Projetos imobiliários podem interferir negativamente no sítio arqueológico do Cais do Valongo, diz o MPFRenan Areias/Agência O Dia
O Cais do Valongo foi reconhecido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) como patrimônio mundial, por representar a mais importante evidência física da chegada de africanos escravizados ao continente americano. Segundo o MPF, os projetos propostos pela empresa Cury podem comprometer a integridade paisagística e histórica do patrimônio mundial, impactando negativamente tanto a ambiência quanto a visibilidade do bem tombado.
A recomendação destaca a necessidade de avaliações detalhadas de impacto patrimonial antes de qualquer aprovação formal de construção na área. Os procuradores da República Sergio Suiama e Jaime Mitropoulos, que assinam a recomendação, afirmam que “a Unesco, ao reconhecer o valor universal excepcional do Cais do Valongo, estabeleceu diretrizes rigorosas para a preservação do sítio, incluindo a realização de avaliações de impacto e a manutenção da relação entre o sítio arqueológico e a Baía de Guanabara”. O documento recomenda que o Iphan indefira os projetos imobiliários apresentados pela Cury, e se abstenha de liberar qualquer intervenção na área sem a devida aprovação dos órgãos competentes de preservação do patrimônio.
Além disso, a recomendação solicita que a empresa Cury apresente, no prazo de 30 dias, o detalhamento do projeto imobiliário pretendido, acompanhado de estudo volumétrico de morfologia urbana da área externa do Cais do Valongo e do prédio Docas Pedro II, de forma a possibilitar a compreensão do impacto provocado pela edificação.
O MPF também se dirigiu à Prefeitura, pedindo que os órgãos gestores da Zona Portuária fortaleçam, por meio de medidas paisagísticas, a relação entre a orla marítima e o Cais do Valongo, conforme determinado pela Unesco, o que justifica, inclusive, a conveniência e oportunidade de edificação de “Espaço Rio-África” em imóvel contíguo ao edifício Docas Pedro II. A construção foi projetada pelo engenheiro negro abolicionista André Rebouças e está reservada para instalação do Centro de Interpretação do Cais do Valongo e do Laboratório Aberto de Arqueologia Urbana (Laau).
Desde 2013 o MPF acompanha as ações de proteção e valorização do Cais do Valongo. O sítio arqueológico, revelado em 2011 e inscrito na lista do patrimônio mundial da Unesco em 2017, simboliza um capítulo crucial da história da escravidão e da luta pela liberdade no Brasil.
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