Publicado 11/11/2024 21:24 | Atualizado 11/11/2024 22:15
Rio - Assassino confesso da advogada Anic Herdy, Lourival Correa Netto Fatica teria entrado em contato com a filha e trocado mensagens com ela duas vezes depois de ser preso. A comunicação entre os dois aconteceu poucos dias depois dele chegar à Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, onde estava desde o dia 22 de março.
PublicidadeUm relatório da Polícia Civil indica que Lourival contatou Maria Luiza pela primeira vez em 27 de março. As informações são do portal de notícias 'G1'. Na primeira troca de mensagens, ele orienta a filha a dar instruções ao advogado de defesa sobre um rastreador no carro apreendido no momento da prisão.
"Fala para o advogado sobre o carro. Mas para ele ter cuidado, pois pode se voltar contra mim, sacou?", orientou ele, que chegou a se despedir de Maria Luiza. "Hoje não chamo mais. Amo você. Eu estou bem. Estou na sala dos polícias", disse indicando que não conseguiria mais entrar em contato com a filha.
Em outra interação entre os dois, Lourival orienta Maria Luiza a salvar as mensagens e apagar as conversas. Ele ainda dá algumas ordens em relação a pagamentos de contas a serem feitos, como luz, gás, aluguel, seguros e parcela de veículos.
O assassino de Anic ainda passa instruções para o namorado da filha. Lourival diz que é para ele "trocar R$ 2 mil toda semana no Rio. Você [Maria] fica na loja e ele desce. Assim que trocar, deposita na conta dele no Rio, saca em Teresópolis e dá pra sua mãe".
Por meio de nota, enviada ao DIA, a defesa de Lourival Fatica afirma que "no que se refere ao suposto diálogo de Lourival com a filha em março, quando estaria preso, tal extração não foi juntada ao processo ainda, não podendo se manifestar sem antes poder aferir a idoneidade de tal informação". [Leia nota na íntegra no fim da matéria].
Procuradas, a Polícia Civil, a Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) e a defesa da família de Anic não se manifestaram até o fechamento da matéria. O espaço segue aberto.
Relembre o caso
Anic desapareceu em 29 de fevereiro, mas o sumiço da advogada só foi registrado em 14 de março, porque Lourival orientou o marido da vítima a não procurar as autoridades. O réu se apresentou à família como policial federal e passou a ser o responsável por fazer a segurança do casal e dos filhos. Ele tinha acesso irrestrito a cartões de crédito e senhas da família.
Nesse intervalo de tempo, Benjamim recebia ameaças por meio de mensagens de texto dos supostos sequestradores e pedidos de resgate. Ao todo, foi pedido R$ 4,6 milhões, posteriormente pagos em dinheiro e em moedas de bitcoins.
Uma mensagem em tom de despedida foi enviada pelo celular da advogada, uma hora após o pagamento. O texto diz que a própria Anic orquestrou o sequestro para receber o dinheiro e que ela optou por ir embora do Brasil com um suposto amante, que seria policial civil.
Porém, as investigações apontaram que Lourival, os filhos e sua amante, Rebecca Azevedo dos Santos, foram os beneficiários da quantia. Eles compraram um carro de luxo avaliado em R$ 500 mil, uma motocicleta no valor aproximado de R$ 30 mil e 950 celulares, que custaram cerca de US$ 153,9 mil.
Após uma longa investigação, a 105ª DP (Petrópolis) denunciou Lourival, a amante dele e os filhos, Henrique Vieira Fadica e Maria Luíza Vieira Fadica, por envolvimento no crime. Apontados como cumplices do pai, Maria Luiza e Henrique tiveram a prisão revogada pela justiça em outubro.
O corpo de Anic foi localizado em 25 de setembro, após Lourival revelar que o havia ocultado em sua própria casa, em Teresópolis, na Região Serrana do Rio. Ele utilizou a sapata do muro de sua residência para enterrar e concretar o corpo da advogada. Os restos mortais foram encontrados em avançado estágio de decomposição enrolados em um plástico bolha.
Lourival apontou o viúvo da vítima como mandante do crime, por meio de uma carta entregue à sua defesa. De acordo com os advogados, ele teria ordenado a morte da mulher em janeiro e o falso sequestro seria uma maneira de encobrir o assassinato.
O laudo de necropsia do Instituto Médico Legal (IML) identificou que a causa da morte foi estrangulamento e apontou o instrumento usado no crime: uma abraçadeira de plástico, popularmente conhecida como "enforca-gato".
Lourival também participou de uma reprodução simulada da morte de Anic feita pela Polícia Civil. A reconstrução do crime teve início em um shopping de Petrópolis, onde Anic foi vista pela última vez, ao entrar em um carro Jeep Compass preto, no estacionamento. Em seguida, as equipes e o réu foram para o Motel Fujiama, no distrito de Itaipava, onde a vítima teria sido morta.
Com a denúncia de Lourival, a Justiça determinou a quebra de sigilo telemático e telefônico de Benjamim Herdy, viúvo de Anic, na semana passada. A quebra de sigilo telemático envolve o acesso a dados de comunicação via internet, como mensagens de aplicativos, e-mails e registros em redes sociais. Já a quebra de sigilo telefônico refere-se ao acesso a registros de chamadas telefônicas. Com essa autorização judicial, investigadores podem saber com quem uma pessoa conversou, por quanto tempo e quando.
Veja a nota da defesa de Lourival na íntegra:
"Nos quatro depoimentos prestados por Benjamin, marido de Anic que se diz vítima da extorsão havida, ele esclarece ter entregue os dólares a Lourival para entrega aos sequestradores no dia 11 de março. Ele teria colocado os dólares em um saco de lixo e Lourival teria ido levar na comunidade do Terreirão ou fingido ir levar.
Parece ter passado despercebido que os depósitos nas contas dos comerciantes paraguaios em contas de empresas brasileiras de Foz do Iguaçu os quais teria sido feitos no de 6 de março teriam como objeto exatamente a compra de dólares para o pagamento do suposto resgate, já que o valor adquirido nas operadoras de cambio de Teresópolis era insuficiente para o pagamento do suposto preço do resgate. Logo, os depósitos para uma compra de 950 celulares e cigarros eletrônico, os quais Sayd e Hassan nunca apresentaram notas, provas de remessa ou comprovação de eventual entrega se choca inteiramente com a versão apresentada por Benjamin de que efetivamente entregou tais dólares para Lourival levar para o Terreirão e entregar aos supostos sequestradores. As coisas óbvias também devem ser ditas: se os dólares efetivamente estavam no saco para entrega em 11 de março, como os depósitos bancários teriam se revertido na compra de uma quantidade gigantesca de celulares?
No que se refere ao suposto diálogo de Lourival com a filha em março, quando estaria preso, a defesa informa que tal extração não foi juntada ao processo ainda, não podendo se manifestar sem antes poder aferir a idoneidade de tal informação"
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