Segurança em foco: integração e inteligência no combate ao crime
Em entrevista exclusiva, secretário Victor dos Santos detalha a eficácia da Ação Ordo, combate ao crime organizado e os desafios da segurança pública no Rio de Janeiro
Secretário de Segurança do Estado do Rio de Janeiro, Victor Cesar Carvalho dos Santos - Jonathan Fernandes / Divulgação - SESP
Secretário de Segurança do Estado do Rio de Janeiro, Victor Cesar Carvalho dos SantosJonathan Fernandes / Divulgação - SESP
Rio - A segurança pública do Rio de Janeiro vive um momento de transformação e desafios. Em entrevista ao nosso jornal, o Secretário de Segurança Pública, Victor dos Santos, expõe os detalhes da Ação Ordo, uma iniciativa inovadora que busca melhorar a segurança em áreas críticas da Zona Oeste. Santos também discute o impacto das recentes quedas na criminalidade, as estratégias para enfraquecer o crime organizado e o papel da tecnologia na segurança pública. Acompanhe a seguir os principais pontos abordados na conversa.
Este mês a Ação Ordo, com atuação em seis bairros da Zona Oeste, completa um mês. Qual a diferença dessa ação para uma operação policial habitual e quais os resultados mais impactantes da Ordo?
Victor dos Santos: A Ação Ordo é diferente de uma operação com prazo de início e término: tem a capacidade de mobilizar e desmobilizar o efetivo rapidamente, tanto que a ação começou em algumas comunidades e foi expandida para outras. Além do aumento de policiamento na rua, também há um grande trabalho de inteligência. Um dos nossos objetivos é produzir conhecimento: levantamos CNPJs que podem estar sendo utilizados para alimentar o crime organizado e que exploram atividades que, de alguma maneira, geram receita para a criminalidade. Ficamos 15 dias sem um único homicídio na região e tivemos queda de 70% de roubo de rua.
Como funciona o trabalho de asfixia financeira das organizações criminosas e como isso pode contribuir para a redução da criminalidade?
Victor dos Santos: Esse é um trabalho fundamental para o enfraquecimento do crime organizado. É um trabalho importantíssimo de investigação da Polícia Civil e que leva um pouco mais de tempo. Os agentes trabalham com o Comitê de Inteligência Financeira e Recuperação de Ativos, têm um banco de dados integrado com o Coaf, a Receita Federal, fazem investigação financeira de empresas dentro de comunidade, de associação de moradores. Hoje nosso objetivo na segurança pública não é mais só prender ou apreender, é produzir conhecimento porque a receita das organizações criminosas não é proveniente apenas da venda de drogas, hoje elas exploram outros serviços que geram muito mais receita.
O estado do Rio alcançou quedas históricas na letalidade violenta e no roubo de cargas no primeiro semestre deste ano em comparação ao mesmo período do ano passado, conforme divulgou o Instituto de Segurança Pública (ISP). Por que esses números não se traduzem em sensação de segurança por parte da população?
Victor dos Santos: A velocidade da informalidade na informação acaba gerando insegurança. Tem um caso recente que viralizou como um arrastão na Linha Amarela, mas não era arrastão, mas uma ação exitosa da polícia que evitou um roubo naquela via. No entanto, as pessoas assustadas começaram a voltar pela contramão e todo mundo filmando, começou a jogar na rede social, grupos de whatsapp. Acabou gerando pânico. E a velocidade da informação é grande e aquilo já viralizou. Por isso é importante a checagem das informações, as fontes confiáveis.
Um dos grandes desafios das forças de segurança é ter que lidar com criminosos fortemente armados com fuzis. No primeiro semestre deste ano, foram retiradas de circulação duas dessas armas de guerra por dia. Como reduzir a entrada desse tipo de armamento no estado do Rio?
Victor dos Santos: A parceria com o governo federal é fundamental. Tivemos recentemente, no Cosud, (o Consórcio de Integração Sul e Sudeste), um grande esforço nesse sentido. O Rio de Janeiro consome esse tipo de material, mas a gente não fabrica aqui. Ele tem um caminho. Então, essa parceria, seja através do Cosud ou diretamente com o Ministério da Justiça, vai fazer com que a gente tenha um resultado mais positivo. A fiscalização das fronteiras, portos e aeroportos, não é feito pela segurança pública estadual, mas sim pelas instituições federais. Por isso a importância da parceria com o Governo Federal.
O Governo do Estado do Rio já investiu R$ 4 bilhões em segurança pública. Quais as principais aquisições e como isso impacta no serviço de segurança oferecido à população?
Victor dos Santos: O grande investimento foi em tecnologia. Hoje o CICC é um grande hub de tecnologia, que veio para otimizar o recurso humano. A gente não tem condição de colocar um policial em cada esquina, mas existem várias câmeras que podem ser utilizadas como ferramenta para auxiliar. O reconhecimento facial foi um sucesso no Réveillon, no Carnaval, no show da cantora Madonna e tem sido até hoje. O leitor de placa de veículos, a mesma coisa. Então, esse é o grande investimento e as aquisições desses softwares ou de hardware vieram auxiliar a segurança pública a otimizar o seu recurso humano.
O Rio de Janeiro tem vocações naturais para o turismo, lazer, entretenimento e novas agendas surgem a partir disso. Como a segurança pública se insere nesse processo?
Victor dos Santos: O turismo é o ano todo, é o tempo todo, e o Rio de Janeiro é privilegiado, com suas belezas naturais. A segurança é muito importante para que o turista, seja ele internacional ou interno, tenha a melhor experiência possível, que é isso que faz com que ele, ao voltar pro seu país, ao voltar pro seu estado, passe para as outras pessoas essa boa impressão que teve do Rio de Janeiro. A segurança pública é transversal, ela passa por tudo. Quando a gente fala de turismo, a gente fala também dos eventos. O G20 está aí na porta, já batendo, em julho tivemos um grande teste com várias reuniões e a gente não teve nenhuma intercorrência, nenhum visitante aqui passou por uma experiência ruim no que diz respeito à segurança pública.
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