Estatuto do 'Povo de Israel' é apreendido durante investigações sobre a facção criminosaDivulgação
Estatuto do 'Povo de Israel' prevê que estuprador deverá ser chamado de 'amigo do artigo'
Papel escrito à mão por criminosos possui 19 'mandamentos' a serem seguidos pelos presos que integram a facção
Rio - O 'Povo de Israel', facção criada dentro dos presídios do Rio há mais de 20 anos, tem um estatuto próprio com 19 regras que devem ser seguidas pelos 18 mil presos. O documento, obtido pela reportagem de O DIA, consta no processo da Polícia Civil que investiga o grupo criminoso. No segundo mandamento da quadrilha, consta a proibição do uso da palavra "estuprador" entre o grupo. O criminoso que cumpre pena por estupro deve ser chamado de "amigo do artigo".
De acordo com as investigações da Polícia Civil e da Secretaria de Administração Penitenciária do Rio de Janeiro (Seap), a facção surgiu no presídio de Água Santa, em 2004, e recrutou presos que não pertenciam a outras facções, entre eles estão estupradores. Isso explica esta regra constar no estatuto.
Outro mandamento que chama a atenção no estatuto, escrito à mão dentro de dentro da cadeia, é a de número 12: "Não cobiçar a etapa do amigo, pois cada um tem a sua". Esta regra se refere à função exercida por cada um dentro do 'Povo de Israel'. Confira o estatuto:
Este tipo de organização dentro do grupo chamou a atenção da polícia. As investigações, que tiveram início a partir de relatório da Seap, apontaram que o golpe do falso sequestro ocorre em três partes muito bem definidas internamente, sendo a primeira delas pelos chamados "empresários", que conseguem os celulares usados dentro da prisão; seguidos pelos "ladrões", responsáveis por fazer ligações para as vítimas, imitando as vozes de pessoas que estariam sob poder dos bandidos; e, por fim, os "laranjas", comparsas de fora da cadeia que recebem o dinheiro do crime. Cada um deles fica com 30% do valor obtido e o restante vai para o caixa do grupo.
O que é o Povo de Israel?
Alvo de uma operação da Polícia Civil, nesta terça-feira (22), o 'Povo de Israel' surgiu há 20 anos nos presídios do Rio de Janeiro. A facção criminosa é investigada por aplicar o golpe do falso sequestro de dentro de presídios, além de tráfico de drogas, e movimentou cerca de R$ 70 milhões em dois anos, lavados por meio de laranjas e empresas de fachada.
Segundo a Delegacia Antissequestro (DAS), que realizou a ação desta terça-feira, a facção surgiu no ano de 2004, após a separação de criminosos, por conta de desavenças em uma rebelião. A organização criminosa, atualmente, conta com cerca de 18 mil presos e já ocupa 13 unidades prisionais - chamadas pelos detentos de aldeias. O número representa 42% do efetivo prisional e a base da quadrilha é o Presídio Nelson Hungria (Bangu 7), no Complexo de Gericinó, na Zona Oeste.
Veja quem são os chefes da facção
São apontados como chefes da facção: Avelino Gonçalves, o Alvinho; Jailson Barbosa, o Nem; Marcelo Oliveira, o Tomate; e Ricardo Martins, o Da Lua, todos atualmente presos. Segundo a investigação, Nem e Da Lua eram os principais responsáveis pela estrutura financeira da organização criminosa, através de um esquema de operadores financeiros e laranjas. Os agentes também descobriram diversas modalidades de lavagem de dinheiro cometida pela facção, como fracionamento de depósitos, alta fragmentação de saques em espécie e aquisição de imóveis e joias.
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