Danielle Barros, secretária de estado de CulturaDivulgação/Rogerio Santana

Rio - Mais antiga secretária da gestão Cláudio Castro, Danielle Barros, titular da Cultura e Economia Criativa, cumpre a missão que recebeu do governador: descentralizar os recursos e fazer o dinheiro chegar na ponta, em projetos culturais em todo território fluminense. Desde então, foram realizados investimentos em áreas como leitura e conhecimento, música, teatro, festas e valorização da identidade do povo fluminense nos 92 municípios. Esta democratização avança colecionando recordes, como os R$ 230 milhões inéditos aplicados em Cultura a partir da Lei de Incentivo estadual.
Segundo a secretária, “cultura não é despesa e não é desperdício, é investimento”. “Trabalhamos com o conceito de que a cultura é um direito de todos. Estamos promovendo a nossa identidade, as nossas crenças, a nossa veia cultura e focados no desenvolvimento, na geração de emprego, renda e crescimento econômico. E aqui no RJ, cultura é pra geral”!, define Danielle Barros.
O DIA - Ao fazer um balanço de sua atuação à frente da Cultura e Economia Criativa do Estado, qual seria a marca de sua administração?
DANIELLE BARROS - Quando chegamos, havia uma concentração gigantesca de recursos que eram do fomento indireto, que é a lei do ICMS, concentrados na capital do Estado, que é uma cidade muito potente. Mas nós somos uma Secretaria de Estado e que precisa democratizar, desconcentrar para fazer o recurso chegar nas 92 cidades, fomentando suas tradições, seus movimentos culturais, enfim, seus costumes que também precisam ser valorizados. Nossos números mostram recordes em vários segmentos, principalmente nos investimentos via Lei de Incentivo, pelo Governo do Estado. Em 2019 eram R$ 100 milhões de investimento por meio da lei de incentivo: 96% dos projetos eram realizados na capital e somente 4% no interior, divisão que viola uma questão legal. Existe uma lei que rege a cultura, que aponta para a necessidade do fomento ser destinado 60% ao interior e 40% para a capital, o que temos seguido rigorosamente nos últimos anos.
Então, uma das marcas da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa é a interiorização da cultura?
Nas primeiras conversas com o governador Cláudio Castro ele falou: “nós somos os guardiões desta lei e a gente precisa fazer esse recurso chegar no interior do estado”. Primeiro, porque é uma obrigação legal e, segundo, porque existe uma obrigação moral com isso. Precisamos olhar para o cidadão respeitando as suas potencialidades e as suas tradições. Comemoramos a marca, de 2024, quando investimos R$ 230 milhões executados via Lei de Incentivo pela renúncia fiscal do ICMS. Hoje, podemos afirmar que todas as regiões têm eventos, festas e atividades culturais acontecendo. Ampliamos o leque de marcas que apoiam a cultura a partir da lei, criamos a Escola da Cultura e capacitamos pequenos produtores para que pudessem ter os seus projetos também patrocinados e promovemos uma desconcentração dos recursos da cultura. Nossa marca é esse olhar mais municipalista, que promove todos os lugares.
Quais ações culturais, na sua avaliação, foram revigoradas, ou até mesmo, ressuscitadas, pelo apoio do estado?
Temos diversos exemplos, como as feiras literárias, que agora são realizadas em todas as regiões. Temos um projeto lindo chamado “Energia para Ler”, em que os nossos meninos das escolas públicas ganham os livros, com enredos apresentados por artistas locais. Também a “Liga do Natal”, que percorre as cidades com desfiles, encontros de audiovisual, de expressão teatral e oficinas de artesanato, entre outras. Hoje a gente promove o Festival de Jazz, em Rio das Ostras, que é um dos festivais de jazz mais importantes desse circuito, não só do Estado do Rio, mas da América Latina; incentivamos a Festa do Tomate, que é o nosso Rock em Rio do interior; enfim, patrocinamos os mais diversos movimentos culturais que recebem a assinatura do estado e que acontecem em todos os territórios.
A sua gestão levou cinemas para cidades do interior, como o Cine Miracema. Há planos de inaugurar novas salas em 2025?
Essa gestão levou cinema para as cidades. Construímos e abrimos salas nas cidades por todo o estado com o projeto Cine Mais. E o Cine Miracema é um outro projeto, que é um sucesso. Este é um movimento para modernizar as cidades com novos equipamentos, salas de cinema e de arte. E o retorno é maravilhoso: ouvir de muitos cidadãos fluminenses que foram ao cinema pela primeira vez ou que, finalmente, tiveram oportunidade de assistir a um filme sentado numa salinha de cinema, com pipoca quentinha e refrigerante gelado. As salas têm bomboniére. Isso é corriqueiro para quem mora na capital. No interior é um grande fato.
Depois do Cine Miracema, quais serão as próximas?
Existem salas que têm um grande potencial comercial, mas nós não estamos construindo somente espaços deste segmento. Têm também salas multiuso que permitem que meninos e meninas do interior possam ocupar estes equipamentos não só para assistir um filme, mas para fazer ali teatro, roda de capoeira, ensaio de coral e para fazer cursos. As salas também cumprem esse papel. Miracema é um cinema comercial e a cidade está vibrando, até porque atende toda a região, gera empregos e renda. Vamos ter, igual a essa, uma em São Pedro da Aldeia. Teremos ainda em Cordeiro, Mendes e São Fidélis, além da reforma de uma sala em Bom Jardim. Os processos já estão em curso e os recursos já estão na conta. Até o final de 2025, vamos entregar mais três salas de cinema. Até final de 2026, outras três, fechando a gestão com 14 salas entregues no estado.
O Estado vem investindo verba também em grandes eventos, como no Show da Madonna, mas segue tentando negociar dívidas. Existe um questionamento, apontando como desperdício destinar tanto recurso para um show. Como a senhora defende esse gasto?
Constitucionalmente, todo cidadão tem direito à cultura. Ainda assim, há aquele olhar de estranhamento para esse direito, parece que a cultura é somente para quem tem um determinado privilégio econômico. Mas, no Estado do Rio, trabalhamos com uma máxima: “Cultura não é despesa e não é desperdício, é investimento”. Esse conceito é ratificado por um estudo que contratamos da Fundação Getúlio Vargas, que acompanhou o aporte feito por nós por meio da Lei Paulo Gustavo, um fomento direto no setor audiovisual, que incluiu as outras linguagens. Se verificou, com pesquisa, que todo R$ 1 investido em cultura traz de retorno aos cofres públicos mais de R$ 6,50. Então, os números falam por si e, reforço, que a nossa pasta promove um RJ de oportunidades, com geração de renda e de emprego.
Em 2024, o Estado investiu R$ 70 milhões na reforma de 16 equipamentos culturais, entre eles o Museu Antônio Parreiras, que ficou fechado por mais de 10 anos e acabou de ser reaberto. Quais outros equipamentos receberam este investimento?
No dia 27, o Teatro Gláucio Gil foi devolvido ao público e está lindo, modernizado, preparado para acolher bem os artistas e o público. A exemplo do Teatro Gláucio Gil, temos as nossas outras casas, a Sala Cecília Meirelles passou por revitalização. Teatro João Caetano recebeu um grande investimento numa reforma total da sua parte elétrica. Também recuperamos toda a tapeçaria, cadeiras e agora estamos reformando a cortina do palco e trocando todas as varas cênicas, que são históricas, do Theatro Municipal. É o nosso palco mais emblemático, merece sempre um olhar especial. Nós lustramos essa joia, cuidando desses detalhes que vão oferecer ao público uma experiência ainda mais incrível e transformadora.
Mas e os teatros em comunidades e espaços em outras áreas do Rio?
Cuidamos dos nossos teatros da comunidade. Nosso teatro da Vila Kennedy, de Campo Grande, de Marechal Hermes, estão todos reformados, permitindo que as pessoas que estão longe do centro da cidade, também possam ter ali, vivenciar ali, as suas experiências culturais. A nossa casa Euclides da Cunha, que estava fechada lá em Cantagalo, foi reaberta depois de 12 anos. E não podemos esquecer do Museu Antônio Parreiras, aquele patrimônio histórico lindo recém-inaugurado. Estamos fazendo um retrofit nas bibliotecas Parques, que são as nossas bibliotecas da comunidade, Manguinhos e Rocinha, e a do Centro, que está sendo pintada, modernizada e vai ficar ainda mais linda.
Madonna, Rock In Rio, Réveillon...Megaeventos movimentam a economia, trazendo turistas para o Rio e levam para fora do Brasil a imagem do Rio. Como o estado pensa em atuar para beneficiar outras regiões fluminense com megaeventos?
O Estado já tem feito isso. Já temos alguns megaeventos no interior, respeitando exatamente o porte e a tradição da cidade. Acabamos de fazer um megaevento em Cabo Frio, o Cabofolia, que foi um evento patrocinado pela Lei de Incentivo. A F.L.I.P. é um megaevento de literatura, que também conta com apoio do Estado. A Festa do Tomate é um grande evento de Paty de Alferes, a festa agropecuária de Cordeiro, é um grande evento da região serrana. E todos esses eventos têm o investimento do estado. E, quando não é possível fazer na cidade, temos um programa que se chama Passaporte Cultural, é quando trazemos nossos meninos para participar de eventos na capital.
Está chegando o Carnaval. E como a Secretaria de Estado de Cultura pretende colocar o bloco do Estado na rua?
O Carnaval da Cidade do Rio de Janeiro é o movimento mais importante de cultura popular e da economia criativa. Quando olhamos para aquele desfile, que apresenta um mapa da criatividade que fala tanto da nossa gente, do nosso povo, quando olhamos ali o trabalho de um artesão, de um figurinista, de um cenógrafo, de uma costureira, o trabalho corporal das próprias passistas, das dançarinas. É um desfile de criatividade. Temos um Carnaval potente na capital, e temos um Carnaval potente no interior. Existem milhares de pessoas que trabalham para aquele desfile acontecer e ser o espetáculo mais incrível da Terra.
Como o estado apoia o Carnaval do interior?
Para nós, do Estado do Rio de Janeiro, o Carnaval começa na Folia de Reis. Nós fomentamos 180 folias, permitindo que pudessem ser apoiadas com valor de R$ 25 mil, para que elas pudessem trocar os seus instrumentos, construir seus estandartes, mudar o seu fundamento. Fomentamos também uma cultura tradicional, que é a cultura dos bate-bolas. Nós fomentamos os blocos de rua e nós fomentamos o Carnaval, que é das diversas ligas e também o da Sapucaí. Os fazedores de cultura encontram apoio nas políticas estaduais de cultura. Até a roda de samba a gente fomenta. Então, existem editais, exatamente, convocatórias para atender toda essa cadeia cultural, que é uma cadeia também econômica, e na Sapucaí a gente chega com muita potência, porque nós temos esse ano o maior investimento de todos os anos.
E sobre dinheiro para investir nas atividades tradicionais da cultura fluminense?
Temos muito orgulho, não só de fomentar o Carnaval, mas de fomentar também as nossas festas tradicionais. Os arraiás são um exemplo disso. Nós ressuscitamos o movimento junino no estado. Esse movimento estava morrendo, estava sendo sepultado. E quando resolvemos investir mais de R$ 6 milhões nessa tradição, valorizamos uma cultura que é do nosso povo. Somos um estado multicultural, então valorizamos essa tradição e tem sido um grande sucesso.