Jóe era um dos percussionistas mais longevos do RioAcervo Pessoal

Rio - Foi enterrado na tarde desta segunda-feira (29), no Cemitério de Irajá, na Zona Norte, o corpo do músico Jóe Luiz Severino Ribeiro, mais conhecido como Jóe. Ele faleceu neste domingo (28), após passar mal em casa e ser levado para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Rocha Miranda. Familiares contaram que o sambista, que era diabético, teria sofrido um infarto.

Jóe começou no samba ainda jovem. Foi ritmista da bateria do Império Serrano, sua escola de coração. Anos depois, integrou o Grupo Família, que acompanhava o cantor Roberto Ribeiro (1940-1996). Tocou, ainda, com bambas como Arlindo Cruz, Dona Ivone Lara (1921-2018), Monarco (1933-2021), Beth Carvalho (1946-2019) e muitos outros. Sua especialidade era o surdo, no entanto, destacava-se, também, em diversos outros instrumentos de percussão, entre eles tantã e tamborim.

Atuante em eventos por toda a cidade, fez parte dos músicos que brilhavam na tradicional roda comandada por Negão da Abolição no Clube Guanabara, em Botafogo, e no America, na Tijuca, nos anos 2000. Apresentou-se nas principais casas do Rio, como Teatro Rival, Renascença Clube, Trapiche Gamboa e Cariocando, além de shows em outros estados. Chegou a lançar um álbum com os companheiros da Banda Café, da qual fez parte.

"Ele era um músico muito atuante, carinhoso e elegante. Tratava os mais jovens sempre com muita atenção e carinho, e tive a honra de tocar com ele algumas vezes. Era um mestre de verdade, falava baixo e prestava atenção em tudo. Eu gostava muito de ouvir as histórias dele", lamentou o compositor e músico Marcelinho Moreira.

Responsável pela roda Gloriosa, na Glória, o violonista e produtor musical Paulão Sete Cordas, maestro da banda de Zeca Pagodinho, também se manifestou: "Conhecia o Jóe há muito tempo. Fizemos muitas coisas juntos em casas noturnas, como apresentações e rodas de samba. Era um músico da melhor qualidade, uma pessoa maravilhosa. Bom amigo, bom colega. Era criativo e tocava muitos instrumentos de percussão. É uma perda enorme para o samba."

Filha de Paulinho da Viola, a cantora Eliane Faria se apresentou com Jóe durante mais de dez anos. "Por ser uma pessoa de postura exemplar e um ser humano ímpar, tornou-se um amigo querido. É uma grande perda não só para o samba, mas para a música no geral. Ele sempre esteve disposto a ajudar a todos. Estou muito triste", disse a artista.

Torcedor do Flamengo, o músico deixa três filhas. Carolina Silva, uma delas, disse que o pai tinha muito orgulho da profissão. "Ele amava o samba. Guardava todas as fotos dos shows como relíquias. Vai deixar muita saudade", revelou.

A produtora Lena Duarte também destacou o legado: "Jóe era um 'gentleman', além de um músico com uma educação musical como poucos. Ajudava a todos que se aproximavam com seus ensinamentos. Era uma pessoa muito especial."

O último "compromisso" com a música foi no dia 23 de abril, quando participou de um pagode dedicado os festejos de São Jorge.

Durante o velório, na Capela Rio Pax 1, o caixão foi coberto com a bandeira do Império Serrano. O corpo foi enterrado ao som do antológico samba-enredo "Heróis da Liberdade" (Império, 1969), entoado por Alex Ribeiro, filho de Roberto Ribeiro, e por outros amigos e familiares que compareceram à despedida.
 
* Colaborou o estagiário Leonardo Marchetti