Por monica.lima

Com o crescimento exponencial de dispositivos móveis nas mãos dos consumidores, o Brasil já é um dos palcos importantes na guerra global de fabricantes e de sistemas operacionais de smartphones. Agora, o país entra definitivamente em outra disputa que começa a ganhar — literalmente — maior dimensão em mercados maduros: as telas e sistemas operacionais das Smart TVs. O novo componente que promete aquecer de vez essa batalha foi anunciado ontem. A Sony lança em julho sua nova linha de TVs conectadas no Brasil. Todos os modelos serão baseados no Android TV, sistema operacional do Google desenvolvido especificamente para a categoria. A fabricante japonesa é a primeira empresa a trazer a plataforma para o mercado brasileiro.

De um lado, o anúncio marca um importante passo local do Google nessa nova frente de batalha. Para a Sony, os lançamentos reforçam a estratégia da companhia para ganhar tração no mercado premium — seu foco de atuação global — e traduzem uma abordagem diferenciada na comparação com rivais como as sul-coreanas LG e Samsung, que vêm investindo em sistemas operacionais próprios para as suas TVs. A LG já oferece no Brasil modelos equipados com o sistema WebOS, enquanto a Samsung anunciou no início do ano que todas a sua linha de Smart TVs em 2015 será baseada no sistema Tizen, que está sendo desenvolvido internamente pela companhia.

“Escolhemos seguir esse caminho porque entendemos que era mais viável unir nosso conhecimento em hardware com um software que já domina o mercado de smartphones e começa a ser adotado também em outras telas. O Android tem grande aceitação entre usuários e desenvolvedores e nossa ideia é replicar essa experiência nas TVs, especialmente com recursos avançados e a simplificação na navegação, por meio de uma interface já bem conhecida”, afirmou Marcelo Gonçalves, gerente de comunicação e marketing da Sony no Brasil.

Segundo dados da consultoria GfK, a categoria de Smart TVs representou 36% das vendas totais de TVs no mercado brasileiro no primeiro trimestre. Em 2014, esse índice foi de 30%. Apesar do crescimento, o país ainda está abaixo da participação em mercados maduros, como os Estados Unidos, onde essa fatia é de 50%. No entanto, destacou Gonçalves, as TVs conectadas já representam 70% das vendas no Brasil nas TVs com telas acima de 50 polegadas, segmento no qual a Sony concentra seus esforços.

Para ganhar participação no topo da pirâmide, a nova linha da Sony inclui sete modelos, sendo quatro deles com a tecnologia 4K e os três restantes Full HD. As telas variam de 49 polegadas a 75 polegadas, e a faixa de preço está entre R$ 4.999 e R$ 17.999. Entre outras características, as TVs trazem recursos como buscas por voz, controle remoto com touchpad, sistema de recomendação de conteúdo de acordo com o perfil do usuário e a possibilidade de espelhar com apenas um toque qualquer conteúdo de dispositivos móveis na tela da TV. Ao mesmo tempo, o usuário consegue, por exemplo, acessar um game ou mesmo assistir a um vídeo do ponto em que parou em outro dispositivo, bem como utilizar o próprio controle ou outro joystick compatível para jogar os títulos disponíveis para Android.

De acordo com Gonçalves, os lançamentos contrariam os rumores de que a Sony estaria planejando a separação de sua área de TVs em uma operação independente. Essa possibilidade foi levantada por analistas em fevereiro, quando Kazuo Hirai, executivo-chefe da companhia, anunciou um novo plano de reestruturação da empresa. “Esses rumores foram fruto de uma interpretação equivocada. Prova disso é o fato de que já estamos discutindo as tecnologias e novidades da linha para 2016. Hoje, 80% do nosso line-up em TVs já é baseado na Android TV”, disse.

Apresentada em outubro, durante a Google I/O, conferência anual de desenvolvedores do Google, em San Francisco (EUA), a plataforma Android TV integra a estratégia da empresa para repetir seu sucesso nos sistemas operacionais em uma gama mais ampla de dispositivos conectados à internet, das Smart TVs aos carros e vestíveis. No caso das TVs, além da Sony, o Google já possui acordos globais com a Sharp e a TPV Technology, dona da divisão de TVs da Philips.

Para o brasileiro Fausto Aguiar, gerente de produto Android TV, a companhia traz alguns fatores que podem fazer a diferença na disputa dos sistemas operacionais das Smart TVs, especialmente no que diz respeito às fabricantes que avaliam desenvolver esse recurso internamente. “É muito mais fácil adotar uma plataforma aberta, conhecida, do que investir tempo e recursos em engenharia, desenvolvimento e atração de desenvolvedores de aplicativos”, afirmou. Segundo o executivo, uma das principais críticas na época do lançamento da Android TV — o número limitado de aplicativos — já está sendo superada. “Hoje, já temos mais de 600 aplicativos disponíveis globalmente. No Brasil, são 120 aplicativos locais”, disse.

No país, o trabalho do Google para atrair o desenvolvimento de aplicativos para essa plataforma começa a entrar no radar. “Ao contrário dos EUA, aqui, nosso maior foco é ajudar os desenvolvedores a criar bons aplicativos e experiências para smartphones, segmento que ainda tem muito a ser explorado no país”, disse Regina Chamma, líder de Google Play da companhia para a AL. “Vamos começar a dedicar parte desse esforço para os aplicativos de Smart TVs e também para vestíveis, onde já começamos a enxergar algumas boas iniciativas locais”, observou.

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