Carretéis de linha chilena apreendidos pelo Comando de Polícia AmbientalDivulgação / Arquivo / Polícia Civil

Rio - O pintor Jorge Luiz da Silva, de 38 anos, morreu ao ser atingido no pescoço por uma linha chilena enquanto passava de moto pela Via Light, em Nilópolis, no domingo (3). O caso reacendeu o alerta das autoridades para o material, que é proibido pelo Governo do Estado desde 2019. Apenas este ano, hospitais da rede municipal já atenderam a 54 casos relacionados às linhas cortantes de pipas.
O secretário de Saúde Daniel Soranz diz que, nos últimos 10 anos, a cidade tem uma média de 70 acidentes por ano, o que corresponde a quase seis casos por mês. Em 2023, período com maior número de ocorrências, foram atendidas 92 vítimas. Ele ressalta que a linha chilena tem um potencial de corte superior ao de facas e navalhas.
"Ela é feita para ter uma capacidade de cortar muito alta e, quando entra em contato com a pele, os cortes geralmente são muito profundos, causam muito sangramento e muitas vezes levam ao óbito. É uma situação muito crítica, não é algo novo na cidade. Temos uma média de 70 casos por ano nos últimos 10 anos. Em 2023, foi ano que tivemos o maior número de casos. É uma preocupação intensa e ela se mantém, porque essa linha de corte ainda é muito utilizada", disse Soranz.
A linha chilena é produzida com uma mistura de óxido de alumínio e pó de quartzo, diferente da linha com cerol, que também é proibida, feita com cola e vidro moído. Como é industrializada, a primeira se popularizou por facilitar o manuseio e dar mais praticidade aos pipeiros. Apesar do perigo, basta poucos cliques para o interessado comprar o produto pela internet.
Por meio de nota, a Polícia Civil ressalta que a proibição abrange a comercialização, o uso, o porte e a posse da substância constituída de vidro moído e cola, além da linha encerada com quartzo moído, algodão e óxido de alumínio, e de qualquer produto utilizado na prática de soltar pipas que possua elementos cortantes.
"O combate a esse tipo de crime é realizado por meio da Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA) e de unidades distritais, que investigam a comercialização e o uso de linha chilena no estado. A instituição realiza ações constantes para identificar toda a cadeia criminosa – dos usuários às fábricas clandestinas – e responsabilizar os envolvidos", informa um trecho do comunicado.
O número de vítimas atendidas pela rede estadual de saúde é menor em relação às unidades geridas pelo município. No Hospital Alberto Torres, em São Gonçalo, três pessoas foram socorridas por ferimentos relacionados às pipas. No Hospital Estadual Roberto Chabo, em Araruama, houve outros três atendimentos. O subsecretário de Atenção à Saúde, Caio Souza, destaca que o material pode ferir não só quem é atingido, mas também as pessoas que manuseiam a linha.
"A linha chilena é um perigo tanto para quem usa quanto para quem cruza o caminho dela. Por ser feita com materiais altamente cortantes, ela pode causar lesões profundas, amputações e até mortes. Quem ainda faz uso dessas linhas corre risco de lacerações sérias e danos a nervos e tendões com um enrosco nos dedos ou nos braços. Motociclistas podem ter lesões graves e até morrer, como aconteceu no último fim de semana. Nossas unidades recebem pacientes graves, vítimas dessa irresponsabilidade. É importante que as pessoas entendam que isso não é uma brincadeira inofensiva", ressaltou.
Jorge Luiz estava acompanhado da mulher no momento do acidente. O casal estava voltando para casa após assistir ao campeonato de futebol do filho de 8 anos, que estava logo atrás em outro veículo e também presenciou a cena. Durante o sepultamento, Jaqueline contou que o marido era uma pai carinhoso.
"O Jorge era uma pessoa boa, amada… Dá para ver pelo tanto de pessoas no enterro. Era um paizão, sonhava em ver o filho na carreira do futebol. Bom esposo, vai deixar muita saudade. Quero pedir por justiça", desabafou.
Em maio, o motociclista Auriel Missael Henriques, de 41 anos, morreu ao ser atingido por uma linha chilena enquanto trafegava na Linha Vermelha, altura de Duque de Caxias. Ele estava com sua mulher na garupa da moto e chegou a ser socorrido por um motorista que passava pelo local, mas não resistiu aos ferimentos.
Nas redes sociais, Mickaelly Almeida, filha da vítima lamentou a perda do pai. "Você se foi e deixou um vazio enorme em nossos corações, que a justiça de Deus seja feita", escreveu. "Não sei o que vou fazer da minha vida sem você", concluiu.