Familiares de homens que muro desabou em cima deles estiveram no IML de Nova Iguaçu, nesta sexta-feira (25).Pedro Teixeira/Agência O Dia

Rio - Familiares dos três operários mortos no desabamento de um muro de uma obra da Companhia Estadual de Água e Esgotos do Rio (Cedae), ocorrido em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, nesta quinta-feira (24), relataram que as vítimas não estavam com equipamentos de proteção e tiveram que continuar trabalhando, mesmo com o começo do vendaval.
As famílias de Kauan Monsão Maria, de 21 anos, de Alan Amoedo, 45, e de Antônio José Júnior, 29, foram ao Instituto Médico Legal (IML) de Nova Iguaçu, nesta sexta-feira (25), para reconhecer e liberar os corpos.
Marcelo William, pai do jovem, contou que o filho começou a trabalhar na empresa que presta serviço para a Cedae há 15 dias e que não foi oferecido Equipamento de Proteção Individual (EPI) para ele.
"Eu estava vindo do trabalho quando recebi um telefone da namorada dele informando que ele sofreu um acidente e faleceu no local. O que fiquei sabendo é que eles estavam fazendo uma parede enorme, sem segurança alguma e começou uma ventania. O encarregado, em vez de pedir pro pessoal sair, pediu para continuar e aconteceu esse acidente. É difícil. No local do acidente, ele estava sem capacete. Não tinha o equipamento adequado. No local do ocorrido, não tinha nenhuma assistência para a família. É uma sacanagem o que fizeram. Botar um trabalhador para trabalhar sem EPI nenhum, sem segurança", comentou.
O homem destacou que Kauan ia ser pai em breve. Sua namorada está grávida de três meses. Além disso, o jovem tinha um sonho de comprar seu carro e sua casa própria.
"Ele era um garoto sonhador e alegre. Todo lugar onde ele ia as pessoas gostavam dele. Vai deixar um vazio imenso nas nossas vidas. Um pedaço de mim foi embora. Que Papai do Céu cuide bem dele. Foi um sonho interrompido e tomamos uma pancada dessa. Estou indignado e quero justiça", disse Marcelo.
José Ricardo Amoedo, irmão de Alan, afirmou que irá procurar os meios certos para dar prosseguimento ao caso do familiar. Ele também contou que não havia proteção e nem era uma obra segura.
"A gente viu que não tinha proteção, não tinha capacete, não tinha nada. Se já está um tempo ventando, eles deveriam falar para parar. Eu sinto muita falta dele. Era uma pessoa que amava muito. Poxa, o cara estava trabalhando. Poderia ter evitado. Meu irmão era uma pessoa muita divertida. Tinha um coração maravilhoso", comentou.
Alan deixou quatro filhos. Cristiane Rodrigues, mulher do operário, informou que soube da morte do marido pelas redes sociais e que não recebeu contato das empresas envolvidas na obra. "Ninguém sequer deu uma ligação para avisar a família. Quero justiça. Ele saiu da nossa casa vivo às 6h e não voltou mais. Nem sequer uma notícia. Cadê o respeito e a consideração com a família? Cadê o suporte? Ele não é um lixo nenhum. Ele tem filhos, neto e mãe que está sangrando dentro de casa", completou.
Família aponta negligência
Joelson Rufino, irmão de Antônio Júnior, entende que houve negligência, pois a empresa responsável pela obra não teria um técnico em segurança do trabalho no local da obra para evitar qualquer acidente.
"Eu perguntei o porque que eles não tinham um técnico de segurança na obra para poder travar. Eu trabalho em obras. Entendo que se tivesse e, assim que começou o vendaval, ele iria tirar os funcionários de lá. Não foi isso que aconteceu. Poderia ser evitado. A área onde eles estavam trabalhando estava sem segurança. Parecia um total abandono. A gente vai entrar com todo recurso possível para processar a Cedae e a DT Engenharia (responsável pela contratação da vítima)", afirmou.
Segundo Joelson, as empresas não estão dando suporte para sua família. Antônio deixa um filho e a mulher grávida. "Estamos todos abalados com essa fatalidade. Ele tinha pouco tempo nessa empresa até porque a obra tinha pouco tempo. Era um menino bem pra frente, trabalhador e visionário. Fazia tudo para ajudar. Procurava sempre ajudar todo mundo. Um cara fácil de fazer amizade. A morte dele não vai ficar impune", finalizou.
O caso está sendo investigado pela 56ª DP (Comendador Soares). De acordo com a Polícia Civil, os agentes realizam diligências para esclarecer as causas do desabamento.
Alan Amoedo será enterrado no fim da tarde desta sexta-feira (25) no Cemitério Municipal de Mesquita, na Baixada Fluminense. Ainda não há informações sobre os sepultamentos das outras vítimas.
O que diz a Cedae
Procurada, a Cedae informou que o funeral das vítimas será custeado pela companhia e pela DT Engenharia, empresa que presta serviço ao grupo e responsável pela contratação dos funcionários. Nesta sexta-feira (25), equipes do Serviço Social da Cedae estiveram no IML para prestar suporte às famílias. 
Ainda de acordo com a Cedae, o local do acidente foi interditado na manhã desta sexta pela Polícia Civil para realização de uma nova perícia. Equipes da Segurança do Trabalho da companhia acompanharam os serviços, prestando suporte às investigações para esclarecer as circunstâncias do ocorrido.
A companhia destacou que, como procedimento padrão, a Segurança do Trabalho realiza fiscalização diária e, durante vistoria nesta quinta-feira (24), os funcionários usavam Equipamentos de Proteção Individual (EPI).

"A Cedae está colaborando ativamente para apurar os fatos e, caso alguma irregularidade seja identificada, as providências cabíveis serão tomadas", finaliza a nota.
Questionada sobre o assunto, a DT Engenharia ainda não respondeu. O espaço está aberto para manifestação.
*Colaboração de Pedro Teixeira