Familiares durante o velório de Richard Ferreira, no Cemitério da Penitência, no Caju, nesta terça-feiraRenan Areias/Agência O Dia

Rio - Richard Ferreira da Cruz, de 20 anos, morto após uma briga com dois funcionários do Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, Zona Oeste, foi sepultado na manhã desta terça-feira (13), no Cemitério da Penitência, no Caju, na zona portuária. Segundo a família, o jovem deu entrada na unidade após ser esfaqueado.  
A mãe, Alessandra Ferreira, afirma que Richard morreu após ser agredido pela equipe médica. Segundo a denúncia, os socos e chutes reabriram a ferida causada pela facada, o que teria levado o rapaz ao óbito. Durante o velório, a mãe não conteve as lágrimas. 
Com a dor da perda estampada no rosto, a mãe era consolada por familiares e amigos presentes. Em certo momento, Alessandra chegou a se ajoelhar no chão, quando também falou sobre como a morte precoce do filho deixava um vazio imenso.
"Minha vida acabou, meu companheiro foi embora, minha vida foi embora. Esse monstro tem que pagar porque todos os hospitais precisam ter ciência dos funcionários que vão colocar lá dentro.  Meu filho tinha problemas psicológicos e esse monstro ficou chamando ele pra briga, vendo que ele estava debilitado. Faltou preparo do hospital, e meu filho ficou pedindo para tirar ele de lá porque não estavam dando atenção e confiança a ele. Eu fui acalmá-lo, mas esse monstro foi para cima dele com brutalidade, enfiando o dedo na cara dele e gritando", disse.
Ainda segundo ela, o filho reagiu e também foi para cima do funcionário do hospital. "A reação do meu filho foi se levantar e ir para cima dele, mas ele estava ferido e era um menino magrinho que não apresentava perigo e esse monstro o tempo todo querendo dar chutes e pontapés. Meu filho caiu e eu tive que ficar com ele no meu colo, o sangue jorrava e ele ficou roxo, acho que ele faleceu naquela hora mesmo. Eu quero justiça, isso não pode ser feito com paciente nenhum, independente de qualquer coisa. Eles poderiam ter imobilizado ele ou dado um calmante. Era para o Richard estar aqui, vivo”, afirmou ao DIA.

Alessandra também revelou que seu filho lutava contra a depressão e a bipolaridade. Apesar dos desafios, o jovem tinha o sonho de se tornar escritor. Alessandra contou que eles estavam prestes a procurar um local para apresentar o texto que ele havia escrito. "O sonho dele era ser escritor. Na segunda-feira a gente ia procurar um lugar para ele apresentar o texto dele, 'Entre Amor e Paixão'. Ele sempre ficava escrevendo no computador", desabafou.

A Polícia Civil investiga se o jovem morreu em decorrência das agressões por parte dos funcionários de saúde durante o atendimento na unidade, no domingo (11). O secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, disse estar acompanhando de perto o andamento das investigações em torno da morte de Richard e afirmou que a denúncia da família é grave.
A Secretaria Municipal de Saúde do Rio (SMS) afastou, temporariamente, os dois profissionais envolvidos na briga. Segundo a pasta, os servidores foram retirados do serviço para poderem prestar esclarecimentos à Polícia Civil, além de receberem suporte ocupacional.

Em nota, a SMS disse que os profissionais alegam terem sido agredidos pelo jovem e usado os meios necessários para a contenção e que caberá à investigação policial concluir se houve excessos que contribuíram para o óbito. “O jovem deu entrada na unidade com um corte no pescoço e bastante agitado. Durante uma briga verbal e física com os profissionais, ele não resistiu aos ferimentos e morreu na unidade”, diz trecho da nota.

A mãe do jovem contesta a versão e diz que o rapaz foi agredido por um médico com um soco no local do ferimento, no domingo (11), durante o atendimento. A agressão, segundo ela, agravou o corte no pescoço, levando à morte. Alessandra também contou que o filho estava bastante agitado no momento do atendimento.

Já os profissionais envolvidos no caso afirmaram em depoimento na 16ª DP (Barra da Tijuca) que Richard deu entrada com um ferimento no pescoço e, durante o atendimento, começou a agir de forma agressiva. Ele também teria tentado fugir da unidade de saúde. Em outro momento, Richard teria ameaçado os funcionários.
Na sequência, um médico de plantão foi até a sala de atendimento e tentou medicar Richard, mas teria sido golpeado com dois socos no rosto. "Richard iniciou as agressões contra o médico, que para se defender tentou imobilizar o paciente, que estava descontrolado e em acesso de fúria", diz o relato.

Ainda segundo o depoimento do profissional de saúde, a mãe de Richard, ao ver a cena, o puxou, mas ele acabou caindo no chão. "Foi neste momento que ele começou a sangrar muito. Ele foi colocado na maca e levado para sala vermelha, local onde é realizado procedimento em paciente que estão com quadro clínico agravado", informou o profissional em depoimento.

Além desta internação, Richard já havia sido hospitalizado no Centro Especializado de Reabilitação (CER) da Barra da Tijuca, em maio deste ano, com quadro de surto psicótico. Na ocasião, ele tinha lesões no braço causadas por ele mesmo durante um ataque de fúria. Ainda neste episódio, foi registrado pela equipe médica que ele precisou ser contido por militares do Corpo de Bombeiros. Na unidade de saúde, ele havia sido diagnosticado com 'Transtorno de personalidade com instabilidade emocional'.

O caso foi registrado na 16ª DP (Barra da Tijuca) e encaminhado à Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), que ouve testemunhas para concluir as investigações.