Expectativa é de que a área cultivada de abacaxi na região norte do estado do Rio chegue a quase 12 mil hectares Foto Divulgação

São Francisco/Região – O Rio de Janeiro ocupa posição de destaque no ranking de produtores de abacaxi, em nível nacional. O estado está entre os quatro maiores, tendo em São Francisco de Itabapoana, Campos dos Goytacazes, Quissamã e São João da Barra, juntos, um dos maiores territórios contínuos de produção do Brasil. A área cultivada no estado pode chegar a quase 12 mil hectares.
O quadro promissor foi realçado em debates sobre produtividade, novas variedades, desafios e os avanços para a criação da Indicação Geográfica (IG) do produto da região norte do estado na programação que marcou o Dia D do Abacaxi, sábado (30), em São Francisco do Itabapoana, na localidade de Imburi, reunindo produtores, técnicos e pesquisadores.
Realizado pela Associação dos Produtores de Abacaxi do estado (Apra-Rio), focada na cadeia produtiva da fruta no norte fluminense, a iniciativa contou com apoio da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-Rio), Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) e Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Foi detalhado que o IG exige padrões técnicos, rastreabilidade e decisões coletivas.
O professor Paulo César Santos, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), iniciou seus estudos sobre a cultura no norte fluminense há dez anos, pela Uenf. Ele explica que “Abacaxi do Norte Fluminense” é um selo que garante qualidade, autenticidade e origem da fruta produzida no território: “A iniciativa fortalece o produtor, reforça o vínculo cultural da atividade e reconhece a tradição da região na produção do abacaxi”.
Paulo César ratifica defende a padronização dos processos e a necessidade de dados atualizados, ratificando que a construção da IG depende de uma leitura precisa da realidade produtiva: “Os dados oficiais muitas vezes não refletem o campo. Se considerarmos perdas de até 50% por doenças, não podemos trabalhar com médias desatualizadas de 20 mil frutos por hectare”.
GUARDIÃO DA MARCA - Segundo o professor, já há produtores superando 30 mil: “O IG precisa se apoiar em números reais para fortalecer a identidade territorial. A associação (Apra-RJ) será a guardiã da marca. A IG envolve custos, normas e escolhas estratégicas que só fazem sentido quando tomadas de forma conjunta. Um produtor isolado não tem a mesma força que um CNPJ organizado”.
Pesquisadores envolvidos nas avaliações apontam que, além dos ganhos produtivos e econômicos, a IG amplia o potencial do turismo de experiência, agregando valor ao território. Existe consenso de que com o selo, propriedades poderão promover vivências de colheita, degustações, visitas guiadas e roteiros gastronômicos ligados ao abacaxi. Passam a ser atrativos turísticos a paisagem agrícola, as histórias de família e o modo tradicional de plantar.
Outra constatação é a ampliação de oportunidades para agricultores familiares, mulheres rurais e jovens que desejam permanecer na atividade. Na opinião do presidente da Apra-Rio, Heraldo Meirelles, a produção de abacaxi vive um momento de crescimento: “Vivemos um momento único. Duas variedades já foram lançadas e outras estão prestes a chegar ao produtor”.
Heraldo assinala que são plantas mais resistentes, que ajudam a enfrentar doenças como a fusariose e garantem mais produtividade: “O objetivo é oferecer um abacaxi que atenda a diferentes públicos, mais doce, mais ácido ou mais firme”. A importância do atendimento técnico é enfatizada pelo presidente.
FORTALECIMENTO - “Quem trabalha no campo segue orientação séria; produzo orgânico por estratégia de mercado, não por acreditar que o convencional faz mal. O que precisamos é de um manejo correto e informação qualificada”, resume Heraldo. Também, pesquisadores da Uenf e da Embrapa destacam o avanço da produtividade com o uso de variedades mais resistentes, manejo nutricional adequado e técnicas de adensamento.
Todos consideram que esses fatores elevam o percentual de frutas de primeira, refletindo diretamente na rentabilidade do produtor. Para Nivaldo Macedo, da Embrapa, a união dos produtores em São Francisco é animadora: “A associação fortalece o trabalho das mulheres, cria oportunidades para os jovens e amplia o acesso a recursos”.
Nivaldo entende que onde há renda, o agricultor permanece e prospera. Ele foi um dos primeiros a adotar a variedade Imperial no município, tem quase 20 anos de experiência e acredita que a associação pode trazer muitos benefícios para os produtores de abacaxi: “Hoje, aqui na propriedade a expectativa é colher até 33 mil frutos por hectare. Há alguns anos a realidade era outra”.
O produtor compara que o abacaxi passou por períodos difíceis; mas, a partir de 2015, ganhou força, o consumo aumentou e o manejo ficou mais técnico: “É uma atividade que agrega valor e recompensa quem sabe conduzir bem”. A conclusão é de que o norte fluminense consolida o abacaxi como uma das culturas mais estratégicas e promissoras da fruticultura brasileira.