Por monica.lima

São Paulo - Ao propor um modelo de consumo baseado no uso, em detrimento da posse, as americanas Uber e Airbnb colocaram a economia compartilhada sob os holofotes de usuários e investidores. Em contrapartida, as duas companhias despertaram a ira de segmentos tradicionais com a mesma velocidade que atingiram valores estratosféricos de mercado. À parte das cifras bilionárias e das disputas jurídicas em todo o mundo, um universo vasto de negócios ganha corpo a cada dia. E em diferentes estágios de amadurecimento, o Brasil começa a produzir exemplos que prometem contribuir na consolidação desse novo conceito.

“O principal mote da economia compartilhada é o fato de que todos ganham com esse modelo”, diz Pedro Meduna, cofundador e executivo-chefe da Tripda, plataforma on-line de compartilhamento de caronas. O serviço une motoristas com lugares disponíveis em seus automóveis a pessoas com trajetos similares, e que buscam um meio mais confortável e barato de transporte. “Além do compartilhamento de custos, esse modelo traz benefícios como a redução do tráfego e da poluição” afirma.

No ar desde maio de 2014, a plataforma já está em 13 países, com 150 mil usuários ativos. Em número de viagens, o serviço cresce a um ritmo de 100% a cada mês. Após receber um aporte inicial da Rocket Internet e investir em aquisições de duas rivais no Brasil, a Tripda anunciou em janeiro uma nova rodada de investimentos — de R$ 11 milhões — liderada pelo fundo alemão e que contou ainda com a participação de um fundo de private equity de Nova York.

Com os recursos, a prioridade é buscar a casa de milhões de usuários. A geração de receitas ainda não é o foco da empresa e de seus investidores. No entanto, entre os possíveis modelos, Meduna cita a cobrança de taxas para usuários, as parcerias com empresas em setores como seguros e a venda de publicidade na plataforma.

Criada na incubadora da Poli/USP e no mercado desde 2012, a CompartiBike aposta em diversas fontes de receitas. A empresa tem duas linhas de negócios: o compartilhamento de bicicletas — inclusive elétricas — e a instalação e gestão de terminais para que usuários estacionem suas próprias “bikes”. Em grande parte dos casos, os projetos são viabilizados por parcerias, especialmente com prefeituras. Os usuários só pagam uma taxa após um período determinado de uso, que varia de uma a duas horas. A venda de patrocínio e de mídia nas bicicletas, nos totens instalados nos estacionamentos e no site do serviço são outras alternativas.

Após priorizar projetos na área pública, a CompartiBike mira agora em novas parcerias para subsidiar essas iniciativas. “Estamos entrando no mercado corporativo e em condomínios empresariais, incorporadoras e hotéis, especialmente em regiões nas quais existe uma alta demanda por pequenos deslocamentos para reuniões e visitas a clientes”, diz Pedro Monteiro, sócio-diretor da empresa. Hoje, a companhia já tem projetos em diversas regiões do Brasil em parceria com empresas e organizações como Duke Energy, Supervia, Fundação Toyota, Itaú e Unimed.

Em negociações com fundos para uma rodada de investimentos, o plano da CompartiBike para 2015 é expandir sua presença em São Paulo e no Rio de Janeiro, mercados considerados mais aderentes à proposta da empresa. “São Paulo perde anualmente R$ 33,5 bilhões em produtividade por conta do trânsito. A bicicleta é um meio ideal para complementar o sistema de transportes, especialmente na última milha”, diz Monteiro.

Estatísticas de peso também estão por trás da proposta da ezPark, plataforma de compartilhamento de vagas de estacionamento. “Hoje, 30% do trânsito em São Paulo é gerado por pessoas procurando um lugar para estacionar”, diz Luiz Candreva, fundador da companhia, que começou a operar efetivamente no início desse ano. “Escassez de vagas e altos preços nos estacionamentos são gargalos comuns em diversas cidades.”

No modelo da ezPark, pessoas físicas e varejistas com vagas desocupadas em determinados horários — podem oferecer o “aluguel” desses espaços, seja por algumas horas ou dias da semana. O serviço cobra uma taxa de 30% sobre cada transação. O usuário, por sua vez, consegue buscar ou mesmo reservar pelo aplicativo uma vaga disponível em um horário e região específica. Os pagamentos são realizados por meio da própria plataforma.

Conceitos inerentes a essa tendência, o compartilhamento de custos e de ativos subutilizados também está no cerne da proposta da Pegcar, cujo projeto ainda está em fase de gestação. Com previsão de chegar ao mercado no início do segundo semestre, a start-up desenhou um modelo pelo qual qualquer pessoa pode alugar seu carro a outros usuários interessados em um veículo naquela localidade e intervalo de tempo, que pode variar de uma hora a períodos mais extensos, de acordo com a disponibilidade. “Muitas vezes, a pessoa se desloca para o trabalho e o seu carro fica parado o dia inteiro num estacionamento. A ideia é oferecer uma forma de rentabilizar esse ativo e, ao mesmo tempo, dar uma opção para quem não possui e precisa de um veículo”, diz Bruno Hacad, cofundador do Pegcar. A Pegcar negocia com uma operadora um seguro específico para a cobertura de incidentes.

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