Projeto NegroMuro homenageia a escritora Conceição Evaristo no RioArmando Paiva/Agência O Dia
O pesquisador e produtor Pedro Rajão conta que a homenagem é um sonho antigo. O desejo surgiu depois que Rajão entrevistou a escritora na casa da autora, no Morro da Conceição, em 2022. Na época, o pesquisador pediu a autorização para que o projeto pudesse representá-la. Desde então, ele e o artista Cazé avaliavam onde retratar a personalidade.
"O nosso projeto é focado na relação do personagem com o território. Desde que eu saí da casa dela, no Morro da Conceição - e esse nome não tem como ser uma coincidência -, ela me autorizou, assim como a proprietária do imóvel, a fazer o muro. Mas, a gente sempre se perguntou se pintá-la na própria casa poderia trazer algum tipo de exposição ou se seria melhor fazer a homenagem na Pequena África", explica.
Até que surgiu o convite do projeto Rua Walls para que a dupla fizesse um mural no Largo São Francisco da Prainha. "É um dos lugares mais importantes para a história da diáspora africana no Rio. Muitos personagens seriam possíveis ali. Mas a Conceição Evaristo é uma escritora, estamos no ano em que o Rio foi escolhido como Capital Mundial do Livro e, além disso, ela acabou de abrir a Casa Escrevivência, a metros de distância do muro", conclui Rajão, citando o espaço cultural que abriga o acervo da autora no Beco João Inácio, 4.
"A gente teve a sorte de pintar algumas figuras vivas que puderam sugerir imagens e fotos para compor os murais: Elza Soares [1930-2022], Zezé Motta, Paulinho da Viola, Alcione", exemplifica. "Conceição sugeriu os livros que deveriam constar na obra. As imagens de Oxum e de Nossa Senhora são reais, da mesa de cabeceira dela, assim como a foto da filha e da mãe e o próprio posicionamento em que estão no mural", revela Rajão.
O produtor acrescenta que a proposta era de que Conceição Evaristo figurasse nessa obra como uma guardiã daquele território. "Geralmente, a gente faz uma composição de vários símbolos em torno do homenageado. Mas eu queria que a imagem tivesse bastante impacto, que ela estivesse como uma grande guardiã daquele largo", explica.
O projeto também optou por retratar a escritora em seu momento atual de vida. "A Conceição está vivíssima, sendo premiada agora. Seu último livro, 'Macabéa: Flor de Mulungu', está referenciado nas flores vermelhas à direita no mural. Queremos lembrar que as pessoas têm que ser homenageadas em vida, e que a gente aprecie o que está sendo produzido agora", completa.
O mural de Conceição Evaristo é o de número 66 do NegroMuro, levado à frente pelo muralista Cazé e por Pedro Rajão. A obra contou com a assistência dos artistas Cesar Mendes, João Gilberto Bira e Leandro Ice. O painel está entre os maiores do projeto, junto com as homenagens a Ruth de Souza, no Theatro Municipal, a Machado de Assis, na Academia Brasileira de Letras, e aos técnicos de laboratório negros da Fiocruz, em Manguinhos.
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