Praia da Macumba, no Recreio, Zona Oeste do Rio, é uma das mais afetadas pela ressacaArquivo / Agência O Dia
Em entrevista ao DIA, Eduardo Bulhões, geógrafo marinho da Universidade Federal Fluminense (UFF), explicou que a La Niña resfria as águas do Oceano Pacífico Equatorial que, mesmo sendo distante do Brasil, gera interferências no clima do oceano que cerca o país, o Atlântico Sul.
"O fenômeno enfraquece os sistemas do oceano que bloqueiam os ciclones geradores de ressaca, permitindo que se aproximem mais do litoral do Rio de Janeiro. No período do El Niño (de mais calor), eles ficam travados. Podemos esperar que aumente a ocorrência e intensidade das ressacas, apesar de só termos confirmação quando elas acontecerem", detalha.
Na cidade do Rio, uma das regiões mais vulneráveis às ressacas é a da Praia da Macumba, no Recreio, Zona Oeste. Bulhões aponta que, por ser um litoral muito exposto, as ondas chegam naturalmente com força, atingindo até cinco, seis metros de altura. No entanto, ele destaca que a área foi fragilizada por projetos de urbanização, em 2005, que construíram ciclovias, quiosques e uma orla de passeio público na faixa da areia e da vegetação de restinga, assim, "sufocando" a praia.
"A cidade acaba avançando em cima da praia, que, por sua vez, é estrangulada. No período de ressaca, parte da areia vai para o fundo do mar, e a praia precisa de mais areia para repor essa que saiu. Só que não está mais disponível, porque as construções estão em cima. Em qualquer lugar com problemas de erosão, o motivo é, basicamente, esse", explica o especialista.
Ainda na Zona Oeste, Bulhões também considera a Praia da Barra da Tijuca, mais precisamente entre os postos 3 e 8, e a Praia da Joatinga como pontos que podem ser evitados com o possível aumento de ressacas. "A da Joatinga desaparece durante esse período, por ter uma faixa de areia reduzida e ser encaixada nas rochas. Quando começam as ressacas, ela fica submersa, e as ondas retiram toda a areia. No verão, é um ótimo ponto de recreação. Nenhum banhista deve frequentar praias em dias de ressaca", acrescenta.
Já na Zona Sul, em São Conrado, a área mais impactada vai da praia do bairro até a Ciclovia Tim Maia, na Avenida Niemeyer, que, em 2016, um choque com uma onda causou a queda de um trecho, matando duas pessoas. O Leblon também sofre com as ressacas: "As ondas são tão fortes que podem ultrapassar o limite superior da praia e chegar na Avenida Delfim Moreira, jogando areia na pista, atrapalhando o trânsito, e até escoando a água para a porta dos prédios", comenta Bulhões.
Algumas áreas do estado do Rio, além de Maricá e Macaé, também sofrem com as consequências das ondas fortes. Segundo Flavia Lins de Barros, professora da UFRJ, doutora em Geografia Marinha e Gestão Costeira, o principal caso é o de Atafona, distrito da cidade de São João da Barra, no Norte Fluminense, que está sendo "engolido" pelo mar há mais de 40 anos, com cerca de 14 quarteirões já submersos. Rio das Ostras e Cabo Frio, na Região dos Lagos, também são municípios afetados pela ressaca.
A especialista complementa que a cidade do Rio e as regiões Metropolitana e dos Lagos, por estarem voltadas para o Atlântico Sul, recebem diretamente as ondas que vem do oceano, o que faz com que as áreas sejam mais vulneráveis. "Além da urbanização, os efeitos da ressaca também variam de acordo com a declividade da praia e até o tamanho do grão de areia de cada local", contextualiza.
Existem para controlar as consequências da urbanização das orlas. Barros destaca o Projeto Orla, método de planejamento integrado baseado no Decreto 5.300 do Governo Federal, em vigor desde 2004. "A lei prevê a criação de faixas de não-edificação, sugerindo a preservação de um espaço de até 200m a partir do final da praia, o que permite que ela se adapte à ressaca, sem evitar a modernização. Esse projeto não está em vigor na capital. Também não temos um Plano Municipal de Gerenciamento Costeiro".
"A prefeitura tem emitido vários alertas para as chuvas, então seria nesse sentido. Não temos como saber as alturas previstas para cada dia, como a praia está em termos de largura, e o sistema já resolveria esse problema. Em Santos, município do estado de São Paulo, um sistema está sendo desenvolvido pela Defesa Civil para orientação de banhistas e trabalhadores. Claro, o principal não deixa de ser evitar a ocupação destas áreas frágeis e o sufocamento das praias. Essa questão é uma emergência climática, e nós precisamos correr para evitar consequências ainda maiores", finaliza.
O COR destacou que realiza o monitoramento por 43 câmeras ao longo da Avenida Niemeyer, entre as cancelas do acesso pela Praia do Leblon e o acesso pela Praia de São Conrado, que são monitoradas por operadores que atuam diretamente no Centro de Operações Rio.
Cabe ao órgão ser o integrador e repassar o atingimento dos protocolos à Companhia de Engenharia de Tráfego (CET-Rio) e à Guarda Municipal, para a realização do posicionamento ou interdição das vias, que são feitos por cancelas e sinalizações semafóricas e sonoras.
As interdições serão implementadas sempre que forem verificadas condições adversas de tempo, consideradas como condições de perigo potencial aos usuários daquela via.
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