Júlia Pimenta foi transferida para presídio em Benfica nesta quarta-feira (5)Reginaldo Pimenta / Agência O Dia

Rio - Júlia Andrade Cathermol Pimenta, de 29 anos, suspeita de matar o empresário Luiz Marcelo Antônio Ormond, de 49, com um brigadeirão envenenado, teve sua prisão mantida durante audiência de custódia realizada na tarde desta quarta-feira (5). A mulher responde por homicídio qualificado e teria cometido o crime com motivações financeiras.
A suspeita se entregou no fim da noite desta terça-feira (4) na 25ª DP (Engenho Novo), responsável pela investigação do caso. Ela chegou acompanhada da advogada Hortência Menezes. Contra Júlia, havia um mandado de prisão temporária expedido pela 4ª Vara Criminal da Capital, do Tribunal de Justiça do Rio (TJRJ).
A mulher ficou em silêncio durante todo o seu tempo na delegacia mesmo com a advogada informando que ela iria contribuir com as investigações. A negociação sobre sua rendição durou cerca de 12 horas. Segundo o delegado responsável pela investigação, Marcos André Buss, alguns pontos ainda precisam ser esclarecidos e o depoimento de Júlia seria importante.

"A prisão é temporária de modo que neste prazo se a Júlia preferir falar gostaríamos de ouvir a versão dela, porque tem uns pontos a esclarecer, principalmente sobre a relação dela com a Suyany", disse.
Ela foi transferida para a Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, na Zona Norte do Rio, no fim da manhã desta quarta-feira (5).
Dívida de R$600 mil com cigana

Segundo a cigana Suyany Breschak, presa no último dia 28 por ter ajudado Júlia a se desfazer dos bens da vítima, a suspeita fazia programas sexuais para se manter, e que ao longo dos anos passou a lhe dever R$ 600 mil pelos atendimentos, que vinham sendo quitados com pagamentos em torno de R$ 5 mil mensais há cerca de 5 anos.

Em depoimento, a cigana revelou que seu trabalho era relativo à limpeza espiritual para que familiares e namorados não descobrissem a vida de Júlia como garota de programa e também para atrair mais clientes. De acordo com ela, a suspeita seguia a vida da seguinte maneira: passava os fins de semana com um outro namorado e dividia o restante dos dias entre Luiz Marcelo e eventuais atendimentos.
Suyani recebeu de Júlia o carro de Luiz Marcelo, um Honda CRV, e entregou a um homem com quem já se relacionou — o receptor, conforme a cigana disse, sabe do possível homicídio. O rapaz, além do veículo, ficou com roupas e um ar condicionado da vítima. A doação seria para quitar a dívida entre a suspeita e a cigana, somando R$ 75 mil.
Os investigadores também suspeitam que Luiz Marcelo estaria sendo pressionado a colocar Júlia como beneficiária de um contrato de venda de um imóvel. A informação foi obtida pela Polícia Civil através do depoimento de um amigo de infância da vítima. Segundo a testemunha, há duas semanas o próprio empresário relatou a pressão que estava sofrendo por Júlia para alterar o contrato, onde um de seus primos constava como beneficiário.

O imóvel vendido ao amigo da vítima fica no bairro Maria da Graça, na Zona Norte do Rio. O acordo consistia no pagamento de R$ 3 mil no dia 25 de cada mês e R$ 20 mil nos meses de janeiro até completar o valor total. A compra foi feita em março deste ano e firmada em cartório.

Por fim, a cigana ressaltou que o relacionamento de Júlia com Luiz era "puramente interesse", já que a suspeita dizia que o homem tinha investimentos e dinheiro. Além disso, ao longo do fim de semana do crime, a mulher chegou a dizer que viu um urubu em sua janela, cobriu o corpo com cobertor e jogou água sanitária no apartamento.
Mandante do crime
A investigação considera Suyany Breschak como a mandante da morte do empresário. Segundo o delegado Marcos André Buss, a mulher tinha grande influência sobre a vida de Júlia.
"A Júlia tinha por Suyany uma grande admiração, uma verdadeira veneração. O que nós sabemos e está sendo confirmado é que ela fazia pagamentos mensais para Suyany, não sabemos exatamente o porquê, mas ocorriam com frequência. No entanto, podemos afirmar com certeza que Suyany tinha uma influência muito grande sobre Júlia", explicou Buss.
Ainda segundo o delegado, dentro do cenário de grande influência, Suyany teria instruído Júlia a ministrar o medicamento, além de ter descoberto como adquirir os remédios que foram inseridos no brigadeirão.
"Temos mais que o testemunho dos pais para crer que a Júlia se sentia ameaçada e entendia que pudesse acontecer algo contra ela, uma morte ou uma doença. Me parece que essa crença se estendia em eventuais poderes mágicos de Suyany. Tudo indicava que ela acreditava que a cigana tinha poder sobre a vida, morte e saúde das pessoas. Temos elementos, que não são poucos, nesse sentido", acrescentou.
Outra linha de investigação é de que a cigana teria auxiliado Júlia a mentir para um outro homem com quem ela se relacionava há cerca de dois anos. Juntas, as duas inventaram que a suspeita teria conseguido um trabalho de babá na qual precisaria se ausentar por um mês, tempo em que ela passou a morar com Luiz Marcelo.

O homem com quem Júlia mantinha esse segundo relacionamento também prestou depoimento e apresentou áudios e fotos enviados por aplicativos de mensagem onde ela tentava comprovar o trabalho de babá, no qual alegou que receberia R$ 11 mil de remuneração. No entanto, as investigações demonstraram que as crianças que apareciam nas imagens eram filhos da própria Suyany. O delegado encontrou ainda semelhança na voz da cigana e da 'contratante' do serviço.

"Tudo indica que há uma motivação econômica por trás desse crime. Pretendemos fazer uma comparação entre alguns áudios que ela teria mandando para o namorado (sobre o trabalho de babá), porque foi justamente no momento em que ela foi morar com Luiz Marcelo. Julia dizia que a contratante se chamava Nathalia, mas os dados dessa Nathalia serão analisados para saber se de fato era a Suyany", reforçou o delegado.

Ainda na porta da 25ªDP (Engenho), Buss continuou as explicações sobre o caso e reafirmou que Júlia em nenhum momento atuou como babá. "Se ficar comprovado que Suany mandou áudios e fotografias para Júlia a fim de que ela pudesse se afastar do namorado sem levantar suspeitas para a prática do crime, me parece que isso pode ser visto como auxílio material, para ela ludibriar o companheiro e praticar o crime, mas isso eu não posso afirmar, preciso de exames para confirmar se a voz era a mesma", disse.

As investigações revelam também que Suyany teria domínio sobre todos os atos de Júlia. "Temos um depoimento da Suyany em que ela dizia que sua renda era a Julia, precisamos requerer o poder judiciário para verificar a conta bancária. A notícia que temos é de que a relação delas é antiga, de uns 10 anos", contou o delegado.