Por douglas.nunes

Após se formar em economia e administração pela Universidade de São Paulo (USP), Pérsis Duaik começou a construir uma carreira promissora, com passagens por empresas como JP Morgan, Schering Plough e Red Bull. Em 2011, no entanto, ele decidiu seguir um novo caminho. Ao lado do irmão, designer digital, o economista fundou a Duaik Entretenimento, estúdio independente de desenvolvimento de games. A visão e o conhecimento adquirido por seu fundador na academia e na vida profissional são algumas das principais armas da empresa para consolidar sua atuação em um mercado ainda nascente no Brasil.

“Começamos de forma muito amadora e erramos muito nesses primeiros três anos”, diz Duaik, diretor administrativo da companhia que leva o seu sobrenome. “A produção de um jogo em si não tem segredo. Mas a escolha do modelo de negócios mais apropriado e rentável em um mercado que tem ciclos longos de desenvolvimento exige muito cuidado. Nosso principal desafio agora é adquirir maturidade na gestão”, observa.

Longe de ser um caso isolado, o exemplo da Duaik Entretenimento ilustra bem o momento vivido pelos estúdios independentes brasileiros, que ocupam uma área específica na Brasil Game Show, um dos principais eventos do setor e que está sendo realizado nesta semana em São Paulo. Depois de investirem no desenvolvimento de suas primeiras produções, essas empresas estão profissionalizando a gestão e migrando para uma visão mais voltada aos negócios. Com mais de 180 empresas de toda a cadeia do setor, a Brasil Game Show é um ponto de encontro para que essas companhias troquem experiências, divulguem suas ofertas e, principalmente, busquem parcerias para escalarem definitivamente suas operações.

Com capital próprio, a Duaik desenvolveu o jogo “Aritana e a Pena da Harpia”, para PCs. Lançado oficialmente em abril deste ano, o game está disponível nas lojas de varejistas como Fnac e Saraiva e já alcançou a marca de 13 mil cópias vendidas. A grande plataforma de distribuição, no entanto, são os serviços de jogos on-line, como o americano Steam. A partir desse cartão de visitas, a ideia agora da Duaik é costurar acordos com publishers internacionais para impulsionar os investimentos em marketing e definir uma estratégia mais ampla e efetiva de distribuição. Em outra ponta, a empresa está investindo na migração do game para os consoles da Microsoft e da Sony. “O Brasil já é o terceiro mercado mundial de jogos e essas empresas estão muito interessadas em investir no país”, afirma Duaik.

Criado em janeiro, o Garage 227 Studios também está seguindo uma trilha semelhante. Fundado com capital próprio por três sócios que já atuavam como freelancers no setor, o estúdio tem no jogo para PCs “Shiny”, com recursos em 3D, sua primeira aposta comercial. Ainda em desenvolvimento, o game também está disponível no Steam, desde junho. “Escolhemos essa plataforma para testar a viabilidade do projeto. À medida que desenvolvemos, conseguimos ter um retorno dos usuários e, ao mesmo tempo, entender qual é o nosso potencial de mercado para desenvolver um plano de negócios em cima desses dados”, diz Daniel Monastero, formado em advocacia e agora cofundador e executivo-chefe da empresa.

Os próximos passos da companhia envolvem a busca de parceiros para lançar a versão final do game, prevista para o primeiro semestre de 2015. Versões para os consoles PlayStation e Xbox também estão no radar, bem como o desenvolvimento de novas produções para dispositivos móveis e PCs. Como apoio para esses projetos, a empresa também está investindo na oferta de serviços para terceiros, o que inclui a gestão, concepção e toda a produção de projetos de games para marcas e anunciantes, vertente conhecida como advergames.

Criada por ex-alunos da Universidade de Brasília (UNB), a Fira Soft começou sua trajetória há três anos, justamente com projetos para empresas como Banco do Brasil e Schincariol. Em 2013, a empresa fechou uma parceria com a Maurício de Sousa Produções, para o desenvolvimento de jogos baseados no personagem Cebolinha. No início desse ano, o estúdio começou a investir também em jogos próprios.

Com games para dispositivos móveis já disponíveis em lojas de aplicativos, a Fira Soft busca agora parceiros para injetar recursos e encurtar o desenvolvimento de produções para diversas plataformas, como por exemplo, o game “Kriophobia”, cuja versão final está prevista para chegar ao mercado em 2015. Além dos publishers internacionais, uma das frentes de atenção é a entrada nos consoles da Microsoft e da Sony. “Essas empresas estão começando a enxergar que vale mais investir US$ 1 milhão em dez projetos de pequenos desenvolvedores do que US$ 10 milhões em uma produção de um grande estúdio”, diz João Bosco, diretor comercial da Fira Soft. “O tempo de produção é menor e, muitas vezes, o faturamento supera o do modelo tradicional. O mercado está aberto e é um ótimo momento para ser um produtor independente”, acrescenta Bosco.

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