atrasos na vida de todos que moram naquela região, o acesso ao metrô e a conexão com os trens são afetados. Portanto, as vias principais da cidade, quando se tornam alvos da insegurança, criam problemas para toda a cidade. As principais artérias da cidade devem ser prioritárias na gestão da segurança. Não é preciso reinventar a roda, mas com o que temos, podemos fazer mais e melhor. Primeiro, é uma questão de mentalidade e, segundo, de planejamento e gestão que não estão atendendo às necessidades concretas da região. E também pode haver um fechamento de olhos para dinâmicas criminais que fabricam esse tipo de evento para depois vender proteção, extorquir mais e cobrar taxas da população”, explicou a ex-gestora de segurança pública.
O motorista de ônibus, que preferiu não se identificar, apesar de ter mais de 30 anos na profissão, ainda se sente inseguro para dirigir na cidade: "Acontece direto. Já presenciei vários roubos de veículos, inclusive. Eu passo pela Martin Luther King sempre, pois faz parte do meu trabalho. A gente tem medo, principalmente de madrugada. Dá medo em qualquer lugar no Rio de Janeiro, mas essa área aqui não tem segurança nenhuma", pontuou.
"Eu fico receoso quando estou por aqui. Assim, quando o carro passa devagar, você já fica preocupado. Então, a gente fica pedindo a Deus para passar o dia tranquilo, sem nenhuma ocorrência. Aqui é um pouco conturbado, né? As coisas aqui são pesadas", contou o vendedor que trabalha na região que corta um dos trechos da via e que não quis se identificar.
Já o taxista, que preferiu não se identificar e que há 26 anos trabalha dirigindo pelo Rio, sente receio ao passar pela Avenida: "Eu fico pensando: será que vai chegar minha hora? Porque é algo que você sabe que pode acontecer a qualquer momento. Não dá para evitar muito."
"Há uns três meses, não acontecia tanto como agora; era mais à noite. Agora está acontecendo direto, pela manhã, ao meio-dia. A gente já conhece, se engarrafou, a gente já começa a voltar com o carro para tentar escapar", disse outro motorista da categoria que preferiu não se identificar.
Procurada, a Polícia Militar informou em nota que: “O comando da Corporação tem como uma de suas principais preocupações o combate aos roubos de veículos em todo o território fluminense. Após o levantamento de informações de inteligência da SEPM, as unidades operacionais da Corporação vêm realizando diversas ações para reprimir esse tipo de ação criminosa nas comunidades ocupadas por integrantes dessas quadrilhas. Os comandos dos batalhões de área vêm trabalhando de forma conjunta com as delegacias da Polícia Civil para identificar e prender os criminosos envolvidos em tais delitos. A PMERJ reforça a importância da colaboração da população realizando denúncias pelo Disque Denúncia e acionando nossas equipes pela Central 190 ou via Aplicativo 190. Os registros nas delegacias da Polícia Civil também são essenciais para que os procedimentos investigativos sejam iniciados”, disse o comunicado.
Em nota, a Polícia Civil disse que: “Até o momento, a 44ª DP (Inhaúma) registrou dois casos de roubos de veículos na região neste sábado (30/03). A unidade realiza diligências para apurar a autoria dos crimes. A Polícia Civil ressalta a importância do registro de ocorrência para auxiliar nas investigações e na identificação de autores dos delitos”.
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