Saquarema – Alguns moradores da Região dos Lagos tiveram sorte e agilidade para sacar o celular a tempo de filmar um "show de luzes" resultante de uma sequência de raios e relâmpagos na noite desta segunda-feira (6). A singularidade do evento fez as imagens repercutirem nas redes sociais.
Wanderson Luiz Silva, meteorologista e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), explica que, embora chame atenção pela beleza, o acontecimento não chega a ser raro. Trata-se de estar na hora e no lugar certos para testemunhar.
"Depende da localização de nossa visão", afirma o especialista, explicando mais detalhadamente o elemento meteorológico: "Não é um fenômeno em si e sim uma sequência de raios intranuvem dentro de uma nuvem cumulonimbus. Assim são chamadas grandes nuvens de desenvolvimento vertical com muitas correntes ascendentes e descendentes, onde a colisão entre gotículas de água e cristais de gelo, além da coexistência de cargas positivas e negativas, gera as descargas atmosféricas".
Sequência de raios e relâmpagos chama atenção de moradores na Região dos Lagos na noite desta segunda (6).
Lucio de Souza, professor do Departamento de Oceanografia Física e Meteorologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), reforça que o evento é relativamente comum.
"Todos nós já assistimos a uma tempestade de raios distante de nós. Se não assistimos ainda, foi porque não prestamos atenção a ela".
Fatores facilitadores
A série de raios – que pode durar menos de 30 minutos ou horas, a depender do caso – foi vista de diferentes pontos de, ao menos, dois municípios: Saquarema e Maricá. As características geográficas da região litorânea, a propósito, são um facilitador para o surgimento da sequência.
"Calor, alta umidade e a presença do oceano criam um ambiente perfeito para tempestades elétricas. Por isso, essas cidades, assim como outras regiões litorâneas, têm mais chances de ter esse tipo de registro", acrescenta Thiago Sousa, meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia do Rio de Janeiro (Inmet).
Outro fator que tende a favorecer a aparição do evento é a época do ano. De acordo com Sousa, a probabilidade de se avistar uma sequências de raios é maior durante as estações quentes e úmidas, ou seja, primavera e verão.
"Isso acontece porque o calor faz com que a água evapore mais rápido, formando nuvens maiores e mais carregadas de energia. Quando essas nuvens se encontram com correntes de ar frio, surge a tempestade. E é aí que aparecem os raios e relâmpagos".
Beleza x riscos
Mas apesar da beleza da tempestade elétrica, que leva à tentação de se permanecer na rua fazendo os registros em imagens, houve internauta nas redes apreensivo: "Vocês acham bonito? São loucos. Eu morro de medo", admitiu uma usuária no Facebook.
Para Lucio de Souza, professor da Uerj, a preocupação é válida. Ele destaca que o acontecimento oferece riscos, a ponto de, por exemplo, aviões e embarcações alterarem suas rotas. Já para quem está em terra firma – embora a tempestade tenha se dado no oceano, como mostram os vídeos – o ideal é buscar locais cobertos.
"Nós devemos evitar lugares descampados, procurar abrigo edificado ou mesmo um automóvel ou ônibus, porque são isolados da descarga atmosférica. Praias, campos de futebol e árvores são os piores lugares para se estar em um evento desses", alerta o professor.
Thiago conclui com outra recomendação: "Evite contato com água dentro de casa, como chuveiros ou torneiras, durante a tempestade, pois a eletricidade pode ser conduzida pelas tubulações".
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.