Polícia identifica possível relação amorosa entre advogada e mentor de seu sequestro
Testemunha ouvida pela 105ª DP (Petrópolis) disse ter visto Anic de Almeida Peixoto Herdy e Lourival Correa Netto Fadiga juntos e se beijando; homem está preso pelo crime de extorsão mediante sequestro
Anic Herdy foi vista pela última vez em um shopping de Petrópolis em fevereiro deste ano - Reprodução
Anic Herdy foi vista pela última vez em um shopping de Petrópolis em fevereiro deste anoReprodução
Rio - A investigação da 105ª DP (Petrópolis) sobre o desaparecimento da advogada Anic de Almeida Peixoto Herdy trouxe elementos de uma possível relação da mulher com Lourival Correa Netto Fadiga, que está preso pelo crime de extorsão mediante sequestro. Ele é acusado de ser o mentor do crime.
Através do depoimento de uma das testemunhas ouvidas no inquérito, os investigadores identificaram um "claro envolvimento amoroso" entre Anic e Lourival. Um vendedor de uma loja de produtos eletrônicos de Ciudad Del Este, no Paraguai, próximo à fronteira com Foz do Iguaçu, no Paraná, contou aos policiais que conheceu ambos como um casal de namorados, inclusive com os dois se beijando.
Segundo a denúncia do Ministério Público do Rio (MPRJ), Lourival era funcionário de Anic há cerca de três anos. Ele se apresentou como policial federal, mesmo não sendo, e passou a fazer a segurança pessoal da família da vítima, além de ter acesso irrestrito a cartões de crédito e senhas. A advogada é mulher do professor Benjamim Cordeiro Herdy, de 78 anos, um dos filhos do falecido empresário José de Souza Herdy, fundador de um complexo educacional em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, que deu origem à Unigranrio.
De acordo com o apurado, conhecendo a rotina da advogada, Fadiga arquitetou o crime com ajuda dos filhos, Maria Luiza Vieira Fadiga e Henrique Vieira Fadiga, e de Rebecca Azevedo dos Santos, mulher que também era sua amante.
No dia desaparecimento da advogada, câmeras de segurança registraram a mulher deixando o carro dela no estacionamento de um shopping e entrando em um carro Jeep Compass preto. Em seguida, o veículo saiu do local e não foi mais visto. O sequestro de Anic só foi registrado em 14 de março, porque Lourival orientou a família a não procurar as autoridades.
Ainda segundo a denúncia, Benjamim Herdy, sem saber quem eram os sequestradores, chegou a pagar um resgate de aproximadamente R$ 4,6 milhões, mas a vítima não foi libertada. A investigação destacou que Lourival, os filhos e a mulher foram o beneficiários do valor e, no dia do pagamento, o grupo comprou um veículo de luxo avaliado em R$ 500 mil, pagos em dinheiro. Também foram adquiridos uma motocicleta e 950 celulares.
Além das suspeitas de que a advogada foi assassinada e o cadáver ocultado, as investigações da 105ª DP (Petrópolis) e da Promotora continuam para verificar indícios de que o grupo ainda cometeu crimes como lavagem de dinheiro e evasão de divisas.
Veja quem são os indiciados:
- Lourival Correa Netto Fadiga, o Gordo ou Fatica, foi preso no dia 20 de março, quando retornava de Foz do Iguaçu, no Paraná.
- Henrique Vieira Fadiga, filho de Lourival, é acusado de participar da compra dos dólares para o pagamento do falso resgate. Ele também esteve com o pai e a irmã, Maria Luíza Vieira Fadiga, na concessionária na Barra da Tijuca para comprar o veículo de luxo.
- Maria Luíza Vieira Fadiga, filha de Lourival, também compareceu à concessionária e o veículo de R$ 500 mil foi colocado em seu nome. Ela é acusada de lavar o dinheiro do sequestro em uma loja de conserto de celulares. O estabelecimento em questão iniciou as atividades logo após o sequestro. Ainda segundo a denúncia, Maria Luíza também ficou responsável por negociar o recebimento dos 950 celulares comprados pelo pai no Paraguai.
- Rebecca Azevedo dos Santos, amante de Lourival, é acusada de ter viajado para Foz do Iguaçu para intermediar a compra dos quase 1 mil celulares com uma pessoa do Paraguai. Para a Polícia Civil, Rebecca teria abrigado Lourival logo após o sequestro e ajudou a ocultar as provas do crime. Além disso, o celular dela foi rastreado pelos investigadores, que descobriram que a mesma manteve contato com Lourival minutos depois de Anic entrar no veículo do amante.
O que dizem os acusados
Em nota, a defesa de Lourival afirmou que ainda não foi formalmente notificada da acusação e que "somente se manifestará perante o judiciário". O advogado Paulo Tostes disse ainda que "acredita que irá comprovar durante a instrução criminal que a acusação se deu de forma açodada e que os verdadeiros eventos não foram apurados, crendo na improcedência dos fatos atribuídos a seu cliente". Confira a íntegra ao final.
A defesa de Maria Luiza e Henrique afirmou que a prisão dos jovens é uma "medida que se mostra completamente descabida e desprovida de qualquer fundamento jurídico", uma vez que as investigações "não apresentaram nenhuma prova concreta que os incrimine. Ao contrário, todas as evidências colhidas apontam para a total inocência dos jovens", destacaram os advogados Vinícius Santos e Vinícius Frutuoso. Confira a íntegra ao final.
A reportagem do DIA tenta contato com a outra acusada. O espaço está aberto para manifestação.
O que diz a família de Anic
Em nota, a família de Anic, através do advogado que representa a família, falou sobre o medo e os momentos de angústia vividos desde então. "Além dessa angústia, estão receosos e com medo, pois, da forma como o desaparecimento ocorreu, o marido e os filhos não sabem o que esperar das pessoas envolvidas. Têm medo do que elas são capazes de fazer. Mas, definitivamente, o que mais tem atingindo os familiares é a profunda saudade da presença de Anic em suas vidas".
Anic é mãe de um casal e usava colete jeans e um vestido bege e amarelo nas últimas imagens antes do sequestro. O Disque Denúncia recebe informações pela Central de Atendimento, nos telefones (21) 2253-1177 ou 0300-253-1177; pelo WhatsApp Anonimizado, no (21) 2253-1177; e por meio do aplicativo Disque Denúncia RJ. O anonimato é garantido.
Nota da defesa de Lourival Correa Netto Fadiga
"O advogado Paulo Vinícius Tostes, que patrocina a defesa de Lourival Correa Netto Fadiga, esclarece que ainda não foi formalmente notificado da acusação contra seu cliente em processo que tramita sob segredo de justiça. A defesa esclarece que estará tomando conhecimento e analisará todos os elementos de acusação e se houve cumprimento às formalidades legais, e somente se manifestará perante o judiciário eis que se vê impossibilitada de levantar questões importantes para o deslinde da causa, mas confia no Estado Democrático de Direito e nas instituições para garantirem a lisura e imparcialidade essenciais ao julgamento.
Ademais, afirma que pelo que se acompanhou durante o procedimento investigatório foram fatos meramente especulativos e baseados em meras suposições, além de não terem percorrido todos os caminhos de investigações necessários à real elucidação do caso. A defesa acredita que irá comprovar durante a instrução criminal que a acusação se deu de forma açodada e que os verdadeiros eventos não foram apurados, crendo na improcedência dos fatos atribuídos a seu cliente."
Nota da defesa de Maria Luiza Vieira Fadiga e Henrique Vieira Fadiga
"O escritório de advocacia Frutuozo e Santos vem por meio desta nota oficial, enquanto responsáveis pela defesa dos jovens, MARIA LUIZA VIEIRA FADIGA e HENRIQUE VIEIRA FADIGA, manifestar nossa profunda preocupação e indignação com a prisão decretada contra os jovens, medida que se mostra completamente descabida e desprovida de qualquer fundamento jurídico. As investigações realizadas até o momento não apresentaram nenhuma prova concreta que os incrimine. Ao contrário, todas as evidências colhidas apontam para a total inocência dos jovens.
É inadmissível que, em um Estado Democrático de Direito, a liberdade de cidadãos seja cerceada de forma tão arbitrária e sem o devido processo legal. A prisão cautelar é medida de caráter excepcional, só deve ser aplicada em casos extremos, quando houver risco concreto de fuga do réu ou de comprometimento da ordem pública. A manutenção da prisão cautelar, além de ser um flagrante constrangimento ilegal, configura-se como uma grave violação dos direitos humanos básicos dos jovens, como a presunção de inocência e o direito à liberdade. A defesa acredita na inocência de MARIA LUIZA VIEIRA FADIGA e HENRIQUE VIEIRA FADIGA que será comprovado no curso da instrução processual."
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