O gerente Júlio César, 63, tem o hábito de parar na praça para descansar antes de seguir com sua rotinaReginaldo Pimenta / Agência O Dia

Rio - O ataque a tiros que deixou cinco pessoas mortas e duas feridas na Praça Barão de Drummond, em Vila Isabel, na noite do último domingo (18), deixou moradores aterrorizados. Conhecido pela boemia e pela tradição musical dos sambas de Noel Rosa e Martinho, o bairro da Zona Norte vive uma rotina de medo e insegurança, agravada pela disputa entre facções.
"A gente não tem mais segurança em Vila Isabel, o pessoal não vêm mais para a praça. Ficam com medo de trazer as crianças para brincar porque vira e mexe tem confusão. Agora, foi pior ainda, e a gente fica com medo. Infelizmente, somos obrigados a sair de casa e eu, por exemplo, preciso ir no mercado, então tenho que passar por aqui [Praça Barão de Drummond]. É triste demais, mas temos que enfrentar isso", relata o aposentado Elis Pereira, 82, que mora no bairro há mais de 50 anos.
Os moradores tentam retomar a rotina, apesar da apreensão causada pela insegurança. O movimento na região segue normal, com estabelecimentos comerciais abertos e moradores circulando pelas ruas, mas a tensão é perceptível. Na manhã desta terça-feira (20), equipe de DIA registrou viatura da PM reforçando policiamento na principal praça da região.
A aposentada Rosa Rodrigues participa regularmente das aulas de Tai Chi Chuan na Praça Sete, como também é conhecida a Barão de Drummond, todas as terças e quintas-feiras. Apesar da apreensão com a violência na região, especialmente após os recentes ataques, as aulas continuam acontecendo. Para Rosa e os demais participantes, atividade ao ar livre é um bálsamo diante da rotina de tristeza.
"Infelizmente, nossa aula não muda. Não vamos deixar de fazer porque isso acontece o tempo todo. A polícia sempre está por aqui, mas não resolve nada. A gente precisa de ajuda, Vila Isabel precisa de ajuda. A tendência é que a situação piore ainda mais", desabafa Rosa.
"Estamos muito assustados porque não tem segurança no bairro, está tudo muito estranho. Depois do que aconteceu, se você passar aqui às 19h não tem mais ninguém. Fica todo mundo em casa. Ficou um clima de tensão. Moro aqui há 30 anos e nunca vi uma situação tão assustadora como agora", denuncia uma moradora, que preferiu não se identificar.
O gerente de loja Júlio César Batista, 63 anos, passa todos os dias pela Barão de Drummond a caminho do trabalho, no Grajaú. Nos últimos dois meses, ele havia adotado o hábito de parar em um dos bancos para descansar antes de seguir com sua rotina. No entanto, após o ataque, o medo tomou conta. 
"Depois do ocorrido, ficou até seguro porque está com polícia, mas como existe uma guerra de facção, a gente fica apreensivo. Depois que acontece algo desse tipo, ninguém quer vir mais aqui porque fica com medo de acontecer de novo. Eu costumo sentar aqui na praça para descansar antes de ir para o trabalho, mas à noite eu faço outro caminho e evito passar aqui porque já fico com medo", relata.
Moradores pedem por mais segurança e ações efetivas para que o bairro volte a ser um lugar tranquilo e acolhedor. "Aqui está cada vez pior. Agora, você sai de casa já pensando na possibilidade de ser assaltado a qualquer hora do dia. Eu ando apreensivo, evito sair de casa. Saio apenas quando é necessário, para fazer compras ou ir ao médico. Falta segurança, o bairro está largado, e a sensação que fica é que você pode sair de casa e não voltar mais", critica o autônomo Marco Antônio Martins, 43 anos, nascido e criado no bairro.
A professora de uma creche da região e moradora do Morro dos Macacos, que preferiu não se identificar, diz que a violência também altera a rotina de crianças da comunidade.
"Isso afeta a vida dos moradores, e o mais triste é que isso tem afetado a vida das criancinhas na creche em que eu trabalho. Percebemos que elas desenvolveram vários traumas porque quando começa qualquer barulho, elas ficam questionando o que é e tentando se proteger. A gente sente isso como educadora e mãe. A verdade é que a gente não tem mais o direito de ir e vir”, desabafa.
Nas redes sociais, a diretoria da escola de samba Unidos de Vila Isabel fez um chamado coletivo pedindo paz, além de ressaltar que o bairro precisa continuar sendo "sinônimo de congregação, festa e alegria, como sempre foi".
Procurada, a Polícia Militar informou que a região conta com patrulhamento por meio de viaturas e moto patrulhas, além do emprego de agentes que seguem o roteiro de policiamento do 6° BPM (Tijuca) e da UPP Macacos. 
Terror
No momento do ataque, no domingo, acontecia um evento na Praça Barão de Drummond, com a presença de muitas famílias. A alegria foi interrompida quando criminosos chegaram atirando. Em imagens que circulam nas redes sociais, é possível ver o desespero do público e as vítimas ensanguentadas. Segundo a polícia, o confronto é fruto da disputa entre o Terceiro Comando Puro, que comanda o Morro dos Macacos, e o Comando Vermelho, que domina comunidades vizinhas, como o São João, no Engenho Novo.
Segundo a Polícia Civil, morreram Gabriel Pereira Candido, de 24 anos, Pedro Henrique Pereira dos Santos, 18, Pedro Henrique Barbosa da Conceição, também de 18, o adolescente T. M. L, de 17 e Walace de Oliveira Cláudio, 35. Outras duas pessoas foram baleadas, sendo que uma delas, Daniel Carvalho de Souza, 33 anos, segue internado em estado grave. Também ferido no ataque, Juan Victor Pereiras já recebeu alta. Entre os cinco mortos, um deles é apontado como chefe do tráfico no Morro dos Macacos.
Em nota, a corporação informou que a Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) investiga o caso. Segundo a Civil, três suspeitos de envolvimento no ataque foram identificados e diligências estão em andamento para apurar todos os fatos.