Familiares da jovem baleada pela PRF na Washington Luiz disseram que ela apresentou melhora e já responde a estímulosPedro Teixeira/Agência O Dia

Rio - A agente comunitária de saúde Juliana Leite Rangel, de 26 anos, baleada com um tiro de fuzil na cabeça na Rodovia Washington Luiz (BR-040), na noite da véspera do Natal, está lúcida e se comunica com familiares. A informação foi transmitida na tarde desta quinta-feira (2), pelos pais de Juliana, Dayse Leite e Alexandre Rangel, que vibraram com a melhora no estado de saúde da filha, internada no CTI do Hospital Municipalizado Adão Pereira Nunes, em Caxias, na Baixada.

"Ela está mexendo e respondendo. Eu falei para ela: 'Juju, a gente te ama'. Na hora, ela respondeu: 'eu também', mas só mexendo os lábios, sem sair voz, por conta da traqueostomia", disse a mãe, Dayse Leite. Ainda segundo ela, a melhora no quadro da filha é um presente que a família quer para 2025: "Um milagre".

"Um alívio e uma resposta às nossas orações. Deus é fiel. Era para todo mundo ter morrido. Eu quero Justiça por ela", disse Dayse, que também estava no carro da família, alvejado por vários tiros durante abordagem da PRF.

Juliana foi atingida na cabeça. O projétil perfurou a traseira do veículo, modelo Fiat Siena. No carro, estavam ela, a mãe, o pai, o irmão, de 17 anos, e a namorada dele. "Ela não teve perda de massa encefálica, graças a Deus. Foi por um centímetro que não atingiu o cérebro dela. Ainda assim, os médicos não sabem se ela vai ter sequelas", disse a mãe.

De acordo com Alexandre, pai de Juliana, a situação toda só não foi pior porque o cilindro de GNV do carro e outros pertences da família que estavam no porta-malas reduziram o impacto dos disparos. "Uns brinquedos que ela levaria para os sobrinhos ficaram destruídos. Tudo furado de tiro. O edredom que ela usaria para dormir também", revelou.
"Eu fiquei sem conseguir comer esses dias todos. Estava com nó na garganta e nervoso. Agora estamos mais tranquilos. Sabemos que ela vai sair dessa. Nosso Deus é grande. Eu oro o Salmo 91 todo dia. Só nesse dia que não orei, mas Deus ainda deu o livramento. Era para todo mundo estar morto mesmo", disse.

Alexandre, que é mecânico e trabalha por conta própria, explicou que a família tem contado com a ajuda de amigos e clientes nesses dias de vigília no hospital. "A única coisa que eles estão nos assistindo é a questão do deslocamento. Tem um motorista nos levando para onde precisamos, mas não é só isso, né. Tem alimentação e outras despesas", completou.
Juliana está internada no hospital municipalizado em Duque de Caxias há oito dias. Ela foi socorrida e levada à unidade por PMs que patrulhavam. Segundo os familiares, foram os policiais militares que decidiram socorrer a estudante de enfermagem, antes mesmo da chegada do Corpo de Bombeiros, que haviam sido solicitados pelos agentes da PRF. 
"O médico que atendeu ela disse que se levasse mais tempo, ela certamente teria morrido. O Alexandre, que não conseguiu acompanhar ela na viatura, ficou lá esperando quase 40 minutos para ser atendido", contou a tia da jovem, Valéria Rangel, de 55 anos. "Nós ficamos em choque quando ele ligou contando. Ele achava que ela já tinha morrido", lembrou.
Agentes afastados
Os três agentes da PRF envolvidos na ação da PRF, todos deslocados do serviço interno para plantão, no dia do caso, véspera de Natal, foram afastados pela corporação. Inicialmente, os policiais defendiam que haviam ouvido disparos vindos do carro das vítimas, mas depois reconheceram que cometeram um equívoco.
"Depois que viram o que fizeram, um deles ajoelhou e começou a bater no chão e a outra, uma mulher, ficou o tempo toda sentada com as mãos na cabeça. Eles perceberam o erro", disse Alexandre.   
O caso é alvo de Procedimento Investigatório Criminal (PIC) aberto pelo Ministério Público Federal (MPF).