Dona Creuza falou que a vida do marido era a escolaWaleria de Carvalho / Agência O Dia

Rio - "Ele sempre falava que queria morrer lá na escola. O que me consola é isso porque Damião queria morrer no trabalho e a vontade dele foi feita". As palavras, em tom de conformismo, são da manicure Creuza dos Santos de Carvalho, de 55 anos, que vivia com o segurança Damião de Carvalho, de 76, há quase 30 anos. Ele morreu durante assalto no estacionamento da Associação Educacional Garriga de Menezes, na Rua Araguaia, na Freguesia, em Jacarepaguá, na manhã de sexta-feira (25). O enterro acontecerá, neste domingo (27), às 14h, no cemitério do Pechincha, na Zona Oeste do Rio.
Quando soube do crime, ela estava em Minas Gerais, onde cuida de sua mãe, de 93 anos, que teve um AVC e sofre de mal de Alzheimer, e veio logo para o Rio com dois primos. "Há três anos que fico lá com ela e venho para o Rio a fim de dar atenção ao marido e o filho. Eu me divido. Saí de Minas Gerais, quase na divisa com a Bahia, às duas da tarde de sexta-feira e cheguei ao Rio às quatro. Estou muito cansada e tendo que resolver os trâmites para o enterro".
Creuza lembra do marido com muito carinho e afirma que ele adorava plantas e animais, era torcedor do Botafogo, mas sua maior paixão sempre foi a escola. "Ele trabalhava há 44 anos no Garriga. Tinha se aposentado, mas nem pensava em parar. Falava para ele pegar uns dias com a diretora, dona Noêmia, para descansar, mas Damião não queria de jeito nenhum. Eu ainda sugeri para ele ir para Miguel Pereira porque gosta de planta, de passarinhos, gatos, cachorros, pombo, tudo, ele dava comida para esses bichos. Nós temos sete cachorrinhos em Jacarepaguá. Eu insistia para ele ir, mas ele falou que não queria sair do trabalho de jeito nenhum".
De acordo com a companheira, muitos funcionários da escola ligaram para falar com ela e pediram para que o enterro, em princípio marcado para sábado (26), só aconteça domingo (27) para que mais pessoas possam se despedir. "Meu marido era muito bacana, querido, ajudava a todos. Eu ficava preocupada com aquele horário dele chegar, e às vezes ele não chegava, e eu naquela preocupação. Ele não tinha hora, a vida dele era o Garriga".
Quanto à violência, Creuza não sabe nem o que dizer. "A gente vai fazer o quê? Não tenho nem o que dizer", resigna-se ela, que é Testemunha de Jeová e, apesar da morte do marido, estava serena. "Jeová nos dá conforto, a gente se agarra nele. O Espírito Santo de Jeová é para que tenhamos força e coragem. Pela religião, na morte, a gente dorme para esperar a ressurreição".
Já sua prima, a estudante de enfermagem Fernanda Cubeiro, de 27 anos, que a acompanhava no IML do Centro do Rio, acha que a situação no Rio está insustentável. "Minas é um pouco mais calmo. Também tem violência, mas não é igual ao Rio de Janeiro. Acho que deveria haver mais desempenho das autoridades’’, avalia ela, afirmando que a prima estava meio nervosa durante a viagem.

Casamento
Creuza conheceu Damião quando ela tinha 24 anos e ele, 47. "Aconteceu né. A gente se conheceu, começou a se gostar e fomos morar juntos. Depois casamos e tivemos um filho, o Matheus, de 27 anos, que está muito abalado, mas não está aqui no IML porque foi em casa, em Jacarepaguá, para pegar uns documentos".
De acordo com o comando do 18º BPM (Jacarepaguá), o batalhão intensificou o patrulhamento na região da Freguesia, onde aconteceu o caso. A unidade trabalha em conjunto com a Delegacia de Homicídios para identificar os criminosos responsáveis pelo homicídio. "Cabe ressaltar que foi implementada uma estratégia de patrulhamento com o emprego de policiais do Batalhão de Polícia de Choque e do Batalhão de Jacarepaguá", informou a Corporação.
A Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) investiga a morte de Damião de Carvalho. A Polícia Civil acrescenta que a delegacia distrital da área investiga todos os casos registrados na unidade, visando identificar e prender os autores envolvidos nos delitos. A instituição trabalha em conjunto com a Polícia Militar para coibir crimes praticados na região.