José e Lucenir foram denunciados por racismo na 9ª DP (Catete)Reprodução

Rio - Um grupo de quatro atrizes denunciou um caso de racismo que aconteceu na noite de domingo (26), em um prédio no Flamengo, Zona Sul do Rio. Elas contam que estavam fumando em uma área aberta do edifício quando José João de Arruda, chefe dos porteiros, começou a reclamar da fumaça e afirmou que o local estava "virando uma favela", e chamando-as de "faveladas".
Após os insultos, uma das artistas passou a filmar a situação. No vídeo, a mulher do funcionário, Lucenir Miranda de Arruda, aparece reafirmando: "virou favela sim, senhora".
O caso aconteceu com as atrizes Anastácia Lia, Roberta Gomes, Negravat e Daniela Dejesus, que estão hospedadas no prédio durante a temporada de apresentação do musical "Martinho: Coração de Rei", em homenagem ao sambista Martinho da Vila. A peça está em cartaz de quinta a domingo, no Teatro Riachuelo, no Centro. Elas registraram a ocorrência na 9ª DP (Catete), que investiga a situação como injúria racial. Em nota, a Polícia Civil informou que os envolvidos e testemunhas estão sendo chamados para prestar depoimento.
Ao DIA, Anastácia contou que duas atrizes do grupo queriam fumar, então as quatro desceram para uma área comum aberta do edifício. Nesse momento, José teria abordado as mulheres de maneira agressiva, dizendo que elas deveriam procurar outro lugar para fumar. Conforme a artista, todas estão há mais de 20 dias no apartamento e nunca receberam reclamações ou avisos sobre proibição de fumar no local. O chefe dos porteiros estava de férias e voltou no dia anterior ao caso, sem ter contato com elas anteriormente.
"Descemos para a área externa, porque tem as normas dos apartamentos: não fumamos lá dentro porque outras pessoas não fumam. José começou a nos ofender e falou que quem estava fumando deveria ir para a rua. A Andressa, que é branca, estava com a gente e disse que estava fumando no mesmo lugar, pouco tempo antes, e o porteiro não disse nada. Não tinha placa, não consta nada no regimento do condomínio. Foi quando a Negravat escutou ele falando que o prédio estava virando uma favela e nos chamando de faveladas", contou Anastácia. 
Após os insultos, uma das atrizes começou a filmar a situação. No vídeo, João nega ter falado mas, em certo momento, a mulher dele aparece falando: "virou favela sim, senhora". Em seguida, as artistas acionaram a polícia.
"A gente se sente em uma missão antropológica. A gente vem para o Rio de Janeiro, uma cidade que sempre nos acolhe de forma especial, reverenciar Martinho da Vila, ícone que é uma referência para todas nós. Martinho é um dos grandes embaixadores da Angola no Brasil, estamos no palco falando sobre ancestralidade, nossas tradições, nosso país e a gente se depara com uma situação dessas. Não é nada que vá nos frear, que nós faça dar algum passo para trás", lamentou Anastácia, que é maranhense.
Em nota, a Fato, responsável pela produção do evento, se solidarizou com as atrizes e manifestou repúdio contra as atitudes denunciadas.
"Uma atitude covarde e repugnante, que nos atinge a todos. Nossas áreas de produção e jurídico já tomaram medidas cabíveis e seguem prestando apoio às atrizes e se mantém disponível a quem mais necessitar, para que seja feita justiça com a devida punição aos criminosos", comunicou a empresa.