Rio - O Tribunal do Júri que julga Rogério Avelino da Silva, o Rogério 157, ex-chefe do tráfico da Rocinha e acusado pelas mortes de três rivais na comunidade em 2017, começou às 11h desta terça-feira (13) e já dura mais de 10hrs. Ao longo do dia, foram ouvidas quatro testemunhas da acusação, dentre elas, dois policiais militares e um ex-comparsa do réu, preso desde 2018 e atualmente cumprindo pena na Penitenciária Federal de Porto Velho, em Rondônia.
A sessão apura se o traficante foi o responsável por ordenar as mortes de Ítalo de Jesus Campos, o Perninha, Robson Silva Alves Porto e Wellington Cipriano da Silva Filha. Segundo a promotoria do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), as execuções tiveram autoria de Fernando dos Santos Alves, o Fê do Escadão, e serviram de estopim para uma guerra pelo comando do tráfico na Rocinha, também em 2017.
Até as 17h, uma das quatro testemunhas ouvidas, Antônio Joel Américo Costa, da acusação, causou rebuliço ao mudar sua versão sobre os fatos. Segundo a promotoria do MPRJ, o ex-comparsa de Rogério foi uma das testemunhas do caso à época, quando relatou à Polícia Civil ter sido espancado por integrantes da quadrilha do réu justamente por falar sobre Perninha. Enquanto era repreendido, ele também teria ouvido do próprio Fê que partiu de Rogério a ordem para a execução dos três criminosos.
No Tribunal do Júri, contudo, Antônio negou a versão, dizendo não se lembrar do fato e o atribuindo apenas a outro criminoso, que seria "homem de segurança" de Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem da Rocinha. A promotoria do MPRJ chegou a se revoltar apontando Rogério 157 como "dono da Rocinha" e afirmando que haveria, no julgamento, gente para "dizer o que ele quiser que seja dito".
Durante sua atuação, os advogados de Rogério 157 tentaram atribuir a responsabilidade pelos assassinatos a um criminoso conhecido como Parazinho. Eles também exploraram o argumento de que Rogério seguiria na facção Amigos dos Amigos (ADA) e que não tinha motivos para ordenar a execução dos três criminosos.
A estratégia, no entanto, foi refutada pela promotoria, que coloca as mortes como uma investida desesperada de Rogério para evitar a perda de posto. A tese da acusação é que Nem pretendia tirar Rogério do comando, o que o motivou a se mudar para uma facção inimiga, o Comando Vermelho, onde conseguiu apoio e deu origem ao confronto de sete anos atrás.
A defesa de Rogério 157 iniciou sua fala por volta de 19h, com um tempo disponível em torno de duas horas e meia. Depois, os passos seguintes previstos seriam os seguintes: réplica da promotoria; tréplica da defesa; e veredito dos jurados. A expectativa é que o julgamento se estenda até a madrugada desta quarta-feira (14).
Quem é Rogerio 157
Preso desde 2018 por tráfico de drogas, Rogério 157 chegou a ser um dos criminosos mais procurados do Rio, após sua participação na guerra pelo controle da Rocinha. Ele começou sua trajetória no mundo do crime com uma função de destaque na hierarquia da organização da região, já que era chefe da "parte baixa" da comunidade e atuava como segurança do traficante Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, na época, chefe do tráfico. Em setembro de 2017, Nem perdeu o controle da favela para Rogério 157, que comandou uma invasão, com o apoio de outra facção criminosa. A disputa provocou diversos confrontos na comunidade.
O traficante tem quatro condenações na Justiça por crimes como tráfico e corrupção e acumula uma pena de 61 anos de reclusão. Em janeiro do ano passado, a Polícia Civil frustrou um plano para trazer o traficante de volta a um presídio do Rio. Na ação, os agentes cumpriram três mandados de prisão contra suspeitos de oferecer vantagem indevida a funcionários públicos. Os alvos da operação foram o advogado Josué Ferreira dos Santos, o policial civil Mário Augusto Bernardo Junior e Rogério 157.
Segundo as investigações, o policial e o advogado tentaram aliciar um agente da SSINTE para retardar o encaminhamento de um ofício de permanência de Rogério 157 em unidade prisional federal. Com a perda do prazo de renovação da estadia do detento em Rondônia, o advogado pretendia ingressar com um pedido na Justiça de regresso do traficante ao estado do Rio de Janeiro.
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