Rio - Uma mensagem em tom de despedida foi enviada pelo celular da advogada Anic de Almeida Peixoto Herdy, desaparecida desde o dia 29 de fevereiro, uma hora após o pagamento do falso resgate, que custou cerca de R$ 4,6 milhões. O texto, entregue ao marido, Benjamim Cordeiro Herdy no dia 11 de março, diz que a mulher orquestrou o sequestro para receber o dinheiro que seria "dela por direito". A mensagem também diz que ela optou por ir embora do Brasil com um suposto amante que seria policial civil. Não se sabe se as mensagens foram enviadas por Anic ou por outra pessoa.
Ainda no texto, há o pedido para que Benjamim não conte para ninguém sobre o suposto sequestro. "Por favor não fale nada ainda. Espere até amanhã assim que eu lhe autorizar. Peço, por gentileza, que não conte a ninguém o que aconteceu na íntegra. Diga só que nos separamos, principalmente para nossos funcionários. Não me procure. Me desculpe pelo o que eu fiz, mas foi a única forma de receber o dinheiro que é meu por direito", diz trecho do texto.
Dois dias depois, os filhos de Anic receberam as mensagens com o anúncio de que a mãe estava fora do país. O texto enviado pelo celular da mulher diz que ela conheceu uma pessoa que a ama de verdade e que vai viver o resto da vida com o suposto amante. "Minha vida de um tempo para cá está sendo muito difícil, estou doente e infeliz. Preciso deixar vocês viverem, há muito tempo sinto que estou sufocando vocês. Conheci uma pessoa que me dá valor, que enxerga minha essência, que me ama de verdade. E com ele que pretendo viver o restinho da minha vida. O que eu fiz foi por amor, amor por vocês por mais controverso que possa parecer. Beijo. Amo vocês", finaliza a mensagem.
A corporação afirma que há fortes suspeitas que Anic tenha aderido ao plano criminoso de LourivalCorrea Netto Fatiga por causa de uma possível relação extraconjugal entre os dois. Lourival era amigo próximo da família da vítima e, segundo a polícia, teria arquitetado o crime. Através do depoimento de uma das testemunhas ouvidas no inquérito, os investigadores identificaram um "claro envolvimento amoroso" entre Anic e Lourival. Um vendedor de uma loja de produtos eletrônicos de Ciudad Del Este, no Paraguai, próximo à fronteira com Foz do Iguaçu, no Paraná, contou aos policiais que conheceu ambos como um casal de namorados, inclusive com os dois se beijando.
De acordo com a polícia, ele planejou o sequestro com a ajuda dos filhos Maria Luiza Vieira Fadiga e Henrique Vieira Fadiga, e de Rebecca Azevedo, uma mulher com quem mantinha um relacionamento amoroso. Após o pagamento do falso resgate, ele passou a ostentar carros de luxo e celulares. Lourival, conhecido como 'Gordo' ou 'Fadiga', convivia com a família há pelo menos três anos e se apresentou como policial federal, o que não é verdade. Ele está preso desde o dia 20 de março suspeito de envolvimento no crime.
Os investigadores tiveram acesso ao celular de Lourival e descobriram que ele não entregou o valor do suposto resgate. Ele foi a uma concessionária na Barra da Tijuca e comprou um carro por R$ 500 mil e uma moto. Também foi descoberto, através do aparelho celular de Lourival, que o mesmo esteve de carro nas proximidades do shopping onde Anic foi vista pela última vez, em Petrópolis.
No dia desaparecimento da advogada, câmeras de segurança registraram a mulher deixando o carro dela no estacionamento do shopping e entrando em um carro Jeep Compass preto. Em seguida, o veículo saiu do local e não foi mais visto. O sequestro de Anic só foi registrado em 14 de março, porque Lourival orientou a família a não procurar as autoridades.
Ao todo, quatro pessoas estão presas suspeitas de envolvimento no crime. No entanto, a Polícia Civil tenta descobrir ainda sobre o paradeiro de Anic. As investigações apontam para suspeitas de que a advogada foi assassinada e teve o corpo ocultado.
O que dizem os acusados
Em nota, a defesa de Lourival afirmou que ainda não foi formalmente notificada da acusação e que "somente se manifestará perante o judiciário". O advogado Paulo Tostes disse ainda que "acredita que irá comprovar durante a instrução criminal que a acusação se deu de forma açodada e que os verdadeiros eventos não foram apurados, crendo na improcedência dos fatos atribuídos a seu cliente".
A defesa de Maria Luiza e Henrique afirmou que a prisão dos jovens é uma "medida que se mostra completamente descabida e desprovida de qualquer fundamento jurídico", uma vez que as investigações "não apresentaram nenhuma prova concreta que os incrimine. Ao contrário, todas as evidências colhidas apontam para a total inocência dos jovens", destacaram os advogados Vinícius Santos e Vinícius Frutuoso.
Os advogados de Rebecca afirmaram que a cliente não tem qualquer participação no crime. "Manifestamos nossa preocupação com a forma açodada como a prisão de Rebecca foi decretada. Parece evidente que, neste caso, a prisão está sendo utilizada indiscriminadamente, prendendo todos aqueles que tiveram algum contato com o Sr. Lourival", disse os advogados Carlos Augusto do Santos e Raphael de Souza.
O que diz a família de Anic
Em nota, a família de Anic, através do advogado que representa a família, falou sobre o medo e os momentos de angústia vividos desde então. "Além dessa angústia, estão receosos e com medo, pois, da forma como o desaparecimento ocorreu, o marido e os filhos não sabem o que esperar das pessoas envolvidas. Têm medo do que elas são capazes de fazer. Mas, definitivamente, o que mais tem atingindo os familiares é a profunda saudade da presença de Anic em suas vidas".
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