Suyany Breschak, que se apresenta como cigana, é considerada mandante da morte de empresário Reprodução/Redes sociais

Rio - A Polícia Civil considera Suyany Breschak mandante da morte do empresário Luiz Marcelo Antônio Ormond, de 49 anos, que foi envenenado com um 'brigadeirão' pela namorada Júlia Andrade Cathermol Pimenta. Segundo o delegado Marcos André Buss, da 25ªDP (Engenho Novo), a mulher, que se identifica como cigana, tinha grande influência sobre a vida de Júlia.

Suyany está presa desde o dia 28 de maio. Enquanto Júlia se entregou à polícia no fim da noite desta terça-feira (5) e foi transferida para o presídio de Benfica, na Zona Norte, nesta quarta-feira (5).


"A Júlia tinha por Suyany uma grande admiração, uma verdadeira veneração. O que nós sabemos e está sendo confirmado é que ela fazia pagamentos mensais para Suyany, não sabemos exatamente o porquê, mas ocorriam com frequência. No entanto, podemos afirmar com certeza que Suyany tinha uma influência muito grande sobre Júlia", explicou Buss.

Ainda segundo o delegado, dentro do cenário de grande influência, Suyany teria instruído Júlia a ministrar o medicamento, além de ter descoberto como adquirir os remédios que foram inseridos no brigadeirão.

"Temos mais que o testemunho dos pais para crer que a Júlia se sentia ameaçada e entendia que pudesse acontecer algo contra ela, uma morte ou uma doença. Me parece que essa crença se estendia em eventuais poderes mágicos de Suyany. Tudo indicava que ela acreditava que a cigana tinha poder sobre a vida, morte e saúde das pessoas. Temos elementos, que não são poucos, nesse sentido", acrescentou.

As investigações apontam ainda que o crime já vinha sendo planejado e que Júlia estaria dopando a vítima ao longo do tempo.
Mãe cita desabafo de Júlia
Apesar de Júlia ter exercido o direito ao silêncio durante a prisão na terça-feira, a polícia ouviu a mãe e o padrasto da suspeita. Sobre esses depoimentos, o delegado afirmou que a mãe não detalhou qual ação Júlia praticou, mas contou que ela teria dito que "estragou a própria vida" e que teria sido coagida por uma terceira pessoa.
"Mãe e padrasto disseram que quando chegaram na casa da Júlia em Campo Grande, a encontraram muito abalada e ela disse 'estraguei minha vida' e 'fiz algo muito grave'. Ela não teria esclarecido exatamente o que teria feito. Mas, segundo a mãe, dizia que fez isso por estar sendo obrigada e por ter medo de que acontecesse algo com a mãe", detalhou Marcos André Buss.

Cigana ajudou Júlia a enganar outro namorado

Outra linha de investigação é de que a cigana teria auxiliado Júlia a mentir para um outro homem com quem ela se relacionava há cerca de dois anos. Juntas, as duas inventaram que a suspeita teria conseguido um trabalho de babá na qual precisaria se ausentar por um mês, tempo em que ela passou a morar com Luiz Marcelo.

O homem com quem Júlia mantinha esse segundo relacionamento também prestou depoimento e apresentou áudios e fotos enviados por aplicativos de mensagem onde ela tentava comprovar o trabalho de babá, no qual alegou que receberia R$ 11 mil de remuneração. No entanto, as investigações demonstraram que as crianças que apareciam nas imagens eram filhos da própria Suyany. O delegado encontrou ainda semelhança na voz da cigana e da 'contratante' do serviço.

"Tudo indica que há uma motivação econômica por trás desse crime. Pretendemos fazer uma comparação entre alguns áudios que ela teria mandando para o namorado (sobre o trabalho de babá), porque foi justamente no momento em que ela foi morar com Luiz Marcelo. Julia dizia que a contratante se chamava Nathalia, mas os dados dessa Nathalia serão analisados para saber se de fato era a Suyany", reforçou o delegado.

Ainda na porta da 25ªDP (Engenho), Buss continuou as explicações sobre o caso e reafirmou que Júlia em nenhum momento atuou como babá. "Se ficar comprovado que Suany mandou áudios e fotografias para Júlia a fim de que ela pudesse se afastar do namorado sem levantar suspeitas para a prática do crime, me parece que isso pode ser visto como auxílio material, para ela ludibriar o companheiro e praticar o crime, mas isso eu não posso afirmar, preciso de exames para confirmar se a voz era a mesma", disse.

As investigações revelam também que Suyany teria domínio sobre todos os atos de Júlia. "Temos um depoimento da Suyany em que ela dizia que sua renda era a Julia, precisamos requerer o poder judiciário para verificar a conta bancária. A notícia que temos é de que a relação delas é antiga, de uns 10 anos", contou o delegado.
Dívida de R$ 600 mil com cigana
Segundo a cigana Suyany Breschak, presa inicialmente por ter ajudado Júlia a se desfazer dos bens da vítima, a suspeita fazia programas sexuais para se manter e que, ao longo dos anos, passou a lhe dever R$ 600 mil pelos atendimentos, que vinham sendo quitados com pagamentos em torno de R$ 5 mil mensais há cerca de 5 anos.

O trabalho da cigana era relativo à limpeza espiritual para que familiares e namorados não descobrissem a vida de Júlia como garota de programa e também para atrair mais clientes. Segundo ela, a suspeita seguia a vida da seguinte maneira: passava os fins de semana com um outro namorado e dividia o restante dos dias entre Luiz Marcelo e eventuais atendimentos.
Suyani recebeu de Júlia o carro de Luiz Marcelo, um Honda CRV, e entregou a um homem com quem já se relacionou — o receptor, conforme a cigana, sabe do possível homicídio. O rapaz, além do veículo, ficou com roupas e um ar condicionado da vítima. A doação seria para quitar a dívida entre a suspeita e a cigana, somando R$ 75 mil.

Prisão de Júlia

Júlia estava foragida desde o dia 28 de maio, quando foi expedido um mandado de prisão temporária por homicídio qualificado contra o empresário. As negociações para sua rendição iniciaram na terça-feira (4) e duraram quase 12 horas. No momento, ela está presa temporariamente, com prazo de 30 dias e as investigações devem continuar.

Segundo o delegado, a advogada de Júlia, Hortência Menezes, esteve na delegacia ainda na manhã de terça (4), no entanto, apenas na parte da noite indicou a localização da suspeita, que foi encontrada em uma rua de Santa Teresa, na Região Central do Rio. Na distrital, Júlia se manteve em silêncio e não se pronunciou sobre o caso.

"Gostaríamos de ouvir a Júlia sobre a participação da Suyany, temos outras frentes a estudar, como o paradeiro das armas. Quando encontramos ela em Santa Teresa, desta vez, ela não estava indiferente, pelo contrário, estava abalada e emotiva, mas conversei muito pouco com ela", explicou o delegado.

Julia é formada em psicologia, mas não estava atuando na área. Conforme apurado pelos investigadores da 25ª DP (Engenho Novo), ela recebe uma pensão do pai biológico no valor de R$ 2,5 mil por mês.

No entanto, a relação entre pai e filha aparenta ser somente alimentado por interesse financeiro da parte da suspeita. Para pessoas próximas, Júlia chamava o pai de "banco".

Dois dias depois da morte de Luiz Marcelo, Júlia chegou a ser ouvida na delegacia. Durante o depoimento, feito no dia 22 de maio, em alguns momentos ela chegou a sorrir. Na declaração, contou que deixou o apartamento no dia 20 após descobrir uma traição por parte de Luiz Marcelo.

O corpo do empresário foi encontrado nesta mesma data em estado avançado de decomposição. De acordo com o laudo cadavérico, o empresário foi morto três ou seis dias antes do corpo ser localizado. A família da vítima contou ao DIA que a última fez que ele foi visto foi no dia 17 deste mês, justamente na companhia de Júlia. Segundo as investigações, a suspeita dormiu ao lado do cadáver do namorado durante o fim de semana.

Ainda segundo o delegado, até o momento não há indícios de outras pessoas envolvidas no homicídio.
A reportagem não conseguiu contato com a defesa de Suyany. O espaço está aberto para manifestações.