Por monica.lima

São Paulo - Nos últimos anos, o segmento de impressão 3D se consolidou como uma das meninas dos olhos de analistas e investidores, sob a perspectiva de ser o motor de uma nova revolução industrial. Um dos principais nomes desse mercado, a americana Stratasys já traçou o caminho para transformar essa promessa em realidade. A disseminação do uso da tecnologia e a especialização para atender novos mercados são as pontas da estratégia da empresa para alcançar uma receita de US$ 3 bilhões em 2020. E o Brasil está incluído nessa trajetória.

“O mercado global quadruplicou nos últimos dois anos e a previsão é que ele dobre de tamanho nos próximos cinco. Já estamos vivendo uma nova revolução industrial e, hoje, qualquer empresa e usuário já podem se beneficiar dessa tecnologia”, diz Renata Sollero, gerente de território e principal executiva da Stratasys no Brasil. “Temos expectativa de números bem agressivos para o Brasil em 2015. O país ainda está aquém em volume de adoção, mas no mesmo patamar de mercados mais maduros no que diz respeito ao desenvolvimento de aplicações mais sofisticadas”, observa.

Segundo a consultoria Gartner, a projeção é de que o mercado global de impressoras 3D alcance um volume de 217,3 mil unidades neste ano, ante 108,1 mil unidades em 2014. Para 2018, a previsão é de que o segmento supere a marca de 2,3 milhões de unidades vendidas. Aparentemente modestos, os números relativos a 2015 ganham nova dimensão à medida em que se constata que os equipamentos mais sofisticados — dentro do segmento classificado como industrial — podem chegar a um preço de US$ 400 mil. Em 2013, o preço médio das impressoras comercializadas foi de US$ 70 mil, de acordo com dados divulgados pela consultoria americana Wohlers Associates.

A executiva da Stratasys ressalta alguns movimentos que ajudam a explicar o avanço desse conceito no mercado. Um dos fatores, diz ela, é o crescimento das chamadas impressoras pessoais, especialmente em países como a China e o próprio Brasil. Nos moldes do segmento, essa categoria inclui equipamentos com preços de até US$ 5 mil. Entre 2010 e 2013, a comercialização dessas máquinas registrou um crescimento global de 163%, segundo a Wohlers Associates. Em 2013, 72,3 mil impressoras desse porte foram vendidas em todo o mundo.

Com uma oferta antes concentrada no segmento de impressoras 3D com aplicação industrial, a Stratasys marcou sua entrada nas impressoras de pequeno porte com a compra, em 2013, da MakerBot, principal fabricante deste mercado, em um acordo de US$ 604 milhões. “A aquisição foi um gatilho para muitas mudanças na Stratasys. Essa categoria está ajudando a eliminar barreiras para a impressão 3D. Hoje, por exemplo, já existem muitas pessoas e pequenos bureaus que estão oferecendo serviços para que qualquer usuário imprima projetos customizados a partir dessas máquinas. Isso ajuda a disseminar a tecnologia”, afirma Renata. “Ao mesmo tempo, abre oportunidades para que a Stratasys explore mercados como a oferta desses equipamentos para departamentos de uma empresa, nos quais as demandas de trabalho não justificariam a compra de uma máquina de maior porte”, explica.

Ainda sob a ótica de ampliar o alcance e de divulgar a impressão 3D, Renata destaca que a aquisição trouxe como benefício uma comunidade virtual da MakerBot, batizada de ThingVerse, na qual os usuários têm acesso a arquivos em 3D que podem ser copiados, modificados e adaptados a suas necessidades. No Brasil, a Stratasys já conta com um distribuidor exclusivo para os produtos dessa linha e está iniciando conversações para a venda dos equipamentos no varejo.

Com uma atuação já mais consolidada em segmentos como odontologia, saúde e aeroespacial, e na adoção dos equipamentos para o desenvolvimento de protótipos — o universo vasto inclui tênis, ferramentas, capacetes e toda a sorte de design de produtos —, um dos focos da Stratasys no Brasil é ampliar o número de projetos de manufatura aumentada. Essa ponta inclui projetos diretamente relacionados aos processos de fabricação e às máquinas industriais das empresas. Uma das aplicações seria a impressão de um determinado componente na linha de produção que, comparada a métodos tradicionais — como por exemplo, a usinagem —, permite entregar soluções mais adaptadas à realidade daquela companhia, em menor tempo e com menor custo.

Para levar essa oferta ao mercado, o discurso da Stratasys está em linha com o atual cenário econômico do Brasil. Entre as indústrias, a princípio, mais aderentes a essa proposta, Renata destaca segmentos como o setor automotivo, no qual, a empresa já está desenvolvendo projetos-piloto sob essa visão. “Nos Estados Unidos, as empresas estão conseguindo reduzir seus custos entre 40% e 90% com essas aplicações”, diz.

O uso da impressão 3D no design e na manufatura direta de produtos é mais um mercado em potencial no país. Por trás dessa perspectiva, Renata cita os investimentos massivos que vêm sendo realizados nessas vertentes pelas empresas chinesas. “Com essas tecnologias, eles estão acelerando o lançamento de produtos, com menor custo. Quando se pensa na dificuldade que a indústria brasileira já possui para competir com o mercado chinês, a tendência é que esta distância aumente”, afirma.

Nesse contexto, o plano da Stratasys para o segmento industrial passa por investir em uma estrutura comercial com uma abordagem mais segmentada, como forma de entender e atender melhor às especificidades de cada indústria.

Outra aquisição recente da companhia, a compra da SolidConcepts também terá reflexos na estratégia para o Brasil. A empresa em questão começou a montar sua operação local em 2014 e lançará neste ano um grande bureau de serviços de impressão no país, que incluirá toda a linha de máquinas da Stratasys. Para Renata, o principal benefício do acordo é a possibilidade de vendas cruzadas, a partir de uma estratégia comercial integrada. De um lado, a SolidConcepts poderá indicar empresas cujo nível de uso dos serviços já comporta a compra de um equipamento. Ao mesmo tempo, diz ela, é comum a Stratasys atender a clientes nos quais uma determinada impressora da empresa atende a 80% da demanda. “Como os outros 20% não justificariam a compra de um equipamento, podemos complementar essa oferta com os serviços da SolidConcepts.”

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