Rio - Nos últimos quatro anos houve uma mudança no perfil das empresas financiadas por capital de risco no país, com uma transição de modelos de negócio já testados e aprovados no exterior para projetos que misturam adaptação e inovação. A constatação de Andrew Tsao — diretor executivo do Silicon Valley Bank (SVB) — indica o porquê de a instituição financeira americana ter escolhido o Brasil como um de seus principais mercados de interesse fora dos Estados Unidos, nos últimos dois anos.
“Em 2010, 2011 havia muito mais clones de negócios sendo financiados”, afirma Tsao, na capital fluminense para participar do Rio Conferences, encontro para promoção de investimentos no estado. “A lógica era clara: vocês tinham características demográficas muito favoráveis, um elevado uso da internet. Por que não diminuir o risco financiando um modelo de negócios que deu certo em outro lugar?”. Estimulado a citar um caso bem-sucedido de empresa brasileira baseada na internet, Tsao não pensa duas vezes: “A Netshoes é um bom exemplo de uma companhia de comércio eletrônico que ganhou uma dimensão interessante”, avalia o executivo, referindo-se à varejista online de artigos esportivos.
Outros casos listados por Tsao são o portal de imóveis VivaReal e a Conta Azul, empresa que oferece um sistema de gestão online para micro e pequenas empresas, ambas apoiadas pelo SVB. Embora seja uma empresa de software de gestão, a Conta Azul vai contra o modelo de negócios tradicional, oferecendo serviços financeiros e contábeis online em vez de simplesmente vender seus produtos. “Se você reparar no tipo de companhias que estão sendo financiadas hoje no mercado brasileiro, geralmente não são clones. Há muito mais ênfase em software B2B (business-to-business) e tecnologia voltada para a indústria financeira. Definitivamente houve uma mudança”, sustenta Tsao, responsável pelo Portal Global do SVB, canal voltado para apoiar companhias inovadoras em países emergentes a expandirem seus negócios para os Estados Unidos e outros mercados estrangeiros.
Com 28 escritórios espalhados pelos Estados Unidos e filiais no Reino Unido, em Israel, na Índia e na China, o banco concentra atualmente 90% dos seu portfólio de empréstimos em companhias americanas. Mas desde o início de 2012, quando houve a primeira visita ao Brasil, o interesse do SVB cresceu, diz Tsao, que destaca também o potencial de Rússia, Turquia e Austrália. “O negócio do venture capital (capital de risco) está se globalizando muito rapidamente”, frisa o diretor executivo. Ainda não existe uma decisão tomada de abrir escritório do banco no país, mas Tsao destaca que historicamente a economia brasileira tem apresentado forte crescimento. “Houve uma desaceleração mas para o nível dos Estados Unidos, o que não é tão ruim”, ressalta. O ambiente macroeconômico é, naturalmente, relevante mas está longe de ser o único fator a ditar os investimentos do SVB no Brasil, uma vez que o país ainda sofre com ineficiências que — na visão de Tsao — representam oportunidades tremendas de crescimento. “Apesar de o PIB (brasileiro)crescer a uma taxa de 2%, essas companhias podem crescer 10%, 20%, 30% ao ano sem problema.”
Com ativos totais de US$ 29 bilhões, o Silicon Valley Bank tinha 10% do seu portfólio de financiamentos concentrado em start-ups ao fim do primeiro trimestre deste ano. Os 90% restantes haviam sido destinados a companhias de maior porte. A instituição financeira também tem forte atuação entre empresas financiadas por capital de risco que optam por entrar no mercado de ações. De acordo com dados do SVB, 64% dessas companhias que realizaram IPO (sigla em inglês para oferta inicial de ações) em 2013 eram clientes do banco.