Rio - O sepultamento de Deborah Vilas Boas, 27 anos, baleada em um ponto de ônibus na Linha Amarela, reuniu familiares e amigos na manhã desta quarta-feira (19) no Cemitério Vertical Memorial Rio, em Cordovil, na Zona Norte. Ao DIA, um tio do marido da vítima, Waldir Guimãres, revelou que a jovem tinha voltado da licença-maternidade há cerca de duas semanas, e que sua filha, de apenas sete meses, já chora ao sentir falta da mãe.
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"Ela era uma mãe daquelas que vivia 24 horas com a filha, fazendo aniversário todo mês. Ela era alegria em pessoa, estava sempre sorrindo e tiraram essa alegria da gente. Ela tinha acabado de se formar, na empresa ela tinha uma carreira, já estava 10 anos lá, profissional muito dedicada e tudo isso foi embora. Ela não estava mais amamentando, mas a bebêzinha, apesar de ter apenas sete meses, já chora e olha como se tivesse procurando a mãe que estava sempre presente, porque tempo todo elas estavam juntas, e isso tudo foi por água abaixo", lamentou.
Em relação ao marido da vítima, Wallace Souza, o tio comentou que o rapaz está arrasado e sem planos de futuro. "Você imagina um jovem que trabalha, estuda, acaba de se formar, se casa, tem uma filha, acaba de construir uma casa para começar a construir uma vida e de repente acaba tudo? Ele não tem mais nada, tem agora uma filha de 7 meses pra criar, mas não tem mais a mulher, aquele sonho deles de vida perdeu o sentido", disse.
Além da dor, Waldir relata que o caso também gerou revolta. "Diante dessa tragédia nós não encontramos nenhum representante aqui de nenhuma autoridade, porque já virou uma coisa comum. Vidas que vão embora, cidadão comum morrer no meio da rua, vítima de bala perdida, tudo isso já virou uma coisa comum, como eles chamam: estatística. O ser humano virou estatística. Agora a dor é daqui, mas também está nas outras famílias", explica.
O tio também criticou a falta de preparo dos policiais militares envolvidos na ocorrência. "Você tinha um ponto de ônibus cheio de pessoas, aí ocorreu um assalto, infelizmente comum na cidade, mas se o profissional de segurança tivesse preparado e pensado em não agir porque tinha muita gente no ponto e depois seguir os 'delinquentes' e procurar um lugar seguro para abordar isso não teria acontecido", disse.
Por fim, Waldir reforça que o combate a violência deve ser repensado. "Tem que utilizar mais inteligência, porque se não só está resultando mais em vítimas de violência".
Ainda no velório, uma amiga disse que Deborah era considerada o xodó da empresa em que trabalhava, uma clínica na Barra da Tijuca, Zona Oeste. Ela estava a caminho do trabalho quando foi baleada. O confronto ocorreu pouco antes das 6h de terça-feira (18).
Para um primo da vítima, Ubirajara Vilas Boas, ainda é difícil acreditar em tamanha tragédia. "Até agora não caiu a ficha, é muita dor! Ela tem uma criança de sete meses que hoje vai ficar sem a mãe. Eu não sei como vai ficar a mãe dela, a dor de perder um filho é muito grande. Estamos muito tristes neste momento. A gente não acredita mais em Justiça, porque toda semana acontece, infelizmente ela não vai ser a última, a gente só acredita quando acontece com a nossa família, mas vemos reportagem toda semana em que acontece alguma coisa com um trabalhador em um ponto de ônibus", contou.
Momentos antes do enterro, familiares também consolaram a mãe de Deborah que esteve no local. O marido da vítima, Wallace Souza, entrou no cemitério por uma entrada reservada e não falou com a imprensa.
Entenda o caso
Na terça-feira (18) um confronto entre policiais militares e criminosos provocou a morte de duas pessoas na Linha Amarela, altura da saída 7, em Bonsucesso, na Zona Norte. Deborah Vilas Boas, de 27 anos, e José Carlos da Silva Miranda, de 64 anos, que estava dentro de um coletivo da linha 315 (Central x Recreiro),.
Segundo a Polícia Militar, agentes do 22º BPM (Maré) observaram criminosos em um veículo que tentavam roubar uma motocicleta no sentido Barra da Tijuca. Ao intervirem no assalto, houve confronto e os suspeitos atiraram contra os policiais e na direção do ponto de ônibus.
As mortes estão sendo investigadas pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC). A especializada busca pelas identificações e pelo paradeiro dos suspeitos que fugiram do local logo após a troca de tiros. Um deles, identificado como Alexsandro de Andrade Venâncio, de 24 anos, foi baleado ainda no local e está preso sob custódia.
Aos policiais, o suspeito revelou que é da Mangueira, Zona Norte, e que estava na companhia de outros três criminosos conhecidos como MD, Coroa e Diretor. Um deles seria morador da comunidade do Arará, em Benfica, também na Zona Norte do Rio.
O homem cumpria pena de um ano e oito meses, em regime aberto, por tráfico de drogas. Ele foi condenado em outubro de 2022 pelo crime e sua pena era consistentes na prestação de serviços à comunidade, em entidades assistenciais, hospitais, escolas, orfanatos ou outros estabelecimentos congêneres, em programas comunitários ou estatais.
Ainda segundo a Polícia Civil, a perícia foi realizada nos pontos onde Deborah e José Carlos morreram, além da área onde aconteceu o tiroteio. As duas armas dos suspeitos apreendidas na ação e uma do policial militar envolvido no confronto passarão por uma perícia para saber de onde partiu os disparos que acertaram as vítimas. As diligências estão em andamento para elucidar as circunstâncias do crime e esclarecer todos os fatos.
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