Cine Santa passou por obras de revitalização e foi reinaugurado nesta sexta (7)Reprodução / Instagram

Rio - Um dos últimos cinemas de rua do Rio acaba de ser reaberto. Localizado no Largo dos Guimarães, no coração de Santa Teresa, o Cine Santa passou por uma grande obra de modernização e foi reinaugurado na última sexta-feira (7), depois de quatro meses fechado, para a alegria de moradores e frequentadores do charmoso bairro da região central. O investimento foi de R$ 700 mil. 

Segundo Paulo Saad, presidente da Associação de Moradores e Amigos de Santa Teresa (Amast), a revitalização era uma luta antiga do grupo. "Damos apoio permanente ao cinema, principalmente devido à receptividade e ao carinho que os moradores têm pelo espaço. A programação é muito adequada com o espírito e a cultura do bairro, ligada às artes. Além disso, é uma das salas da cidade que mais exibe filmes nacionais. Aplaudimos o esforço para melhorar a infraestrutura do cinema, que também é um tipo de área de convívio do pessoal", celebra.
A reforma no imóvel, que é da prefeitura, foi possível através da Secretaria Municipal de Cultura e da RioFilme, com recusos da Lei Paulo Gustavo. A sala de exibição ganhou tecnologias de projeção a laser em alta resolução, novas caixas acústicas e poltronas mais confortáveis. A bomboniére também foi expandida e o cinema se tornou mais acessível, com a instalação de rampas e banheiros adaptados. O letreiro da fachada deu lugar a um painel de led. 
Promoção 
O Cine Santa, agora com 51 lugares, retomou as exibições neste sábado (8), com ingressos promocionais de R$ 15 até quarta-feira (12), Dia dos Namorados. Três filmes estão em cartaz, sendo dois nacionais: "Grande Sertão", de Guel Arraes e "Meu Sangue Ferve Por Você", de Paulo Machline. O terceiro é "Amigos Imaginários", dirigido por John Krasinski.
Para o cineasta Sérgio Tréfaut, morador da região, ter um cinema perto de casa é um "índice de qualidade de vida". "Não ter que pegar metrô nem carro para assistir a bons filmes, nem se sentir formiga nos formigueiros do consumo, que são os shoppings e os multiplex… Em Santa Teresa, sinto que é um luxo ter o Cine Santa", enaltece.
Moradora do bairro há duas décadas, a ceramista Simone Monteiro, de 56 anos, faz coro. "A importância desse espaço é muito grande. Ele fez muita falta durante o fechamento, porque é um lugar onde a gente se sente em casa. Santa Teresa é como se fosse o interior dentro da capital, todo mundo se conhece. Então todos têm um carinho pelo cinema, é uma referência", analisa. Neste domingo (9), ela aproveitou para ver "Grande Sertão" com as netas.
Idealizadora do projeto, que teve origem há 24 anos a partir de um cineclube na Igreja Metodista do bairro, Fernanda Oliveira, 51, não esconde a emoção com o novo momento. "A alegria é muito grande porque estamos completando 21 anos de resistência só nesse espaço, mas o projeto começou anos antes. Há 12 anos não conseguíamos fazer nenhuma melhoria, mas agora foi possível, graças a editais e incentivos, fazer uma grande mudança estrutural. São várias transformações para melhor."
"É um lugar bem dimensionado, também, à proporção do bairro, onde as coisas são todas menores, charmosas. Qualquer obra que valorize o nosso bairro, a cultura e o lazer dos moradores, estaremos dando todo o apoio que for necessário", reforça Paulo Saad.
 
"É muito incrível poder ver a reinauguração de um cinema de rua na cidade. É, basicamente, o contrário do que estamos acostumados. É muito mais bonito ver quantas pessoas foram prestigiar isso. Dá uma sensação boa saber que, mesmo com a chegada dos streamings, o espaço físico do cinema ainda é tão querido e celebrado", festeja o bacharel em cinema Ariel Moraes, que prestigiou a festa de reabertura, na última sexta-feira (7).
 
No relatório do mercado cinematográfico de 2023, a Agência Nacional de Cinema (Ancine) apontou que os cariocas têm 205 salas de cinema à disposição, mas a maioria delas em shoppings. Além do Cine Santa, restam pouquíssimos exemplares em ruas, entre eles o Estação Botafogo, o CineCarioca, dentro do Imperator, no Méier, e o Cine Odeon, na Cinelândia, que só costuma funcionar uma vez por ano, no Festival do Rio.
 
* Reportagem de Gabriel Salotti e do estagiário Gabriel Rechenioti, sob supervisão de Raphael Perucci