Homem levanta os braços em rendição mas o militar atira mais duas vezes Reprodução / TV Globo
Câmera corporal mostra PM atirando em homem já rendido na Zona Oeste
Imagens comprovaram divergência entre os depoimentos dos sargentos sobre o caso
Rio - Câmeras corporais instaladas nos uniformes dos policiais militares registraram o momento em que um homem já rendido é baleado por um agente do 9º BPM (Rocha Miranda) no Complexo do Muquiço, na Zona Oeste do Rio, em 18 de fevereiro. O material foi exibido pelo RJTV2, da TV Globo, nesta segunda-feira (2).
Durante uma operação contra o tráfico de drogas na comunidade, os agentes avistaram um homem de 23 anos, que seria um suspeito, e efetuaram disparos. O rapaz, ao perceber a situação, levantou as mãos, se rendendo. Mesmo assim, um dos policiais disparou mais duas vezes em direção à vítima.
Os agentes socorreram o homem e o levaram para o hospital mais próximo. Ele foi preso por tráfico e tentativa de homicídio. Enquanto isso, outros policiais realizaram uma varredura pelo local, e as câmeras flagraram a apreensão de um carregador de pistola no chão, próximo ao local onde o suspeito havia sido baleado.
Os sargentos envolvidos na perseguição prestaram depoimento, e o que chamou a atenção foi a semelhança das declarações feitas por ambos. De acordo com os relatos, os policiais afirmaram ter disparado 48 tiros de fuzil durante a operação e alegaram ter encontrado dois homens armados. Um dos suspeitos, segundo a versão dos agentes, disparou várias vezes contra eles, o que teria motivado a reação.
Ainda conforme os policiais, um dos homens tentou sacar uma arma da cintura e foi atingido no antebraço e no quadril. Junto ao suspeito ferido, os PMs informaram ter encontrado uma pistola, munição, um carregador, um rádio transmissor, um celular e pacotes de drogas. Todo esse material foi apresentado na delegacia, porém as imagens capturadas pelos próprios sargentos não mostram o momento exato da apreensão.
Com base nessa versão, o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) denunciou o homem preso sob as acusações de tráfico de drogas e tentativa de homicídio contra os policiais. No entanto, o caso ganhou uma reviravolta quando a Defensoria Pública, ao analisar as imagens das câmeras corporais dos agentes, contestou as alegações dos materiais apreendidos.
Durante o julgamento, os vídeos das câmeras dos policiais foram apresentados, e, ao ser questionado pelo juiz, o sargento não conseguiu esclarecer onde as armas e drogas teriam sido apreendidas, contradizendo sua versão inicial. O homem baleado no Muquiço permaneceu preso por três meses, mas foi absolvido em junho.
O juiz destacou em sua sentença que os policiais apresentaram versões divergentes durante o depoimento na delegacia e no julgamento. Além disso, as imagens das câmeras corporais não comprovaram que o réu estivesse armado ou envolvido com drogas, o que foi determinante para a decisão de absolvição.
A Polícia Militar informou que a Corregedoria instaurou um inquérito para reunir provas complementares e encaminhar ao Ministério Público.
"Além disso, os policiais foram afastados preventivamente do serviço nas ruas e serão submetidos a um processo administrativo disciplinar para avaliar a capacidade de permanecerem na corporação", diz a nota.
O uso das câmeras corporais foi determinado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e entrou em vigor em maio de 2022.
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