Caso é investigado como injúria por preconceito e lesão corporal pela 9ª DP (Catete)Arquivo / Agência O Dia

Rio - Uma jovem denunciou nas suas redes sociais, nesta quinta-feira (25), um caso de agressão e racismo ocorrido dentro de um ônibus que passava pela Zona Sul do Rio e seguia para a cidade de Niterói, na Região Metropolitana. A trancista Rafaella Pereira relatou que um homem, que seria diagnosticado com o Transtorno do Espectro Autista (TEA), deu um soco em sua cabeça e a chamou de "macaca". O caso é investigado pelos crimes de injúria por preconceito e lesão corporal. 
Segundo a vítima, toda a situação aconteceu na manhã de quarta-feira (24) em um coletivo da linha 740D (Ipanema x Charitas). Rafaella disse que estava sentada próximo à porta de saída do ônibus no momento em que foi agredida com um soco na cabeça e xingada por um homem. A trancista ressaltou que avisou ao motorista sobre a agressão, mas nada foi feito. Após o comunicado, ela foi abordada pelo cuidador do agressor, que se apresentou como seu pai.
"Identifiquei que ele era autista assim que o vi, pois estava com o colar. Eu estava próximo da porta de saída do ônibus e ele passou por mim. Ele falou alguma coisa que não entendi e sentou na última fileira. Após dois/cinco minutos, ele se levanta e me dá um soco. Fiquei em choque e não sabia o que fazer", comentou. 
Rafaella destacou que nenhum outro passageiro a ajudou. De acordo com ela, o pai do agressor a abordou perguntando o que o filho tinha feito e ele alegou que o rapaz estava sem os medicamentos. Após isso, ela teria sido sido alvo de ofensas racistas pelo homem que a agrediu.
"O pai levantou e veio até mim perguntar o que ele tinha feito e relatei que ele tinha me dado um soco. Ele fez questão de perguntar a um dos passageiros que estava atrás se o filho realmente me agrediu, disse que ele tinha um problema e que estava sem os medicamentos. Falei para ele que o controlasse, pois ninguém merecia estar passando por aquilo. No mesmo instante, o homem se vira e fala 'o que essa macaca está falando? Está parecendo um macaco, esse cabelo de macaco'", escreveu.
Diante das ofensas, a trancista teve uma crise de ansiedade. Após se recuperar, ela decidiu denunciar o caso nas redes sociais falando sobre a negligência da família e falta de cuidado sobre o assunto.
"Quero deixar explícito aqui que respeito toda a comunidade autista e entendo as crises, pois já estudei muito durante o magistério e enfatizar que a minha denúncia não vai a crise em si e sim a negligência da família, principalmente ao fato de ter sido uma crise especificamente racista. Por essa especificidade é que vou recorrer aos meus direitos. Isso vem de casa e se ele tem essas atitudes, não é à toa. Além disso, independe do transtorno, se uma pessoa põe o corpo de outra em risco (lembrando que estamos falando de um homem, de aproximadamente 1,80m, fisicamente mais forte que uma mulher) é considerável que ela não possa estar dessa forma em público", completou. 
Tristeza pós agressão
Ao DIA, nesta sexta-feira (26), Rafaella contou que ainda lembra do sentimento de tristeza que tomou o seu corpo após ter sido agredida, ainda mais considerando a falta de auxílio das pessoas que estavam dentro do ônibus. 
"Eu me senti sozinha, fraca, desrespeitada de todas as formas. Foi um compilado de sentimentos ao mesmo tempo de pensar que eu estava sendo agredida, que ninguém ia fazer nada, que eu gritei pela ajuda do motorista e ele não fez nada. Eu fiquei pensando em todas essas coisas ao mesmo tempo dentro do ônibus. Fiquei me perguntando diversas coisas e percebendo que, devido ao transtorno dele, não ia ter justiça para mim", disse.
A trancista explicou que ficou calada depois das ofensas. Ela só conseguiu desabafar quando um passageiro perguntou como ela estava. Após dois dias do caso, a jovem revelou que ainda sente desconforto quando entra em ônibus. Segundo Rafaella, a atitude do homem que a agrediu pode estar relacionada com o que ele vive em seu cotidiano.
"Acredito que a educação e o que ele vive no cotidiano tenham influenciado nas atitudes dele. O pai poderia ter feito algo eficiente, dentro das condições dele, como ter descido do ônibus ou não saísse com ele de casa sozinho sem o medicamento sabendo que não tem condições físicas e/ou psicológicas para ser o único cuidador dele", discursou.
O caso foi registrado de forma online e repassado para a 9ª DP (Catete). Segundo a Polícia Civil, os agentes investigam os crimes de injúria por preconceito e lesão corporal provocada por tapas, socos e pontapés. Os policiais realizam diligências para identificar o autor e apurar todos os fatos.
Procurada, a 1001, responsável pela linha do ônibus, ainda não respondeu. O espaço está aberto para manifestação.