Nelson Pereira dos Santos fundou o curso em 1968 - Reprodução de vídeo
Nelson Pereira dos Santos fundou o curso em 1968Reprodução de vídeo
Por O Dia

Hoje, às 20h30, o Congresso Forcine 2020 realiza a Cerimônia de reconhecimento do Curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal Fluminense como Patrimônio Cultural da cidade de Niterói-RJ. O curso foi criado em 1968 por Nelson Pereira dos Santos (1928-2018), que voltava de uma experiência acadêmica frustrada na Universidade de Brasília, mas que encontrou abrigo na Universidade Federal Fluminense, em Niterói. Lá, o cineasta colocou em prática suas ideias de criação de uma escola nos moldes que sonhava, graças à disponibilização de uma sala de exibição do antigo Cassino Icaraí.

Em torno dessa sala se articulou o Setor de Arte Cinematográfica e dali surgiu o Instituto de Arte e Comunicação Social, congregando a comunicação social propriamente dita (com suas habilitações Cinema, Publicidade e Jornalismo) e os cursos de Biblioteconomia e Documentação. Naquele momento só existia a Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, criada em 1966, e assim, pouco a pouco, o ensino de cinema foi se firmando nessas duas escolas.

Desde 1992, Cinema e Vídeo passou a ser um departamento do Instituto. Com o currículo totalmente reformulado em 2005, foi finalmente criado o Curso de Cinema e Audiovisual em 2007. Essa transformação em curso, com coordenação própria, num processo de distanciamento do currículo da comunicação social e consequente autonomia gestado no decorrer de quase quarenta anos de existência, favoreceu a criação em 2012 da primeira Licenciatura em Cinema e Audiovisual no país.

O fortalecimento da área e o crescimento da produção acadêmica do corpo docente permitiu ainda criar o curso de Pós Graduação em 2017, nos níveis de mestrado e doutorado. A Cerimônia terá João Luiz Leocadio como mediador, além das presenças do Reitor da UFF, Antonio Claudio Lucas da Nóbrega, de um representante da Prefeitura, do vereador e responsável pelo projeto de Lei Leonardo Giordano, além do secretário de cultura da cidade, Victor Wolf e Presidente da Fundação de Arte de Niterói/RJ (FAN) André Diniz.

O título representa o reconhecimento de um trabalho multidisciplinar. "Professores, alunos e servidores públicos sempre estiveram empenhados na formação, na difusão de um cinema de qualidade e identificado com as questões sociais e culturais do país. Este reconhecimento é extensivo a várias gerações comprometidas com um ideal que começou há mais de 50 anos. Consideramos que o título não deixa de ser uma premiação para todas as escolas de cinema do Brasil. Na contramão do desmonte da cultura que sofremos, as escolas de cinema estão vivas e pulsantes querendo dar continuidade a esta história”, declarou Elliane Ivo, professora do Departamento de Cinema e Vídeo da UFF.

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Com o currículo reformulado, foi criado o Curso de Cinema e Audiovisual em 2007. A transformação em curso, com coordenação própria, em um processo de distanciamento do currículo da comunicação social, favoreceu a criação, em 2012, da primeira Licenciatura em Cinema e Audiovisual no país. O fortalecimento da área e o crescimento da produção acadêmica do corpo docente permitiu ainda criar o curso de Pós-Graduação, em 2017, nos níveis de mestrado e doutorado.
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“No mundo de hoje, onde tudo é audiovisual, não se pode desvincular o conhecimento das imagens em movimento. É preciso se pensar o mundo a partir desta produção imagética. O curso de cinema da UFF é um pequeno laboratório de como o audiovisual tem sua potência criativa e econômica movimentando de uma maneira significativa o município de Niterói. As imagens produzidas por nossos estudantes desbravam o mundo participando de festivais internacionais e levando longe o nome da cidade e do Brasil”, continua a docente.
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Quando entrou na UFF, em 1987, a ex-aluna Rosane Svartman, de 51 anos, tinha o sonho de contar histórias por meio do audiovisual. Mesmo após o fim do curso, em 1991, ela continua ligada aos colegas de classe, com quem realiza projetos até hoje. “A universidade me ajudou formar uma rede de apoio e afeto em torno de projetos audiovisuais. É uma turma com quem trabalho até hoje.” Rosane reforça a importância do incentivo à valorização do cinema nacional.
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“Acho que o cinema e a cultura precisam ser valorizados porque são a expressão de quem somos. A cultura nos revela como país e nos faz refletir sobre o mundo. O cinema é a visão prismática, sempre em construção, do Brasil. O sucateamento do cinema acarreta uma perda tremenda nesse sentido. (O título) é um reconhecimento pelo desafio bem sucedido que o curso de Cinema, um dos primeiros do Brasil, empreendeu ao longo dos anos.”
 
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A faculdade de cinema da UFF é uma referência nacional. Foi a primeira faculdade de cinema que teve pessoas importantes a frente dela, como Nelson Pereira dos Santos, que foi homenageado no auditório que a gente fez no Centro Petrobrás de Cinema. Então eu fico muito feliz que ela possa ser homenageada e virar patrimônio de Niterói. Vida longa a faculdade de cinema. Vida longa aos atores, diretores, produtores e roteiristas que a faculdade forma. Muito feliz que a Faculdade da minha querida UFF possa receber essa homenagem.”
 
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Não consigo imaginar minha vida sem o período em que atravessava diariamente a
Baia da Guanabara na velha Cantareira para assistir as aulas no curso de cinema da
UFF, onde me formei, nos anos 80. Foi uma experiência definitiva. Sou muito grato
pelas coisas que aprendi com grandes professores como João Luiz Vieira, do Tunico
Amancio, do Antonio Serra, do Zé Joffily -de quem virei posteriormente roteirista de
quase todos os seus longas-, do Zé Marinho, do querido Sergio Santeiro, e dos já
falecidos Antonio Carlos Abreu, Zeca Nobre Porto e, claro, do mestre de todos nós,
Nelson Pereira dos Santos. Aprendi mais do que a fazer filmes, videos. O Curso de
Cinema da UFF me fez entender esses filmes, esses vídeos, como uma tentativa de
criar uma representação visual de nosso país e de nossa gente. Um espelho de nós
mesmos. É preciso lembrar sempre que o curso de cinema da UFF foi, nos anos tristes
do governo Collor, quando o cinema brasileiro foi praticamente extinto, um dos polos
de resistência, produzindo curtas metragens que mantiveram viva a esperança de
tempos melhores. No momento em que o audiovisual brasileiro, como toda a
atividade cultural, artística e intelectual em nosso país, é vitima de um processo
criminoso de desmonte criminoso por parte de um governo insensível e hostil,
homenagear o curso de cinema da UFF é fundamental. É reconhecer a importância do
cinema, da arte, do conhecimento, da cultura e da educação, sem os quais estamos
condenados à uma permanente precariedade como sociedade, como povo, como
nação.

O evento faz parte da grade de programação do Congresso Forcine 2020 que acontecerá de maneira virtual entre os dias 23 e 26. Informações e inscrições podem ser feitas pelo site: http://www.forcine.org.br/site/congressos/vinteanos/

 

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