Ludmilla de Souza, de 29 anos, e Walace de Oliveira, 35, eram casados há 7 anosReginaldo Pimenta / Agência O Dia

Rio - Walace de Oliveira Cláudio, de 35 anos, é a quinta vítima do ataque a tiros ocorrido na Praça Barão de Drumond, em Vila Isabel, na Zona Norte, na noite de domingo (18). Baleado na cabeça, o técnico em Tecnologia da Informação teve morte cerebral confirmada na tarde desta segunda-feira (19), no Hospital Federal do Andaraí, onde estava internado em estado gravíssimo. 
Walace e a mulher, Ludmilla Souza do Nascimento, de 29 anos, lanchavam em um dos trailers do local, que também é conhecido como Praça 7, enquanto o filho brincava num pula-pula, quando bandidos passaram atirando. 
Junto há sete anos, o casal não morava mais em Vila Isabel. Ludmilla e Walace haviam se mudado para Bonsucesso no ano passado, mas o marido, segundo ela, fez questão de voltar ao bairro para assistir ao jogo do Botafogo, seu time do coração, ao lado do pai. Após o fim da partida, eles decidiram ficar um pouco mais, sentados e conversando. Foi nesse momento que a tragédia aconteceu e interrompeu uma noite que deveria ter sido de alegria. 
"Eu ouvi o primeiro tiro e corri para pegar minha filha. O Walace correu para pegar nosso filho de 4 anos, que estava no parquinho. Ele tentou atravessar a rua para fugir e se esconder, mas atiraram e ele abaixou para tentar proteger nosso filho. Nesse momento, ele foi atingido de lado na cabeça e caiu. Eu fiquei tão confusa na hora, que só corri gritando muito e fiquei com a minha filha abaixada. Quando virei e fui correr em direção a ele, já vi ele caído. Minha reação no momento foi ficar em cima dele e ficar perto dele. Meu marido não queria ir embora agora, nosso filho só tem 4 anos. Se ele não tivesse colocado a cabeça dele na frente, meu filho teria sido atingindo", desabafou Ludmilla, em entrevista ao DIA
O menino, segundo a mãe, presenciou o momento em que o pai foi baleado e, ainda, o viu ensanguentado no chão. A criança, porém, ainda não sabe da morte. Para o garoto, Walace está internado no hospital se recuperando do ferimento, uma história contada pela família na tentativa de protegê-lo.
"Meu filho viu tudo, ele viu o pai caído com um tiro na cabeça. Ele chora o tempo todo e pede para ver o pai. Ele acha que o pai ainda está no hospital vivo. Como eu falo para o meu filho que o pai dele não está mais aqui? Ele era nossa coluna e nosso alicerce", lamentou a viúva. 
Walace era funcionário terceirizado da Petrobras e, de acordo com a mulher, foi graças ao trabalho que o casal conseguiu deixar a comunidade do Morro dos Macacos, onde morava anteriormente. Ao voltar ao local da tragédia, na manhã desta terça (20), Ludmilla relembrou o quanto o marido sempre se dedicou ao emprego para proporcionar uma vida melhor para a família. 
"A gente saiu porque tivemos oportunidade de morar fora da comunidade, em um local mais tranquilo e longe dessa guerra. E só tivemos essa oportunidade porque meu marido era muito trabalhador e muito esforçado. Ele conseguiu comprar o apartamento dele, o carro dele, fez faculdade, fez tudo correto para acabar desse jeito. O meu coração está em pedaços porque ele era mais que um marido pra mim, ele me ensinou tanta coisa. Eu não desejo essa dor nem para a pessoa que fez isso com ele porque nada vai trazer ele de volta. Eu não vou poder mais ligar para o meu marido às 19h e ouvir ele falar que está enrolado no trabalho", lamentou Ludmilla, emocionada.
Walace não foi a primeira pessoa da família a ser vítima da violência causada pela guerra entre traficantes rivais na região. No início do mês, o primo de Ludmilla, G. S. de A., de 13 anos, foi morto a tiros no Morro dos Macacos. O adolescente voltava para casa após uma festa quando foi atingido durante um ataque.
O Morro dos Macacos vem sendo palco de uma constante guerra pelo controle territorial entre o Terceiro Comando Puro (TCP), que domina atualmente a comunidade, e o Comando Vermelho (CV). Desde o início desse ano, a região sofre com tentativas de invasões de traficantes do Morro São João, no Engenho Novo, controlado pelo CV, que faz divisa com a comunidade.  
O ataque de domingo (18) é mais um desdobramento da disputa, já que um dos mortos seria o alvo dos atiradores. Segundo a Polícia Civil, além de Walace, morreram Gabriel Pereira Candido, de 24 anos, Pedro Henrique Pereira dos Santos, 18, Pedro Henrique Barbosa da Conceição, também de 18; e o adolescente T. M. L, de 17. Outras duas pessoas foram baleadas, sendo que uma delas, Daniel Carvalho de Souza, 33 anos, segue internado. Também ferido no ataque, Juan Victor Pereiras já recebeu alta.
Governador se manifesta
O governador Claudio Castro (PL) usou a rede social X (antigo Twitter) para afirmar que um dos mortos era um dos chefes do tráfico no Morro dos Macacos. O chefe do Executivo estadual não citou nomes, mas de acordo com informações, ele seria Pedro Henrique Barbosa da Conceição, o Marreco. 
Em nota, a Polícia Civil informou que a Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) investiga o caso. Segundo a corporação, três suspeitos foram identificados e diligências estão em andamento para apurar todos os fatos.