A escritora Roseana Murray deixou o hospital ontem e posou animada, para fotos, ao lado de funcionários da unidade de saúdePedro Ivo

Rio - Após receber alta, a escritora Roseana Murray, de 73 anos, atacada por três pitbulls em Saquarema, na Região dos Lagos, "recusou" voltar para casa de ambulância e decidiu ir de carro com o filho. O motivo: ouvir rock, pedido prontamente atendido pela família. A artista ficou 14 dias internada no Hospital Estadual Alberto Torres, em São Gonçalo, e foi liberada por volta das 13h30 desta quinta-feira (18).

Na saída da unidade, o semblante da artista esbanjava alegria enquanto conversava e dançava suavemente. "Meu filho é rockeiro, ele dá uma canja nas bandas de Visconde de Mauá. Eu prefiro ir ouvindo rock, dançando e conversando", contou, com um sorriso no rosto.


A escritora reforçou ainda sua força vontade e felicidade em poder ir para casa. "Na ocasião, meu marido ligou para o meu filho e falou que eu estava morta, porque eu parecia estar. Mas eu estou aqui, viva, segura, quase sem dor e feliz", comemorou.

"Minha irmã é meu maior amor, e nós temos uma ligação fora do normal. Quando eu recebi um telefonema dizendo que ela havia morrido, eu não acreditei. Eu tinha certeza absoluta que ela não tinha morrido, e quando viemos para o hospital eu não desgrudei dela. Tudo isso é um milagre, é a força do amor e da união, uma corrente fortíssima. Minha irmã é surpreendente, impressionante, que força que ela tem", disse Evelyn Kligerman, irmã de Roseana.

Para os cirurgiões plásticos Leonardo Freitas, Thiago Genn e Tarcísio Encinas, a recuperação da escritora foi surpreendente.

"Já recebemos ataques de pitibulls, mas não nessa quantidade. Nesse caso, foram três cachorros, resultando em várias feridas quase que no corpo inteiro e bem violentas. Acredito que o caso dela foi um dos mais graves de mordida de cão que tivemos aqui no hospital", explicou Freitas.

Ainda segundo o cirurgião, Roseana vai poder ter uma vida normal, precisando retornar ao hospital algumas vezes para trocar os curativos e ser acompanhada. Além disso, ela terá que adaptar a não ter o braço direito, que precisou ser amputado.
"Ela teve a sorte de ter sido atendida muito rápido, vindo pra cá de helicóptero. A equipe de cirurgia vascular teve que amputar o braço porque não havia como preservá-lo, e a nossa equipe da plástica teve que reconstruir as feridas, principalmente do rosto e orelha direita, que eram as mais graves. As lesões da face eram muito extensas e a Roseana passou por duas cirurgias: a primeira levou cerca de quatro horas, foi bem complexa, e a segunda durou, em média, uma hora. Ela sempre evoluiu bem", reforçou.

Antes de deixar o hospital, a artista passou por um corredor rodeado de funcionários que a aplaudiram e vestiram camisas estampadas com seu rosto e a frase "Lute como uma escritora".

Em seguida, em agradecimento, ela recitou um poema: 
"Um anjo varreu a tristeza da casa.
Com suas asas feitas
de alguma coisa que não conhecemos.
Varreu como varrem ruas e praças.
Juntou tudo em suas mãos,
soprou, soprou, soprou."

Os próximos passos, segundo Roseana, é ter uma boa recuperação, fazer uma sarau de poesia no hospital e escrever um livro infantil para crianças que perderam algum membro do corpo, usando o humor.
Relembre o caso
Roseana Murray foi atacada por três pitbulls, na manhã do último dia 5, enquanto caminhava na Avenida Ministro Salgado Filho, no bairro Gravatá, em Saquarema. Ela foi arrastada por cerca de cinco metros enquanto era alvo de mordidas dos animais, que fugiram do quintal da casa dos tutores.
A escritora passou por uma cirurgia de emergência logo que deu entrada na unidade de saúde. Ela foi socorrida por militares do Corpo de Bombeiros e devido à gravidade dos ferimentos removida às pressa de helicóptero para o Heat. Ela teve o braço e uma orelha amputados.
No dia do ataque, os tutores dos animais, Kayky da Conceição Dantas Pinheiro, Ana Beatriz da Conceição Dantas Pinheiro e Davidson Ribeiro dos Santos, foram presos pelo crime de maus-tratos. Três dias depois as prisões foram convertidas em preventiva e no dia 10, o trio recebeu liberdade provisória.

Segundo o relator do caso, desembargador Gilmar Augusto Teixeira, os tutores não representam risco para a ordem pública ou econômica, já que os animais não estão mais em posse deles. Embora soltos, Kayky, Ana Beatriz e Davidson terão que cumprir duas medidas cautelares: manutenção da perda temporária da tutela dos animais apreendidos e proibição de aquisição de outros animais domésticos até o julgamento.
O caso foi registrado e é investigado pela 124ª DP (Saquarema).