Rio - A ficha do passeador de cães Vinicius da Silva Mattos, de 23 anos, ainda não caiu. Internado há oito dias no Hospital Municipal Souza Aguiar, no Centro, o jovem não consegue entender o que passou na cabeça do taxista que o atropelou em Vila Isabel, na Zona Norte, e fugiu sem prestar socorro. Em conversa com o DIA nesta quinta-feira (11), 'Chant', como é conhecido pelos amigos, falou sobre os momentos que antecederam o episódio.
"Minhas últimas memórias desse dia são no pagode com meus amigos. Depois falei com um primeiro taxista. No segundo, eu já não lembro de nada do que aconteceu, só vendo as cenas do vídeo. É uma situação desesperadora porque ele me vê nitidamente. Eu vou colocando a blusa porque eu vejo que tem um outro táxi chegando a uns 20 segundos de distância. Ele me vê nitidamente", desabafou.
O jovem lamenta que, após a grande circulação do vídeo, passou a ler comentários racistas ao seu respeito nas redes sociais, o que tem dificultado ainda mais seu momento no hospital.
"Tem umas pessoas falando que eu queria assaltar, que eu poderia estar armado ou algo do tipo, mas eu estava sem nada, sem blusa e ainda levanto os braços. Ele me vê, atropela e não para prestar socorro. Ele não se preocupou em nenhum momento em saber se tinha me matado ou não, não ligou para minha vida nem um pouco", criticou.
"As pessoas são muito racistas, julgam pela cor da pele. Só por causa da cor da pele, ele poderia ter me atropelado. Algumas pessoas falam que se fosse uma menina branca, ele não teria feito isso. Como era eu, homem e negro, ele atropelou porque achou que fosse assalto. Homem, negro, branco, mulher… Ele não tem direito de atropelar ninguém", acrescentou.
Na unidade de saúde, Vinicius espera por uma cirurgia no maxilar, que ainda não tem uma previsão exata, mas deve acontecer no início da próxima semana. A irmã dele, Amanda Mattos, decidiu criar uma vaquinha online para auxiliar nos custos pós-cirurgia, como a implante dentário, fisioterapia e remédios. Até o momento, foram arrecadados R$ 23 mil dos R$ 30 mil estipulados pela família.
Amanda, que está grávida de nove meses, é uma das várias pessoas que tem visitado o jovem desde que ele passou para enfermaria. Com esse apoio da família e dos amigos, ele sente mais força para continuar sua recuperação.
"No início, foi um pouco difícil porque eu não estava entendendo o que estava acontecendo direito, não estava conseguindo raciocinar bem. Agora, estou me sentindo um pouco melhor. Graças a Deus, estou recebendo muitas visitas desde quando eu vim para a enfermaria. Antes, eu estava no quarto amarelo e eu só podia receber duas visitas, de 14h às 16h. Como é um horário muito curto, acabava que muitas pessoas não podiam vir. Agora, como vim para a enfermaria, está bem melhor e isso está sendo muito importante na minha recuperação. Minha ficha não caiu ainda. Eu fico agoniado, só esperando o dia da minha cirurgia. Pode ser ou não na segunda-feira, fico na ansiedade para chegar no dia. É chato ficar internado, é agoniante. Com esse apoio dos meus familiares e dos meus amigos, está sendo menos agoniante", contou agradecendo o carinho.
O caso está sendo investigado pela 20ª DP (Vila Isabel) e, até o momento, o motorista que atropelou Vinicius não foi encontrado. Nesta terça-feira, a defesa da família, representada pelo escritório Mattos & Garcia Advocacia, deve se reunir com os investigadores com objetivo de receber mais informações sobre o andamento da investigação.
"Eu só peço justiça, de verdade. Que a polícia corra atrás e faça o trabalho. Eu gostaria muito que fossem a fundo no caso, porque tem uma semana e ainda não sabemos a placa do carro, mesmo tendo as filmagens. Quero que busquem por mais filmagens para que a gente possa saber quem é essa pessoa", disse.
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