E as férias chegaram!! As crianças querem brincar, sair ou ficar o tempo todo no celular, o que não é saudável e cada vez mais comum. Mas o que fazer para que a qualidade de vida dos pequenos seja preservada e os pais consigam conciliar o trabalho com o tempo livre dos pimpolhos? Os que conseguem se programar e tirar férias junto com as escolares é ótimo porque podem até programar uma viagem em família. Mas os pais que por um motivo ou outro são obrigados a trabalhar quando os filhos não estão na escola fica meio complicado, mas possível. Em entrevista ao jornal O DIA duas psicólogas, Claudia Melo e Diana Quintella, que é diretora da MiniMe Educação Infantil, orientam como é possível conviver de forma saudável nesta época.
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O DIA: Em tempo de férias, como os pais podem conciliar o trabalho com a atenção aos filhos?
Claudia Melo: É importante pensar, não só nas férias em especial, mas primeiro analisar como é a relação dos pais com as crianças e vice-versa, pois é importante entender que não são nas férias que se criam vínculos, que você cria uma conexão profunda e sincera com seus filhos, não são só nas férias que a criança quer atenção, quer brincar, que a criança tenha alguma coisa para se expressar, tem algo para verbalizar para esses pais. É importante a gente entender que conciliar essas férias sempre vai exigir uma organização, não só dessa rotina, mas primeiro uma organização mental e emocional.
Às vezes esses pais não vão estar tão disponíveis assim. A mãe/pai talvez esteja adoecida ou alguém está passando por um momento mais delicado, de saúde, então não são nessas férias em especial que a criança vai vivenciar essa experiência. Por isso que a gente não pode acumular toda a nossa energia por um momento especial. Colocar tudo, projetar tudo naquele tempo, naquele momento, e ir fazendo esses pequenos momentos ao longo da vida, ao longo dos meses, das semanas. Mas de qualquer forma é pensar que essa rotina vai precisar ser organizada. É necessário e é importante essa pausa.
É importante que essa rotina esteja, no mínimo, organizada com um plano A e um plano B, porque algumas coisas podem acontecer no caminho. Eu acho que é importante que esses pais estabeleçam, sim, horários de uma forma muito mais específica, conversar com essa criança, deixar claro para ela quais são as condições, mostrar para a criança que ela é prioridade também, que às vezes a criança ao longo das semanas, dos meses, ela acaba não sendo prioridade. Ao buscar esse caminho da transparência, eu acredito que o diálogo fica muito mais fácil, fazer uma parceria com essa criança e criar momentos incríveis.
Diana Quintella: Antes de tudo, é importante ter sempre em mente que a qualidade do tempo juntos é mais importante que a quantidade. Para administrar bem o tempo, o planejamento é essencial para equilibrar as demandas do trabalho e o cuidado com os filhos durante as férias. Estabelecer horários claros para o trabalho e para a convivência familiar pode ajudar a criar uma rotina que atenda a ambas as necessidades. Aproveitar momentos livres, como noites e fins de semana, para atividades de qualidade em família também é importante. Além disso, compartilhar responsabilidades com outros cuidadores ou familiares pode aliviar a carga e garantir atenção às crianças.
O DIA: A colônia de férias é sempre uma boa opção?
Claudia Melo: A colônia de férias pode sim ser uma opção interessante ou não, depende muito desse perfil da criança, de como está a questão financeira da família, se essa criança gosta desse contexto, não dá para pegar de repente essa criança que nunca socializou, que não interage com outras crianças e de repente levar para a colônia de férias. Provavelmente, será um momento extremamente difícil, doloroso, desconfortável, justamente porque ela não aprendeu a se socializar. Às vezes os pais protegem demais a criança e percebem que essa criança não está conseguindo criar vínculos, fazer amizades, conversar, brincar e, assim, tomam a decisão de levar para uma colônia de férias.
Pode acontecer da criança socializar, brincar, fazer amigos, conversar, mas não é tão simples assim. Então, a colônia de férias é importante quando essa criança quer estar nesse lugar. Acho que quando a criança entende o que é uma colônia de férias, quando essa criança escolhe também estar ali. Porque, às vezes, a criança deseja passar o tempo com os pais. Às vezes, os pais querem outra situação para a criança, que ela está buscando algo mais simples, mais intimista, mais próximo, que não tem nada a ver com esse distanciamento, ou estar alguns dias longe, ou algumas horas longe, em outros lugares. Sempre coloco o diálogo e o afeto nessa comunicação, para ser transparente, ser clara, e que não deixe nenhuma dúvida ali para a criança, nenhum sentimento de insegurança, medo ou abandono.
Diana Quintella: Sim, as colônias de férias podem ser uma excelente alternativa, especialmente quando organizadas por instituições de confiança e com atividades que estimulem o aprendizado e a socialização. Essas experiências ajudam a ocupar o tempo das crianças de maneira produtiva, permitindo que elas desenvolvam habilidades e se divirtam em um ambiente seguro. No entanto, é importante que os pais avaliem as necessidades e interesses dos filhos antes de optar por essa alternativa.
O DIA: E o limite com o uso do celular durante as férias. Como os pais lidam com a constância dos filhos nas redes sociais?
Claudia Melo: Quando a gente pensa sobre esses limites de celular nas férias, claro que é uma grande ilusão ou, às vezes, uma fantasia, acreditar que nas férias essa criança vai conseguir deixar esse celular de lado porque está nas férias e os pais estão pedindo. Não, pois se essa criança tem um hábito, se a rotina dela é muito ligada ao celular, se é uma criança que não interage com outras crianças, não tem um tempo de conversas, brincadeiras, diálogo com esses pais, essa criança vai estar condicionada a usar o celular. Se a criança fica sem o celular e não tem nenhum benefício, nada acontece quando ela não está usando esse aparelho, ela não consegue entender que sem o celular ela ganha muita coisa, sem o celular ela consegue ter esses pais por perto, sem o celular ela brinca, conversa, conhece lugares diferentes ou para para assistir um desenho com esses pais, ou brinca, faz jogos, pintura, enfim. É restringir, mas dá essa outra opção, é mostrar que é legal fazer isso em outros momentos.
Diana Quintella: Estabelecer limites claros para o uso de telas é fundamental, em especial durante as férias, que o tempo se torna mais ocioso. Os pais devem criar um equilíbrio entre o tempo de uso de telas e outras atividades, como brincadeiras ao ar livre, leitura ou jogos em família. Incentivar conversas sobre o uso consciente das redes sociais e o impacto do tempo excessivo no bem-estar das crianças é essencial. Ser um exemplo no uso de dispositivos também contribui para um comportamento equilibrado.
O DIA: Para as mães solos é mais difícil fazer a adequação de férias com o trabalho?
Claudia Melo: Sim, para a mãe sozinha é muito mais difícil fazer essa organização, até porque ela quer estar ali organizando toda essa rotina da vida dela, da vida desse filho. Ela acaba acumulando múltiplas responsabilidades e aí fica um pouco mais delicado organizar essas férias ou assumir isso de uma forma mais simplificada. Então a rede de apoio é importante porque ela vai ter que administrar isso e entender que as férias você não programa de um dia para a noite. Você precisa entender que tem um tempo para você ir vendo qual o melhor lugar, quanto tem disponível de dinheiro para investir nessas férias, quanto tempo pode ficar fora do trabalho, o que pode fazer. Precisa ser organizado, não dá para gente de repente criar um momento e acreditar que aquilo vai sair do jeito que deseja. As coisas saem do jeito que a gente espera quando a gente planeja para isso, quando a gente se organiza para isso, quando a gente vê quais são os pontos críticos que precisa ajustar, a quem pedir suporte.
É sempre importante antecipar esse momento de organização para quando chegar próximo essa pessoa estar realmente inteira para viver essa experiência, porque senão vai ser desconfortável, preocupante, porque você vai gastar aquilo que você não estava planejado, você vai contar com pessoas que não vão conseguir renunciar às férias ou do tempo que elas também têm disponível para te dar um suporte. Acho que a comunicação, a transparência, a organização para a mãe solo são fundamentais. Então fica muito mais delicado, porque como essa responsabilidade cai sobre ela, ela vai precisar realmente ter muito cuidado nessas decisões, para essa decisão não trazer para ela algo negativo, que é uma memória ruim dessas férias ou uma preocupação.
Diana Quintella: Sim, para mães solos, conciliar as férias dos filhos com as demandas do trabalho pode ser um desafio maior devido à ausência de uma divisão imediata de responsabilidades. Estratégias como contar com a rede de apoio, organizar atividades externas para as crianças e flexibilizar horários no trabalho, quando possível, podem ajudar a minimizar esse impacto. Além disso, buscar colônias de férias ou outras opções seguras de lazer para os filhos é uma solução prática.
O DIA: Muitos pais torcem para que as férias dos seus filhos acabem logo, o que às vezes pode causar tristeza nos pequenos. Como fica o psicológico das crianças nesse caso?
Claudia Melo: Vejo que quando esses pais torcem para essas férias acabarem, eles estão dizendo muito mais dessa relação que eles têm com esses filhos anterior a essas férias, do que exatamente dessas férias, desse tempo que eles estão disponíveis com essas crianças. Costumo olhar primeiro essa relação. Não acreditar que, de repente, chegou as férias vai ficar tudo bem, de repente você vai começar a amar esse filho, esse filho vai amar essa mãe, que os dois vão ter uma interação, um diálogo e uma aproximação incrível porque chegaram as férias.
Esse mal-estar, esse desejo que essas férias acabem, fala muito dessa relação desses pais, fala muito desses acúmulos, fala muito desses pais exaustos que não foram se organizando ao longo do tempo, falam muito desses pais que também não colocam limites, que falam, olha, calma aí, esse tempo é meu. Esse tempo aqui é seu, essas férias não estão completamente disponíveis todos os dias e horários para você. Eu também tenho o meu momento de descanso e de lazer. É conseguir, dentro desse tempo, também se organizar para esse descanso. Porque senão os pais ficam exaustos.
Esse não fazer nada é importantíssimo também para essa criatividade, para esse descanso mental, motor, e olhar para uma criança que não se sente desejada, não se sente amparada, não se sente importante, é delicado, porque essa guarda esses ressentimentos, e elas vão criando um distanciamento dentro dessa relação, porque ela às vezes sente esse sentimento de abandono.
Diana Quintella: As crianças são sensíveis às atitudes e sentimentos dos pais. Quando percebem impaciência ou desânimo em relação às férias, podem interpretar isso como rejeição, o que pode gerar tristeza ou insegurança. É importante que os pais expressem entusiasmo e valorizem os momentos juntos, mesmo que enfrentem dificuldades em conciliar as responsabilidades. Isso reforça a autoestima das crianças e contribui para um ambiente emocional mais saudável.
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