A operação no Sistema Imunana-Laranjal havia sido interrompida na manhã de quarta (3)Divulgação

Rio - O fornecimento de água nas regiões afetadas pelo Sistema Imunana Laranjal deve ser normalizado até a próxima segunda-feira (6). Segundo a Cedae, após mais de 65 horas de paralisação, a produção na estação chegou a 100% da capacidade às 11h50 deste sábado (6). Apesar disso, moradores ainda relatam água fraca nas torneiras e receio em usar o líquido para beber e fazer comida, devido a contaminação. No entanto, a companhia garante a qualidade no abastecimento.

A operação havia sido interrompida na manhã de quarta-feira (3), após a identificação da substância química tolueno no canal de Imunana, onde é feita a captação de água. A estação abastece a Ilha de Paquetá, no município do Rio; os distritos de Inoã e Itaipuaçu, em Maricá; São Gonçalo, Niterói, e Itaboraí, na Região Metropolitana.

Segundo uma moradora de São Gonçalo, a estudante de psicologia Ana Letícia Rodrigues, de 45 anos, a água está voltando para sua casa e outras do seu condomínio de forma gradativa.

"A água voltou essa madrugada, mas acabou da minha caixa e estou pegando balde para lavar louça, colocar no banheiro e tomar banho, mas pra beber e fazer comida ainda não estou usando porque estou com medo e insegura. Não sei se ela foi realmente descontaminada. Ainda estou comprando água mineral, mas vamos acordar! Porque ela está muito fraca, não está tendo força para ir para casa", disse.

Nas redes sociais, outros moradores também demonstraram insegurança com a água. “A coloração normal, mas ainda sim é bom não beber. Usem para outros tipos de consumo”, recomendou um morador de Niterói.

"Aqui também está clara, mas as caixas por estarem vazias, quando cai, levanta a sujeira do fundo. Por isso também é bom evitar fazer uso direto da caixa para alimentação", disse outra moradora.

Sobre o receio da população em consumir a água distribuída pelas concessionárias, o biólogo Mário Moscatelli, mestre em ecologia e especialista em gestão e recuperação de ecossistemas, disse que, por medida preventiva, o que pode ser feito é o descarte de água acumulada e troca pela água mais recentemente tratada.

"Mas apenas por uma medida hipoteticamente preventiva. A opção é confiar nas autoridades ou tomar medidas preventivas. Isso vai da cabeça de cada um", explicou.

Procurada, a Cedae explicou que com relação ao tolueno, a substância não chegou à estação. "Ela foi detectada por nossos técnicos no manancial, e assim que foi identificada, a produção foi interrompida. Isto foi evitado devido à rotina de segurança mantida pela Cedae,que monitora e realiza análises de qualidade da água não só no interior da estação, mas também nos mananciais que contribuem para o canal onde é feita a captação de água", disse

Além disso, a companhia reforçou que água já captada foi descartada e a estação passou por limpeza, para garantir a segurança do abastecimento. "Nenhuma gota de água com tolueno chegou a ser distribuída", acrescenta.

Fornecimento em até 72h

Com o retorno integral da produção de água na Estação Imunana-Laranjal, iniciou-se o processo de normalização da distribuição, que leva em torno de 72 horas, podendo acontecer em período maior nas áreas elevadas e pontas da rede. A concessionária destaca que, quando as tubulações ficam totalmente sem água por longos períodos, podem surgir problemas, como vazamentos e casos pontuais de turbidez, que contribuem para um alongamento do prazo para regularização do fornecimento.

Apesar disso, nas estações que fornecem água para Itaboraí (Porto das Caixas, Marambaia e Manilha), a produção foi integralmente restabelecida nesta tarde.
Durante este período, a Águas do Rio também reforçou seus times de manutenção, operações e montou um laboratório móvel para identificar e resolver com agilidade os problemas gerados pela interrupção prolongada do abastecimento. A empresa orienta que os moradores continuem usando água apenas em atividades essenciais e limpem suas caixas d’água para garantir a qualidade da água em suas torneiras.

A concessionária também seguirá com o plano de contingência adotado para atender serviços essenciais até que o abastecimento seja integralmente normalizado. Neste sábado (6), estão sendo utilizados em uma operação para manter o abastecimento alternativo 58 caminhões-pipa e duas balsas-tanque – uma com capacidade de 350 mil litros e a outra com 450 mil litros. Até sexta-feira (5), a empresa distribuiu desta forma mais de 1,7 milhão de litros de água tratada, quase todo esse volume para hospitais e clínicas de urgência e emergência.
Já em Niterói, o fornecimento pode ser normalizado em menos tempo. Os bairros da Ilha da Conceição, Centro, Icaraí, Morro do Cavalão e Região Oceânica já estão com o fornecimento restabelecido. As demais regiões também estão sendo atendidas e a previsão é de que a Águas de Niterói consiga abastecer a maior parte da cidade em até 48h.

A concessionária esclarece que qualquer alteração na coloração da água pode ser causada pelas condições da caixa d’água e por seu esvaziamento nesse período. Além disso, a Águas de Niterói também reforça o pedido de que a população economize água até que o fornecimento esteja totalmente regularizado. Enquanto não estiver normalizado o abastecimento, a concessionária vai continuar operando com 40 caminhões-pipa para abastecer os locais de serviços essenciais.

O Sistema Imunana-Laranjal é responsável pelo abastecimento de cerca de 2 milhões de pessoas. A Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA) abriu inquérito para apurar os responsáveis pelo crime ambiental. Está sendo feito um levantamento das empresas da região que têm licença para utilizar o tolueno. Peritos criminais acompanham o trabalho dos técnicos do Inea e da Cedae na região e as análises do material coletado na tentativa de identificar a origem do vazamento.

Desde quinta-feira, uma força-tarefa montada pelo Governo do Estado atuou para mitigar os efeitos da contaminação. Foi feito o isolamento da área onde deságuam dois canais e realizada sucção do composto químico tolueno na região onde é feita a captação de água. As equipes continuam atuando no local, às margens do Rio Guapiaçu, de onde já retiraram 240 mil litros de água misturada com o produto químico. Os técnicos do Inea e da Cedae estabeleceram 40 pontos de coleta e já analisaram mais de cem amostras.