Publicado 22/05/2024 10:52
Rio - A Polícia Federal vai investigar se Lourival Correa Netto Fadiga lavou o dinheiro dos 40 depósitos feitos pelo marido de Anic Almeida Peixoto Herdy, de 54 anos, para contas indicadas por ele. O homem é apontado como mentor do sequestro da advogada, vista pela última vez há cerca de três meses, em Petrópolis, na Região Serrana. Benjamin Cordeiro Herdy pagou R$ 4,6 milhões pelo resgate, em reais, dólares e na criptomoeda bitcoin, mas há suspeita de que ela tenha sido morta e o corpo ocultado.
PublicidadeA delegada titular da 105ª DP (Petrópolis), Cristiana Onorato, informou que partes do inquérito foram enviadas para apuração da Polícia Federal. As suspeitas de lavagem de dinheiro ocorreram pelas transferências feitas para quatro empresas que os indícios apontam serem fictícias, usadas apenas para esconder origem ilícita de dinheiro. Cada uma recebeu R$ 325 mil, em 6 de março. Também houve pagamento de R$ 250 mil para uma única empresa de Chuí, no Rio Grande do Sul, em cinco depósitos realizados na mesma data.
O relatório final da investigação mostra que os depósitos totalizaram R$ 3.390.066,85 para 31 contas de pessoas físicas e jurídicas, em cidades do Rio de Janeiro, Paraná, São Paulo, Rio Grande do Sul, Bahia e do Paraguai. Os valores para as contas indicadas por Lourival foram pagos entre 6 e 8 de março. Além disso, Benjamin esteve com o acusado em uma agência bancária de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, onde sacou outros R$ 600 mil. Anic desapareceu em 29 de fevereiro, após ser vista entrando em um carro Jeep Compass preto, no estacionamento de um shopping em Petrópolis.
Entretanto, o desaparecimento da advogada só foi registrado em 14 de março, porque Lourival orientou Benjamin a não procurar as autoridades. Ele era segurança pessoal da família há cerca de três anos, após se apresentar como policial federal, mesmo não sendo, e tinha acesso irrestrito a cartões de crédito e senhas. O crime foi planejado com ajuda dos filhos, Maria Luiza Vieira Fadiga e Henrique Vieira Fadiga, e da amante, Rebecca Azevedo dos Santos. Os quatro estão presos e foram denunciados por extorsão mediante sequestro.
Uma mensagem em tom de despedida foi enviada pelo celular da advogada, após o pagamento do falso resgate. O texto, entregue a Benjamim diz que a mulher orquestrou o sequestro para receber o dinheiro e que ela optou por ir embora do Brasil com um suposto amante, que seria policial civil. Mas, as investigações apontaram que Lourival, os filhos e a amante foram os beneficiários da quantia. Eles compraram um carro de luxo avaliado em R$ 500 mil, uma motocicleta no valor aproximado de R$ 30 mil e 950 celulares, que custaram cerca de US$ 153,9 mil.
O relatório da Polícia Civil mostrou ainda que Lourival tentou agir sem deixar rastros durante a execução do crime, desligando o próprio celular ao se encontrar com Anic no shopping. Os investigadores perceberam longo período de falta de conexão no celular de acusado, entre às 9h19 e 15h36 do dia 29 de fevereiro. No entanto, ele ainda precisava fazer contato com a advogada para encontrá-la e passou a usar outro chip, que foi rastreado.
A investigação da distrital ainda indica uma possível relação da vítima com Lourival. Através do depoimento de uma das testemunhas ouvidas no inquérito, os investigadores identificaram um "claro envolvimento amoroso" entre eles. Um vendedor de uma loja de produtos eletrônicos de Ciudad Del Este, no Paraguai, próximo à fronteira com Foz do Iguaçu, no Paraná, contou aos agentes que conheceu ambos como um casal de namorados, inclusive com os dois se beijando.
Anic é mãe de um casal e seu marido herdeiro do fundador do complexo educacional em Duque de Caxias, que deu origem à Unigranrio. Ela usava colete jeans e um vestido bege e amarelo nas últimas imagens antes do sequestro. O programa Desaparecidos divulgou um cartaz que pede informações sobre o paradeiro da vítima. O Disque Denúncia recebe informações pela Central de Atendimento, nos telefones (21) 2253-1177 ou 0300-253-1177; pelo WhatsApp Anonimizado, no (21) 2253-1177; no WhatsApp dos Desaparecidos, em (21) 98849-6254, e pelo aplicativo Disque Denúncia RJ. O anonimato é garantido.
Saiba quem são os indiciados
- Lourival Correa Netto Fadiga, o Gordo ou Fatica, foi preso no dia 20 de março, quando retornava de Foz do Iguaçu, no Paraná;
- Henrique Vieira Fadiga, filho de Lourival, é acusado de participar da compra dos dólares para o pagamento do falso resgate. Ele também esteve com o pai e a irmã, Maria Luíza Vieira Fadiga, na concessionária na Barra da Tijuca para comprar o veículo de luxo;
- Maria Luíza Vieira Fadiga, filha de Lourival, também compareceu à concessionária e o veículo de R$ 500 mil foi colocado em seu nome. Ela é acusada de lavar o dinheiro do sequestro em uma loja de conserto de celulares. O estabelecimento em questão iniciou as atividades logo após o sequestro. Ainda segundo a denúncia, Maria Luíza também ficou responsável por negociar o recebimento dos 950 celulares comprados pelo pai no Paraguai;
- Rebecca Azevedo dos Santos, amante de Lourival, é acusada de ter viajado para Foz do Iguaçu para intermediar a compra dos quase 1 mil celulares com uma pessoa do Paraguai. Para a Polícia Civil, Rebecca teria abrigado Lourival logo após o sequestro e ajudou a ocultar as provas do crime. Além disso, o celular dela foi rastreado pelos investigadores, que descobriram que a mesma manteve contato com Lourival minutos depois de Anic entrar no veículo do amante.
O que dizem os citados
Em nota, a defesa de Lourival afirmou que ainda não foi formalmente notificada da acusação e que "somente se manifestará perante o judiciário". O advogado Paulo Tostes disse ainda que "acredita que irá comprovar durante a instrução criminal que a acusação se deu de forma açodada e que os verdadeiros eventos não foram apurados, crendo na improcedência dos fatos atribuídos a seu cliente".
A defesa de Maria Luiza e Henrique afirmou que a prisão dos jovens é uma "medida que se mostra
completamente descabida e desprovida de qualquer fundamento jurídico", uma vez que as investigações "não apresentaram nenhuma prova concreta que os incrimine. Ao contrário, todas as evidências colhidas apontam para a total inocência dos jovens", destacaram os advogados Vinícius Santos e Vinícius Frutuoso.
completamente descabida e desprovida de qualquer fundamento jurídico", uma vez que as investigações "não apresentaram nenhuma prova concreta que os incrimine. Ao contrário, todas as evidências colhidas apontam para a total inocência dos jovens", destacaram os advogados Vinícius Santos e Vinícius Frutuoso.
Os advogados de Rebecca afirmaram que a cliente não tem qualquer participação no crime. "Manifestamos nossa preocupação com a forma açodada como a prisão de Rebecca foi decretada. Parece evidente que, neste caso, a prisão está sendo utilizada indiscriminadamente, prendendo todos aqueles que tiveram algum contato com o Sr. Lourival", disse os advogados Carlos Augusto do Santos e Raphael de Souza.
Em nota, a família de Anic, através do advogado que representa a família, falou sobre o medo e os momentos de angústia vividos desde então. "Além dessa angústia, estão receosos e com medo, pois, da forma como o desaparecimento ocorreu, o marido e os filhos não sabem o que esperar das pessoas envolvidas. Têm medo do que elas são capazes de fazer. Mas, definitivamente, o que mais tem atingindo os familiares é a profunda saudade da presença de Anic em suas vidas".
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