Dois homens foram presos suspeitos de negociar armamento furtado do Exército com traficantesDivulgação / Polícia Civil

Rio - Agentes da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) prenderam, na madrugada desta sexta-feira (12), em São Paulo, dois suspeitos de negociar metralhadoras furtadas do Exército com a facção Comando Vermelho (CV) do Rio de Janeiro. Já na manhã desta sexta, na Zona Oeste do Rio, os policiais cumprem oito mandados de busca e apreensão contra a quadrilha envolvida neste tráfico de armas.
Ao DIA, o delegado Pedro Cassundé, da DRE, comentou sobre a prisão dos dois homens, que foram encontrado no condomínio Osasco Alphaville, em São Paulo. Identificados como Jesser Marques Fidelix e Márcio André Geber Boaventura Júnior, os suspeitos negociavam o armamento com traficantes, que travam guerras constantes na Zona Oeste. "Eles estão envolvidos na negociação com CV do Rio de Janeiro", afirmou o delegado.
De acordo com a polícia, Jesser, Márcio e outros investigados atuam no comércio ilícito de armas de fogo, principalmente as de uso restrito. Portanto, após a prisão dos suspeitos, a Polícia Civil informou que, "principalmente no que tange ao fornecimento de armas às organizações criminosas que atuam no território do Rio, representou pela prisão temporária do dois membros da quadrilha". 

Segundo a Polícia Civil, a equipe da DRE apreendeu caminhão, veículos de luxo, armas, máquina de contar dinheiro e documentos diversos, na operação desta sexta-feira em endereços vinculados à quadrilha de Jesser Fidelix, na Zona Oeste do Rio. "Houve muita apreensão", pontuou Cassundé.
"Jesser e sua quadrilha, segundo as investigações, estaria envolvido diretamente na aquisição das armas furtadas do arsenal de guerra do Exército Brasileiro, para posterior comércio com o Comando Vermelho. Assim eles colaboravam no arrefecimento dos conflitos entre facções criminosas no Estado do Rio de Janeiro, principalmente na área de Jacarepaguá, na Zona Oeste, cujo domínio territorial é disputado entre milicianos e traficantes do CV", informou a Polícia Civil.
No dia 10 de outubro do ano passado, o Exército começou a investigar o sumiço de 21 metralhadoras do Arsenal do Comando Militar do Sudeste, em Barueri, na Grande São Paulo. A ausência das 13 metralhadoras calibre .50 e oito calibre 7,62 mm foi notada durante uma inspeção no local. À época, segundo a força armada, o material não tinha utilidade e tinha sido recolhido para manutenção.
Cerca de 10 dias depois, ainda em outubro, a Polícia Civil encontrou oito das 21 armas que foram roubadas do Exército, na Gardênia Azul, Zona Oeste do Rio. As metralhadoras estavam dentro de um carro que saiu da comunidade da Rocinha, na Zona Sul. Na ocasião, ninguém foi preso. Ao todo, durante as investigações, 17 armas do arsenal foram encontradas: oito no Rio de Janeiro e nove em São Paulo.
Procurado, o Comando Militar do Sudeste afirmou que "um dos civis denunciados pelo Ministério Público Militar, no Inquérito que investiga a subtração das armas no Arsenal de Guerra de São Paulo, foi preso pela Polícia Civil na região de Santana do Parnaíba".

"A Polícia Judiciária Militar está em contato com a Delegacia de Repressão a Entorpecentes do Rio de Janeiro, a fim de esclarecer os fatos que envolveram a prisão de um dos réus do mencionado Inquérito. O Exército permanece atuando para a recuperação das duas armas restantes, bem como para a responsabilização de todos os envolvidos, de forma integrada com outros Órgãos de Segurança Pública", finalizou a nota.
Militares envolvidos no furto
Desde o furto das metralhadoras, o Exército investiga possíveis militares envolvidos na ação. Em outubro do ano passado, a corporação identificou agentes suspeitos de ligação com o crime. O Comando Militar do Sudeste manteve cerca de 480 militares aquartelados para a apuração do caso. "Eles estão sendo ouvidos para que possamos identificar dados relevantes para a investigação", dizia a nota, na ocasião.
Segundo as investigações, os suspeitos teriam desligado as câmeras de segurança e usado um carro oficial do então diretor da base militar para transportar o armamento para fora do quartel. No entanto, o Exército afirmou que o militar não tem participação no furto.
Após serem furtadas, parte das armas foi para o Rio, com o objetivo de ser vendida ao Comando Vermelho, e o restante ficou em São Paulo, onde seria comercializada com o Primeiro Comando da Capital (PCC).
No Rio de Janeiro, de acordo com a polícia, a oferta das armas foi feita ao traficante William de Souza Guedes, criminoso que, atualmente, chefia a comunidade de Manguinhos, na Zona Norte. Ele é apontado como um dos homens de confiança das lideranças do CV.
*Reportagem do estagiário Leonardo Marchetti, sob supervisão de Marcela Ribeiro