São Paulo - “A McAfee não é mais uma empresa de antivírus”. A princípio, a frase de Todd Gebhart, vice-presidente do Conselho de Administração da McAfee — empresa que se consolidou como um dos principais símbolos do mercado global de segurança da informação — pode assustar aos mais desavisados. No entanto, essas palavras dão uma pista do caminho que está sendo traçado pela companhia para construir uma nova etapa de sua história. “A indústria de segurança está mudando drasticamente. Hoje, são 2 bilhões de dispositivos conectados no mundo e até 2020 serão mais de 50 bilhões. Temos que investir em novas frentes e ir além para proteger esse cenário. Nosso foco é a segurança total, de ponta a ponta”, afirma o executivo.
A estratégia da McAfee para alcançar esse novo patamar envolve uma série de ações que vem despertando a atenção no ainda fragmentado mercado global de segurança. Um dos marcos dessa empreitada aconteceu em agosto de 2010, quando a empresa foi adquirida pela Intel, em um acordo de US$ 7,7 bilhões.
Com a aquisição, diz Gebhart, o principal ganho para a McAfee foi o reforço dos investimentos em inovação e em recursos para construir uma oferta mais abrangente de segurança. “Antes, como uma companhia aberta, tínhamos obrigações com nossos acionistas e nem sempre era possível tomar decisões de longo prazo”, explica.
Mesmo sem esses limites, uma decisão recente atraiu uma série de questionamentos. A Intel anunciou a reunião de seus negócios de segurança sob a marca Intel Security, com o abandono gradual da marca McAfee, que, a princípio, continuará presente por meio do seu logotipo, um ícone no setor.
Para muitos analistas, que destacaram os impactos negativos da iniciativa, a estratégia teve como real objetivo afastar possíveis associações da marca com o fundador da McAfee, John McAfee. Após deixar a empresa, o polêmico executivo se envolveu em problemas com a Justiça, o que incluiu uma fuga cinematográfica de meses, após um suposto envolvimento com o assassinato de um vizinho, em Belize. Hoje, John McAfee é também é um dos mais ferozes críticos dos softwares de segurança da empresa que criou. Recentemente, ele publicou um vídeo irônico dizendo não saber o que fazer para desinstalar os softwares da companhia.
À parte de possíveis polêmicas, Gebhart diz que a estratégia de cobranding trará benefícios mútuos. “A Intel é uma das marcas mais reconhecidas em todo o mundo. Ao mesmo tempo, a McAfee tem uma marca muito forte no mercado de segurança”, observa.
A estratégia não está restrita à marca. O trabalho em conjunto com os times da Intel — especialmente na criação de soluções que integrem os chips da companhia, os equipamentos de parceiros e os recursos de segurança da McAfee — é mais um pilar. “Já lançamos diversas tecnologias diferenciadas a partir dessa colaboração e vamos continuar a reforçar essa integração, sob o ponto de vista de planejamento e de engenharia”, afirma.
Os riscos crescentes associados a um mundo cada vez mais conectado, por meio de múltiplas telas, e tendências como a internet das coisas são alguns dos fatores que estão guiando o desenvolvimento de novas soluções. Nesse contexto, diz Gebhart, o modelo tradicional de senhas já não é suficiente para reduzir as vulnerabilidades dos usuários. “Ninguém consegue guardar tantas senhas. É preciso proteger não mais os dispositivos, mas toda a vida digital do usuário”, explica.
Na prática, a aplicação desse conceito envolve tecnologias que protejam a identidade e o acesso dos usuários aos dispositivos. Nessa frente, a companhia traz para o mercado brasileiro na próxima semana uma solução recente do seu portfólio, que combina recursos de biometria facial e de voz para reduzir as brechas de acesso não indevido a qualquer equipamento.
A onipresença da internet, a variedade de dispositivos e as ameaças inerentes a esse cenário ajudam a explicar a aquisição da McAfee pela Intel. Com a segurança sendo um fator cada vez mais crítico, a compra da McAfee era uma chave para que a Intel aprimorasse sua oferta e abrisse novas vias de crescimento, especialmente no que diz respeito aos dispositivos móveis, um segmento no qual a empresa ainda não conseguiu repetir o domínio que exercia nos PCs.
Como parte dos esforços nessa seara, a McAfee está apostando na oferta gratuita de aplicativos de segurança. “Temos muita oportunidades de rentabilizar essas ofertas”, diz Gebhart. “A partir do momento em que o usuário tem acesso a recursos sofisticados de proteção em um dispositivo, ele pode querer estender essa segurança para outros equipamentos”, afirma.