Estátua ficava em uma gruta no Parque Garota de Ipanema, no ArpoadorReprodução / Redes Sociais

Rio - A estátua da Santa Sara Kali, padroeira dos povos ciganos, foi destruída, na última sexta-feira (29), no santuário montado em uma gruta, no Parque Garota de Ipanema, no Arpoador, na Zona Sul. Representantes da etnia denunciam ato de vandalismo.
Imagens que circulam nas redes sociais mostram a estátua quebrada em diversas partes e espalhada pelo chão do templo. No local, há uma placa da Prefeitura do Rio sinalizando que o espaço integra o Circuito da Diversidade Religiosa.
A advogada Lhuba Batuli, filha da cigana Mirian Stanescon Batuli, fundadora do memorial, informou, através das redes sociais, que autoridades estão em busca do responsável pelo crime.
"Estão todos em conjunto agindo para identificar aqueles que quebraram a Santa. Intolerantes não serão tolerados. Nós vamos até o fim e em breve a gente vai refazer a Santa. O templo continua, só a Santa que nós retiramos e vamos restaurá-la", comunicou.
A Gruta de Santa Sara Kali, no Arpoador, é o primeiro templo montado em homenagem à Santa na América Latina e o segundo construído no mundo inteiro, ficando atrás apenas de um monumento na França. Esse local é, para milhares de fiéis e famílias ciganas, um espaço de fé, resistência, acolhimento e memória.
A data da Santa Padroeira dos Ciganos, 24 de maio, é comemorada na gruta desde 1998. Em 2003, Sara Kali foi assentada, definitivamente na espaço, pela Secretaria das Culturas da Prefeitura do Rio. Posteriormente, o Estado reconheceu o templo como Patrimônio Histórico-Cultural, fazendo parte do Roteiro de Turismo Religioso.
Segundo a Prefeitura do Rio, o crime aconteceu durante a madrugada e a estátua foi recolhida e levada para restauração. A Secretaria Municipal de Conservação e Serviços Públicos informou que o orçamento anual de manutenção de monumentos é R$ 2 milhões e que 40% desse valor, em média, é destinado para reparos de peças vandalizadas.
Sacerdotisa pede apuração
A sacerdotisa Katja Bastos, presidente nacional da Capelania Inter-Religiosa da Ordem dos Capelães do Brasil (OCB) e conselheira da Secretaria Municipal da Diversidade Religiosa para a Etnia Cigana, pediu a devida apuração do caso.
"O ataque à imagem de Santa Sara Kali não é apenas uma agressão a um objeto religioso: é uma afronta à identidade cigana, à nossa cultura, à pluralidade religiosa e ao direito de praticarmos livremente nossa fé. Precisamos de investigação imediata, rigorosa e transparente por parte das autoridades competentes, com apuração dos fatos e responsabilização dos autores na forma da lei", disse.
Bastos repudiou o caso, tratado como um "ato de vandalismo, preconceito e intolerância religiosa." Para a sacerdotisa, autoridades, instituições civis, líderes religiosos e a sociedade em geral devem ser unir para a defesa da liberdade religiosa e do respeito às diferenças.
"Reafirmamos nosso compromisso com o diálogo inter-religioso, com construção de pontes de compreensão e com a denúncia veemente de qualquer ato que negue direitos ou menospreze vidas e histórias. Coloco-me à disposição para contribuir nas iniciativas de proteção, reparação e diálogo necessárias neste momento. Não aceitaremos que atos de ódio destruam o que alimenta nossa esperança. Santa Sara Kali é símbolo de resistência e consolo. Defender sua memória é defender a dignidade de nosso povo", completou.
Questionada, a Polícia Civil informou que não houve registro de ocorrência sobre o vandalismo na delegacia da região.